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M. Dias Branco (MDIA3): veja por que o resultado do 3T22 justificou a tese short na ação

MDIA3 apresenta dificuldade de conquistar mercado e contínua queda de margem bruta; veja a análise de Fernando Ferrer

Por Fernando Ferrer

23 nov 2022, 17:31 - atualizado em 23 nov 2022, 17:31

M. Dias Branco (MDIA3)
Imagem: Divulgação/M. Dias Branco

A M. Dias Branco (MDIA3) divulgou seus números referentes ao segundo trimestre do ano no dia 11, e os números vieram abaixo das nossas expectativas.

Como sempre pontuamos, o posicionamento short (vendida) costuma exigir maior atenção e destreza do analista, uma vez que a sua assimetria tende a não ser tão boa quanto a de uma posição long (comprada). Dessa forma, precisamos ir além do óbvio para identificar meandros do resultado que ratifiquem o nosso posicionamento. Foi isso que fizemos em relação ao resultado da M. Dias.

Quando analisamos o faturamento, fica a impressão de que a companhia reportou mais um bom número trimestral. A receita líquida foi de R$ 3 bilhões no período, 37% maior na comparação anual, amparada pelo crescimento de 29% do preço médio e de 6,7% no volume de biscoito e de 3,1% em massas.

Esse ritmo de crescimento parece bom, haja visto que a inflação brasileira nos últimos doze meses está abaixo de um dígito. Contudo, ao comparar o crescimento dentro do seu mercado de atuação, percebe-se que a companhia perdeu novamente participação de mercado em Biscoitos, enquanto manteve sua participação estável em massas. Quando olhamos por uma ótica mais ampla, é nítido a perda de market share desde 2018 em ambos os produtos.

Fonte: Empiricus e M. Dias Branco

Como a empresa vem perderam participação de mercado recorrentemente, imagina-se que conseguindo repassar preço e, portanto, esteja garantindo uma boa rentabilidade de sua operação, correto? Não necessariamente.

O lucro bruto atingiu R$ 851 milhões no trimestre, crescimento de 21% na comparação anual e a margem bruta foi de 28,6%, queda de 5,7 pontos percentuais em relação ao trimestre anterior. Acrescentando o desempenho da margem bruta para o mesmo gráfico apresentado acima, é possível notar também uma deterioração de margem desde 2018.

Fontes: Empiricus e M. Dias Branco

Especificamente neste trimestre, o resultado foi decorrente do maior preço médio das matérias-primas no período, que avançaram 50%. O trigo e o óleo de palma, que são os dois principais itens dessa linha, subiram 55% e 43%, respectivamente.

Importante destacar que, além de realizar contratos de hedge, a companhia possui um nível de estoque maior do que o de seus competidores. Dessa forma, acreditamos que a pressão de custos em função da Guerra entre a Rússia e a Ucrânia perseguirá em seus resultados nos próximos meses de forma mais acentuada do que nos números de seus competidores. Veja como desde meados do ano os custos do trigo e do óleo de palma, que representam 63% dos custos da M Dias, já estão mais altos do que os preços de mercado.

Fonte: M. Dias Branco
Fontes: Empiricus e M. Dias Branco

Do lado positivo, as despesas operacionais cresceram 31%, ou seja, com menos intensidade do que o crescimento do faturamento. Dessa forma, elas passaram a representar 20% da receita líquida contra 21,5% no 3T21. Mesmo assim, a M. Dias reportou um ebitda de R$ 333 milhões (+16%) e queda de 1,9 pontos percentuais de margem ebitda, que atingiu 11,2% no período.

O resultado financeiro foi de – R$ 70 milhões, influenciado pelo aumento do CDI e pelo próprio crescimento do endividamento, que passou de 0,1 vezes caixa líquido sobre o ebitda no 3T21 para 1,7 vezes dívida líquida sobre o ebitda neste trimestre.

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Resultado da M. Dias apresenta pontos de atenção

Aliás, essa é uma dinâmica que exigirá atenção dos investidores. O rápido endividamento da companhia combinado ao consumo de caixa aplicado nas atividades operacionais, em especial no aumento de estoque, deverá exigir em breve uma nova operação no mercado de capitais para reequilíbrio do balanço, como um follow on ou nova emissão de dívida.

Caso opte pela segunda opção, veremos uma elevação do serviço da dívida e, por conseguinte, uma pressão no lucro líquido que, neste trimestre, foi de R$ 195 milhões, retração de 0,8% sobre o mesmo trimestre do ano anterior.

Portanto, embora o crescimento do faturamento e a diluição de despesas tenham sido fatores positivos, enxergamos alguns pontos de atenção no resultado.

A dificuldade de conquistar mercado e a contínua queda de margem bruta persistem, enquanto a queima de caixa para manter os volumes em crescimento já ultrapassou a barreira dos R$ 1,1 bilhão no ano. Diante de todos esses desafios e o valuation (14 vezes lucro para 2023), que na nossa opinião não está atrativo, M. Dias (MDIA3) segue como uma posição vendida (short) da Carteira Empiricus.

Sobre o autor

Fernando Ferrer

Graduado em Engenharia Mecânica pela UFRJ e com MBA em Finanças pela mesma instituição, Fernando Ferrer atua na Empiricus como analista de investimentos há 5 anos cobrindo os setores de Varejo, Saúde e Infraestrutura. Atualmente, é responsável pela série best-seller As Melhores Ações da Bolsa e faz parte da equipe que comanda o Carteira Empiricus, o portfólio multimercado que é o carro-chefe da casa.