Investimentos

Lojas Renner (LREN3) entrega performance fraca no 1T23; próximos trimestres devem continuar desafiadores

Lucro líquido da Renner despenca 76% na comparação anual. Cenário macro, competição e deterioração das condições de crédito indicam horizonte difícil

Por Larissa Quaresma, CFA

04 maio 2023, 11:38 - atualizado em 04 maio 2023, 11:38

Renner LREN3
Imagem: Divulgação/Renner

A Lojas Renner (LREN3) divulgou ontem (3) seus números referentes ao 1T23. A varejista entregou uma performance fraca neste início de ano e abaixo das nossas expectativas, seguindo a tendência apresentada no trimestre anterior. 

A receita líquida de varejo atingiu R$ 2,8 bilhões no trimestre, alta de apenas 2% na comparação anual. Essa pequena alta é ainda mais preocupante quando consideramos que 17 novas lojas foram abertas nos últimos 12 meses, o que deveria trazer um incremento importante de faturamento para a companhia.

O indicador de vendas em mesmas lojas (SSS) ficou estável em 1% em relação ao 1T22.

Segundo a companhia, o desempenho das vendas foi impactado pelo cenário macroeconômico ainda desafiador, que carrega uma importante pressão inflacionária e endividamento das famílias em patamar recorde.

No micro, as temperaturas médias acima do esperado pela companhia no período atrapalharam as vendas da coleção outono-inverno, que já estava disponível nas lojas no mês de março. Ainda, a Renner reduziu sua coleção de transição após as vendas fracas no 4T22, não conseguindo atender a demanda por peças de verão no período.

Veja os números do 1T23

A margem bruta da divisão de varejo perdeu 1,0 ponto percentual em relação ao 1T22, fechando o trimestre em 54,1%. A pressão é decorrente dos maiores níveis de promocionamento no período, como tentativa de compensar a perda de volume.

Além disso, as vendas mais fracas das peças de outono-inverno, que possuem margens maiores, também influenciaram no resultado negativo. O patamar de margem bruta segue abaixo do pré-pandemia, quando a companhia registrou 55,3% no 1T19.

Em função da menor alavancagem operacional e piora na margem bruta, o Ebitda ajustado da operação de varejo apresentou queda anual de 12%, totalizando R$ 262 milhões, e margem Ebitda ajustada de 11,5% (-1,9 p.p vs 1T22). 

A Realize, divisão de serviços de financeiros da companhia, também entregou um resultado aquém do esperado, com um Ebitda negativo de -R$ 10 milhões no período.

A carteira total de crédito avançou 25% na comparação anual e as maiores provisões para inadimplência seguiram deteriorando o resultado, implicando em um percentual de 5,6% de perdas líquidas na carteira total (+1,1 pontos percentuais vs 4T22). 

No consolidado, o Ebitda total ajustado da companhia no 1T23 foi de R$ 252 milhões, número 34% inferior ao mesmo período em 2022, e margem Ebitda de 11,1% (-6,1 p.p vs 1T22).

O lucro líquido, em função da fraca performance operacional e piora significativa no resultado financeiro, caiu 76% na comparação anual, totalizando R$ 47 milhões no 1T23. 

Empiricus Research tem recomendação neutra para LREN3

Por fim, mantemos nossa visão do último trimestre. Os próximos trimestres deverão continuar desafiadores para a companhia e seus pares voltados para a média renda, em função do cenário macroeconômico e da competição das varejistas chinesas.

Além disso, com a deterioração das condições de crédito, a Realize também deve seguir enfrentando dificuldades no curto prazo.

Apesar do momento operacional ruim e horizonte difícil, seguimos com recomendação neutra para Lojas Renner (LREN3), ponderada pela forte queda de suas ações no último ano (-24%).

Atualmente, a companhia negocia a 11 vezes lucros para 2023, 53% abaixo da sua média histórica dos últimos 5 anos. Continuamos acompanhando a tese de perto, revisando constantemente nossas premissas dado o cenário econômico incerto. 

Sobre o autor

Larissa Quaresma, CFA

Analista de ações há 10 anos, é responsável pela série As Melhores Ações da Bolsa e pela carteira mensal Empiricus 10 Ideias, além de integrar a equipe da Carteira Empiricus, o portfólio multimercado da casa. Ao longo da carreira, teve passagens pela Núcleo Capital, tradicional fundo de ações brasileiro, e pelo Credit Suisse. Administradora formada pelo Ibmec-MG, aluna visitante da Stanford University e com certificações CFA, CNPI e CGA.