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Mercados abrem em alta e de olho na retomada das negociações dos Treasuries nesta terça-feira (10); veja os destaques do dia

Mercados asiáticos fecharam o dia em alta, enquanto europeus e futuros americanos estão em alta nesta manhã

Por Matheus Spiess

10 out 2023, 09:22 - atualizado em 10 out 2023, 09:28

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Imagem: Freepik

Bom dia, pessoal. Os investidores estão de olho na retomada das negociações dos Treasuries nos Estados Unidos após o feriado de ontem, o Columbus Day. Era natural esperar uma reação tardia ao surgimento do conflito em Israel após os ataques terroristas do Hamas no último final de semana, que ocorreram durante um importante feriado religioso judaico, evocando a sombra de 1973. Na segunda-feira, ficou evidente que os investidores começaram a interpretar a situação de forma diferente do que se poderia presumir no início do pregão do dia anterior. Hoje, é provável que vejamos a continuação desse padrão.

Os mercados asiáticos fecharam o dia em alta, não apenas porque se acredita que o trágico conflito permanecerá contido na região, como tem sido o caso na maioria das vezes na história recente, mas também devido aos comentários de Philip Jefferson, vice-presidente do Federal Reserve dos EUA, que afirmou que o banco central precisa agir com cautela para evitar o risco de um aperto excessivo. Os mercados europeus estão em alta nesta manhã, juntamente com os futuros americanos. Na agenda do dia, temos a ata do Banco da Inglaterra e alguns dados de inflação.

A ver…

· 00:45 — Sem gatilhos locais, reagimos ao contexto internacional

No cenário brasileiro de hoje, os investidores encontram poucos acontecimentos domésticos relevantes, direcionando seu foco para os eventos internacionais. Globalmente, a atenção está voltada para a reunião anual do FMI e do Banco Mundial em Marraquexe (Marrakesh), no Marrocos, onde o presidente do Banco Central brasileiro, Roberto Campos Neto, está se pronunciando no Emerging Markets Forum. As observações sobre a direção da política monetária, especialmente após as recentes flutuações no preço do petróleo, são aguardadas com interesse, especialmente à luz do aumento das taxas de juros nos Estados Unidos.

A noção de que as taxas de juros podem permanecer elevadas por um período prolongado (“higher for longer”) gerou preocupações de que o ciclo de flexibilização da política monetária no Brasil seja mais moderado. Entretanto, não parece ser um cenário iminente. A perspectiva continua apontando para mais dois cortes de 50 pontos-base em 2023, levando a taxa para 11,75% até o final do ano, buscando eventualmente um patamar de um dígito alto, em torno de 9%, até o término de 2024. Contudo, a trajetória está sujeita a dados econômicos tanto do Brasil quanto dos Estados Unidos, e uma desaceleração na atividade econômica americana neste último trimestre seria recebida de forma positiva.

· 01:33 — Espaço para uma pressão menor

Nos Estados Unidos, o mercado de ações experimentou um dia de grande volatilidade ontem, à medida que os investidores reagiram ao ataque terrorista do Hamas em Israel e à ameaça de um conflito mais amplo no Oriente Médio. Embora a guerra seja um tema difícil de traduzir em termos de investimento, não há outra opção além de reagir às notícias. Israel, reconhecida como uma potência em segurança cibernética, declarou guerra ao Hamas e iniciou ataques na Faixa de Gaza. Isso gerou uma reação positiva no setor de segurança cibernética listado nos EUA, considerando que Israel abriga 33% dos unicórnios do mundo (startups avaliadas em um bilhão de dólares ou mais) nesse campo, e há expectativas de avanços nessa área.

Paralelamente, os rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA com vencimento em 10 anos recuaram para níveis de cerca de uma semana atrás. Existem duas teses para explicar isso: i) uma busca por refúgio seguro diante da violência no Oriente Médio; ou ii) comentários mais conciliatórios de membros do Federal Reserve (especialmente o vice-presidente Jefferson, considerado mais dovish). A reação moderada do mercado de câmbio sugere que pode estar mais relacionada às expectativas em relação ao Fed. Hoje, cinco membros do Fed estão competindo pela atenção da mídia, o que pode potencialmente trazer volatilidade ao mercado no primeiro dia após a retomada das negociações dos Treasuries.

· 02:27 — E a temporada de resultados?

Ainda nos EUA, os investidores têm razões para se animar após o pior mês para o S&P 500 neste ano, com a perspectiva de uma recuperação nos lucros no quarto trimestre. Em média, espera-se que o lucro líquido das empresas no índice cresça cerca de 7,6% em comparação com o quarto trimestre de 2022, após uma sequência de quatro trimestres de contração.

A previsão indica que as empresas, que enfrentaram dificuldades para manter suas margens à medida que a inflação disparava nos últimos dois anos, estão agora se beneficiando de um aumento menor nos custos. A desaceleração da inflação, combinada com o efeito defasado das demissões do ano passado, está resultando na expansão das margens.

Os setores de comunicações e serviços públicos, com ganhos de lucros estimados em pelo menos 45%, deverão impulsionar a recuperação nesse período. Os fabricantes de chips e as empresas de mídia e entretenimento estão projetando aumentos nos lucros de 28% e 66%, respectivamente. Isso pode servir como um incentivo positivo para os investimentos no exterior.

· 03:08 — Parecia óbvio demais: mercado mais calmo, mas ainda muito atento…

O ataque terrorista do Hamas a alvos civis israelenses durante o fim de semana desencadeou um conflito em Israel, alertando o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu sobre a possibilidade de uma transformação no Médio Oriente. Uma guerra imprevisível na região se apresenta como um dos maiores riscos geopolíticos para os preços do petróleo.

No entanto, é provável que o impacto imediato nos preços do petróleo seja relativamente modesto. Se o conflito permanecer dentro das fronteiras de Israel, as mudanças nos preços serão contidas. Isso foi interpretado pelos mercados ontem; afinal, Israel contribui com uma quantidade marginal na produção de petróleo, e os recentes acontecimentos terão pouco impacto direto no fornecimento global de petróleo.

Além disso, os estados árabes já não estão unidos em sua visão em relação a Israel como no passado. A Arábia Saudita está concentrada no desenvolvimento econômico interno e na maximização de seus interesses a longo prazo. O Egito não apoia o Hamas, e a Síria está devastada pela guerra civil. Embora o Irã permaneça fortemente contrário a Israel, é improvável que arrisque retaliações por parte de Israel e dos EUA em prol dos palestinos.

Isso sem mencionar as mudanças significativas que ocorreram no mundo desde as crises petrolíferas anteriores. Os EUA, por exemplo, são agora o principal produtor global e podem atender essencialmente a todas as suas necessidades internas. Por todas essas razões, os investidores de petróleo se tornaram cautelosos ao apostar em movimentos de preços motivados pela geopolítica nos últimos 18 meses. A invasão da Ucrânia pela Rússia serve como um exemplo dessa nova dinâmica. Investir em petróleo agora parece menos óbvio.

· 04:12 — Pela primeira vez depois de décadas

Esta semana, a cidade de Marraquexe, no Marrocos, será palco de intensas atividades. O Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial estão realizando sua reunião anual na África pela primeira vez em 50 anos. Muito pouco mudou desde as reuniões de 1973 em Nairobi: a parcela modesta da região no produto interno global permanece praticamente inalterada, e seus líderes continuam se sentindo negligenciados, reforçando os apelos por reformas institucionais.

A decisão de manter as reuniões em Marraquexe, mesmo após um terremoto nas montanhas acima da cidade no mês passado que resultou na perda de quase 3 mil vidas, visa destacar a relevância do FMI e do Banco Mundial para a região. A necessidade de tal conscientização ficou evidente quando as principais potências dos mercados emergentes se encontraram em agosto para a cúpula dos BRICS em Joanesburgo, criticando a ordem liderada pelo Ocidente e expandindo suas fileiras para incluir o Irã e a Arábia Saudita. Isso ocorreu algumas semanas após o presidente russo, Vladimir Putin, receber líderes africanos em São Petersburgo.

A disputa pela influência também se traduz em recursos financeiros e, nesse sentido, a China tem superado o Ocidente na região. Os empréstimos chineses para o continente africano aumentaram cinco vezes desde 2010. Em contrapartida, o financiamento do Banco Mundial cresceu cerca de duas vezes e meia. A região está agora enfrentando uma maior restrição de financiamento devido ao aumento das taxas de juros e à desvalorização das moedas. Essa nova dinâmica dos conflitos geopolíticos pode acabar sendo benéfica para a região, que está recuperando a atenção que merece das lideranças globais.

· 05:14 — Um shopping para chamar de seu…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.