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Mercados emergentes enfrentam a perspectiva de registrar o pior mês de agosto em quase dez anos; confira este e outros destaques de hoje (17)

O cenário desfavorável se deve principalmente a novos indícios de problemas econômicos na China e a riscos políticos na Argentina.

Por Matheus Spiess

17 ago 2023, 08:47 - atualizado em 17 ago 2023, 08:47

Imagem representando os países emergentes, mostrando bandeiras do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

Bom dia, pessoal. No exterior, as bolsas de valores asiáticas seguiram a tendência de queda dos mercados americanos nesta quinta-feira, após a divulgação das atas da mais recente reunião do Federal Reserve dos Estados Unidos, que minaram as expectativas de que os aumentos nas taxas de juros estivessem chegando ao fim.

O índice S&P 500 registrou queda na quarta-feira (16), após o referido documento sugerir uma falta de clareza por parte da autoridade monetária quanto às próximas medidas a serem tomadas, após o recente aumento na principal taxa de empréstimo, que atingiu o patamar mais elevado em duas décadas. Os investidores estavam antecipando que a decisão fosse pautada na percepção de controle da inflação e que o aumento dos juros no mês passado seria o último.

Na Europa, os mercados acionários também estão em queda nesta manhã, enquanto os futuros das bolsas americanas buscam uma recuperação. Enquanto isso, os mercados emergentes estão enfrentando a perspectiva de registrar o pior mês de agosto em quase dez anos, principalmente devido a novos indícios de problemas econômicos na China e a riscos políticos na Argentina. O Brasil, que também lida com desafios internos, acaba sendo impactado pelo clima negativo que prevalece nos mercados globais.

A ver…

· 00:45 — Ou vai ou racha

No cenário brasileiro, observamos a ocorrência de nossa décima segunda queda consecutiva, um feito sem precedentes na história recente (seria necessário retroceder mais de meio século para encontrar algo comparável, o que impossibilita uma comparação significativa).

É verdade que essa redução tem sido relativamente modesta quando comparada a períodos de acentuada tensão ocorridos anteriormente (por exemplo, o índice caiu cerca de 5,34% em agosto, o que é desfavorável, embora não represente uma catástrofe), porém, essa situação resultou no deslize abaixo dos 116 mil pontos.

Além das questões internacionais que estão influenciando a movimentação de recursos estrangeiros, há ainda a complexa situação interna a ser enfrentada. O presidente Lula, embora tenha recebido elogios do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, por liderar o Brasil no cenário global das questões climáticas, foi trazido de volta à realidade. As tensões entre o governo federal e o Congresso Nacional se agravaram após atritos entre Fernando Haddad e Arthur Lira. Agora, a pressão está em concluir a reforma ministerial.

A expectativa é de que as negociações sejam finalizadas antes da viagem de Lula à África do Sul para a Cúpula dos BRICS no final deste mês, visando destravar a agenda econômica entre os parlamentares, atualmente estagnada. O presidente se reuniu com líderes do Partido dos Trabalhadores (PT) para definir quais postos serão alterados e, posteriormente, se encontrou com o presidente da Câmara. Tudo indica que veremos a reintrodução do Ministério da Micro e Pequena Empresa, além da mudança na direção do Sebrae Nacional. Essa é a única maneira de resgatar a aprovação do conjunto legislativo e do orçamento, permitindo a retomada de uma perspectiva mais positiva para o mercado, que havia sido conquistada desde o final de março.

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· 01:37 — Uma ata mais dura do que o esperado

Durante a reunião de política monetária em julho, as autoridades do Federal Reserve nos Estados Unidos mantiveram uma preocupação generalizada com a possibilidade de a inflação não recuar e a perspectiva de necessidade de futuras elevações nas taxas de juros. No entanto, tornaram-se cada vez mais evidentes algumas divisões dentro desse consenso.

A ata da reunião revelou que dois membros do Comitê Federal de Mercado Aberto manifestaram apoio à manutenção das taxas inalteradas ou poderiam ter endossado tal abordagem. A elevação da taxa em julho levou a faixa-alvo da taxa de referência do Fed para 5,25% a 5,5%, atingindo o nível mais alto em 22 anos. Paralelamente, a acumulação de economias por parte das famílias norte-americanas durante a pandemia provavelmente chegará ao seu fim no trimestre atual.

O modelo GDPNow, desenvolvido pelo Fed de Atlanta, agora projeta um crescimento anual ajustado sazonalmente de 5,8% para o terceiro trimestre. Múltiplos indicadores econômicos recentes sugeriram que setores-chave da economia estão, de fato, acelerando. Caso essa tendência prossiga, o Comitê Federal de Mercado Aberto poderá se ver compelido a adotar medidas mais rigorosas na política monetária como forma de controlar a inflação.

· 02:28 — Deu a louca na Fitch

A agência de classificação de risco Fitch, a mesma que rebaixou os Estados Unidos e melhorou a avaliação do Brasil, agora volta sua atenção para a China. A Fitch indicou a possibilidade de um rebaixamento do rating soberano da China, que atualmente se encontra em “A+” com perspectiva estável desde 2007, devido às condições econômicas do país asiático. Caso os passivos contingentes de outros setores se transformem em obrigações reais para o governo chinês, e caso a China aumente sua exposição patrimonial para sustentar a economia, a agência pode reavaliar a situação. Afinal, a relação entre a dívida e o Produto Interno Bruto (PIB) da China está um tanto elevada para a classificação de crédito atual.

Além disso, outra observação significativa da mesma agência também merece destaque. Tudo indica que o crescimento econômico dos países desenvolvidos não retornará aos níveis pré-pandemia de Covid-19. Essa constatação resultou na revisão para baixo das projeções do PIB potencial das principais economias globais. Essa deterioração reflete os impactos duradouros das crises do coronavírus e das interrupções no fornecimento de gás na Europa, ambos fatores que desaceleraram a acumulação de capital e reduziram o crescimento da produtividade. Adicionalmente, a diminuição sustentada nas taxas de participação na força de trabalho também contribui para esse cenário. Vivemos tempos peculiares e desafiadores.

· 03:13 — Todo mundo está olhando para a China

Um dos maiores players do sistema financeiro paralelo (“shadow bank”) da China recentemente optou por ignorar pagamentos associados a vários produtos de investimento, gerando protestos incomuns em Pequim. Essa situação ocorre à medida que as ramificações decorrentes de uma queda em constante expansão no mercado imobiliário passam a afetar também o setor financeiro.

Seguindo o precedente estabelecido pela preocupação gerada pela incorporadora Country Garden, agora é a vez do banco paralelo Zhongrong deixar de honrar pagamentos de diversos produtos, sem um plano imediato para resolver a situação com os clientes. Esse acontecimento sinaliza que as complexidades e fragilidades do sistema bancário chinês vão além do que se havia compreendido previamente.

Adicionalmente, as principais lideranças da China comprometeram-se a estimular o consumo interno como parte de uma iniciativa para revitalizar a economia. No entanto, os resultados até o momento estão longe de serem ideais. Um exemplo disso é a receita da Tencent, que ficou abaixo das projeções, demonstrando uma recuperação desigual no cenário da internet no país, em um contexto marcado por instabilidades econômicas. A empresa registrou um aumento de 11% na receita, abaixo das expectativas, pois as vendas das principais divisões, incluindo jogos e serviços em nuvem, ficaram notavelmente aquém das previsões. A perspectiva para o panorama corporativo pode deteriorar ainda mais caso o governo não opte por oferecer estímulos substanciais.

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· 04:06 — Boa brisa na Turquia

A Turquia talvez esteja se encaminhando para sua primeira melhoria de classificação de crédito em mais de uma década, caso o presidente Recep Tayyip Erdogan permita que sua nova equipe econômica reverta as políticas econômicas que ele havia endossado previamente. A Moody’s tornou-se a primeira dentre as três principais agências de rating a levantar a possibilidade de conceder à Turquia uma avaliação mais positiva, embasando-se em melhorias nas finanças nacionais. A agência manifestou um otimismo crescente quanto às perspectivas da dívida do país, o que incentivou investidores a alocarem recursos em títulos denominados em dólares turcos, à medida que os formuladores de políticas começaram a elevar o custo dos empréstimos como medida de contenção da inflação e implementaram aumentos tributários para endereçar o déficit orçamentário.

Este retorno a uma abordagem relativamente ortodoxa ocorre após anos de políticas de fomento ao crescimento a qualquer custo, respaldadas por Erdogan no contexto das eleições presidenciais de maio. Posteriormente à sua reeleição para mais cinco anos no cargo, Erdogan indicou Mehmet Simsek como Ministro das Finanças, incumbindo-o de supervisionar a mudança nas políticas econômicas. Tanto Simsek quanto a recém-designada chefe do banco central, Hafize Gaye Erkan, já implementaram significativos ajustes nas condições monetárias. Entretanto, permanece um limite para as ações da equipe econômica, dada a aproximação das eleições municipais de março, sendo que o partido de Erdogan busca recuperar Istambul após a derrota dolorosa sofrida em 2019. Resta observar se a abordagem econômica ortodoxa sobreviverá a esse contexto.

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.