Investimentos

Magazine Luiza (MGLU3) anuncia ‘erros contábeis’ em resultado do 3T23 e ação cai forte; entenda

Ação chegou a derreter 8% às 10h20 desta terça (14); segundo analista, a queda tem a ver com o anúncio de ‘incorreções em lançamentos contábeis’

Por Nicole Vasselai

14 nov 2023, 15:31 - atualizado em 14 nov 2023, 15:41

Magazine Luiza varejistas MGLU3 Mercado Livre MELI 34 Magalu
Foto: Divulgação/ Magazine Luiza

O Magazine Luiza (MGLU3) divulgou na noite de ontem (13) seus resultados referentes ao terceiro trimestre de 2023 (3T23) e, na manhã de hoje, realizou a teleconferência para comentar os números.

Logo após a comunicação da companhia, as ações começaram a derreter no pregão desta terça (14). No momento em que esta matéria é escrita, a cotação do papel cai 5,78%, às 13h. Em torno das 10h20 de hoje, chegou a despencar mais de 8%, enquanto a Bolsa subia 2,5% no mesmo horário.

Inconsistências contábeis derrubaram a ação de MGLU3

Embora o investidor possa interpretar essa queda como uma resposta ao desempenho de Magalu no 3T23 como um todo, na verdade, segundo explica o analista Fernando Ferrer, da Empiricus Research, o mercado parece reagir mais especificamente a uma denúncia anônima de irregularidades em transações comerciais com fornecedores, realizada em março de 2023.

“Basicamente, a denúncia dizia que havia uma inconsistência na contabilização envolvendo três fornecedores. Por exemplo, vamos supor que a companhia comprasse seis geladeiras, a um custo de R$ 3 mil por unidade. Se ela conseguisse vender 100, 150 unidades, o custo sairia a R$ 2800. Então, existia um bônus atrelado à performance das vendas, se a empresa conseguisse vender mais do que planejado previamente“, contextualiza o analista.

“O que aconteceu na verdade não é de hoje. Desde 2022 e ao longo de 2023, a companhia estava antecipando o reconhecimento desse bônus e estava registrando antes dessas metas serem efetivamente cumpridas. Quando acontece isso, você infla todo o resultado da companhia, infla o lucro e, inclusive, o patrimônio líquido“.

Ele também conta que, a princípio, Magazine Luiza disse que era improcedente a denúncia, mas depois de uma investigação identificou de fato incorreções em seus lançamentos contábeis.

Com isso, o Conselho de Administração exigiu que fosse dada baixa em uma fatia de R$ 829,5 milhões do patrimônio líquido da companhia do 3T23, que corresponderia ao valor do lucro líquido que na verdade foi “inflado”.

Magazine Luiza pode ser a próxima Americanas?

Para Ferrer, as inconsistências contábeis apresentadas por Lojas Americanas em janeiro de 2023 ainda compõem um cenário um pouco diferente do observado em Magazine Luiza.

“O que me parece é que essa prática de Magalu foi feita por muito menos tempo do que no caso de Americanas, ocorreu com poucos fornecedores e partiu da proatividade da companhia de identificar [o erro] e tentar resolver”, diferencia o analista.

Por outro lado, ressalta: “Obviamente isso não deixa de ser um sinal de alerta para o investidor. É normal que ele fique receoso. Embora eles [a companhia] já tenham corrigido a inconsistência, sempre gera aquela dúvida ‘será que não tem outra’? Mas me parece improvável que tenha mais coisa”,

Os resultados de Magazine Luiza no 3T23

Feita essa contextualização, vamos aos números reportados por Magazine Luiza referentes ao 3º trimestre de 2023.

Lucro ou prejuízo?

A companhia divulgou um lucro líquido de R$ 331,2 milhões. No mesmo período de 2022, Magalu teve prejuízo de R$ 190,9 milhões.

Segundo explica Ferrer, esse número do 3T23 foi ajudado pela reversão de créditos tributários, conforme a própria empresa escreveu no documento publicado ontem (13): “Com base nos precedentes judiciais e na opinião dos nossos assessores legais, o Magalu reconheceu neste trimestre créditos tributários, referentes a períodos anteriores a 2022, no total de R$ 688,7 milhões, sendo R$ 533,1 milhões de principal e R$ 155,6 milhões de atualização monetária”.

Desconsiderando essa reversão, em termos ajustados, a varejista tem, na verdade, um prejuízo de R$ 143,4 milhões, que indica alívio de 15,7% em relação ao reportado no 3T22.

Margens e Ebitda de Magazine Luiza

Além disso, o especialista conta que o objetivo principal da companhia nos últimos meses tem sido ampliar suas margens. “Em certa medida, isso foi possível, já que a margem bruta foi a maior em 6 anos. Por outro lado, as despesas foram tão altas que não conseguiram aumentar o Ebitda em comparação ao mesmo período de 2022. E para uma empresa de crescimento, é muito ruim não apresentar expansão desse número de um ano para outro“.

O Ebitda ajustado do Magazine Luiza foi de R$ 487,5 milhões, número 0,7% menor em relação ao 3T22 no ano. A margem bruta foi de 30,4%, porcentagem 2,9% maior em comparação anual, graças, segundo a companhia, à performance do marketplace (3P).

Porém, as despesas com vendas, gerais e administrativas somaram R$ 2,1 bilhões, alta de 10,7%, versus R$ 1,88 bilhão do 3º tri do ano passado.

Vendas físicas e online

As Vendas Totais foram de R$ 14,8 bilhões no 3T23, aumento de 5% em relação há 12 meses. As Vendas das Lojas Físicas Totais foram de R$ 4,0 bilhões no 3T23, crescendo 2% na comparação anual. As vendas online, via e-commerce, foram 6% maior, com recuo de market share de 0,7% no setor.

Inadimplência

A taxa de inadimplência de curto prazo (15 a 90 dias) foi de 3,3%, arrefecimento de 0,2 ponto percentual em relação a junho, mas 1,3% maior do que em setembro de 2022. Já para o período acima de 90 dias, o índice ficou em 10,5%, 0,4 ponto percentual abaixo do 2T23 e 0,1% menor em comparação anual.

O resultado financeiro de Magazine Luiza ficou no negativo, em -R$ 456,2 milhões, menor do que os R$ 556,3 milhões do ano passado.

Diante desse cenário, por enquanto, segundo Fernando Ferrer, a Empiricus Research não recomenda investir na ação de Magalu (MGLU3) e prefere outras duas varejistas com maior resiliência ao cenário macro.

Sobre o autor

Nicole Vasselai

Editora do site da Empiricus. Jornalista formada pela Faculdade Cásper Líbero, com MBA em Análise de Ações e Finanças e passagem por portais de notícias e fintechs.