Investimentos

Matheus Spiess: ‘Para que os juros caiam depois, é preciso mantê-los altos agora’

Para o analista da Empiricus, manter os juros altos agora ajudaria a reancorar as expectativas de inflação e permitiria uma política monetária mais flexível no futuro.

Por Nicole Vasselai

18 jun 2024, 12:14 - atualizado em 18 jun 2024, 12:14

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O Comitê de Política Monetária (Copom) se reúne nesta terça-feira (18) e conclui amanhã (19) a decisão da Selic – se mantém ou se altera o patamar da taxa básica de juros.

Para o analista de macroeconomia da Empiricus Research, Matheus Spiess, é natural que haja maior ansiedade e precaução em relação à reunião desta semana, devido às incertezas causadas pela última decisão.

“O último Copom foi marcado por uma confusão, devido à forma com que a decisão da taxa Selic foi comunicada”, comenta o especialista.

Além disso, na ocasião, os membros do Comitê se mostraram bastante divididos quanto ao rumo dos juros: cinco votaram a favor da manutenção da taxa em 10,50% ao ano; quatro preferiam o corte de 0,50%.

Credibilidade do Copom está em xeque?

“A configuração dos votos do último encontro foi problemática. Os quatro votos a favor de um corte da Selic vieram dos diretores indicados pelo governo Lula. Embora fosse possível justificar um corte de 0,50 ponto percentual, a comunicação precisava ser mais precisa e acertada”, avalia Spiess.

Como consequência da “bola dividida”, a credibilidade do Banco Central passou a ser questionada. “Isso reforça a importância de uma decisão unânime agora. Além de ser conservadora, ela precisa ser de comum acordo”.

Segundo ele, mais do que a decisão em si, o mercado espera um comunicado claro e assertivo, que não dê margem a múltiplas interpretações.

BC vai ‘capotar na reta’ de novo?

Spiess também recorda uma preocupação que tem rondado o mercado financeiro: a possibilidade de voltarem à tona problemas enfrentados durante o governo de Dilma Rousseff.

“Naquela época, uma série de reduções na taxa de juros levou a expectativas inflacionárias que ultrapassaram as metas estabelecidas. Nesse sentido, o BC não pode ser eximido de sua parcela de responsabilidade“, afirma Spiess.

Para o especialista, a unanimidade entre os membros do Copom para manter a taxa Selic em 10,50% na reunião de quarta-feira (19) seria fundamental para a recuperação da confiança na instituição.

Na visão dele, pausar o ciclo de cortes da Selic agora poderia agir ser eficaz para ajustar o desalinhamento das expectativas inflacionárias e amenizar as incertezas do mercado sobre o compromisso da futura administração do Banco Central com a meta de inflação.

‘Novos cortes de juros deveriam ficar mais pra frente’

Spiess reforça que acredita em novas reduções nas taxas de juros, mas, em sua opinião, estas deveriam ocorrer mais adiante, e não de imediato.

“Para que essa medida seja viável, é necessário que ocorra uma redução nas taxas de juros nos Estados Unidos, o que é esperado para o segundo semestre deste ano, além de uma política fiscal mais coerente e minimamente responsável”, explica.

O analista também complementa que uma redução forçada da Selic poderia, paradoxalmente, resultar em taxas ainda mais altas no futuro: “Se as expectativas de inflação estão aumentando, os agentes econômicos antecipam o crescimento dos preços futuros, alimentando a inflação presente”.

Portanto, o desafio engloba não apenas o controle da inflação corrente, mas também o gerenciamento das expectativas futuras.

Mas, afinal, como fazer isso?

Segundo Spiess, o maior impasse está na combinação de uma política fiscal excessivamente permissiva e uma política monetária subserviente ou excessivamente arriscada, que levam a uma valorização do dólar.

“A alta do câmbio afeta inicialmente os preços dos produtos importados e depois se propaga ao restante da economia através do efeito da variação cambial”, explica. “Se a inflação sobe, o Banco Central é compelido a responder, resultando eventualmente em um aumento das taxas de juros”.

Controle de gastos é a saída?

Recentemente, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e Simone Tebet, da pasta de Planejamento e Orçamento, apresentaram uma proposta de ampla revisão das despesas públicas. A princípio, a iniciativa foi recebida com otimismo, mas rapidamente perdeu força com falas do presidente Lula e do PT.

“Para implementar políticas sociais eficazes, é essencial que as finanças públicas estejam organizadas. Se nosso objetivo é alcançar taxas de juros mais baixas, é crucial garantir que o BC opere de maneira estritamente técnica e cautelosa”, comenta o analista.

“Isso não apenas ajudaria a reancorar as expectativas inflacionárias, mas também permitiria uma política monetária mais flexível no futuro”.

Sobre o autor

Nicole Vasselai

Editora do site da Empiricus. Jornalista formada pela Faculdade Cásper Líbero, com MBA em Análise de Ações e Finanças e passagem por portais de notícias e fintechs.