Investimentos

Mercados iniciam semana de olho na ‘Super Quarta’; veja o que esperar

Mercado espera corte de 50 pontos-base na Selic, enquanto Fed deve manter juro no patamar atual

Por Matheus Spiess

11 dez 2023, 09:14 - atualizado em 11 dez 2023, 09:15

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Bom dia, pessoal. Os investidores demonstram cautela diante de preocupações com as taxas de juros e dados de emprego nos EUA que superaram as expectativas em novembro. O payroll acima do previsto na sexta-feira arrefeceu o entusiasmo de quem esperava um corte antecipado nas taxas pelo Fed. Apesar disso, a interpretação de que os EUA estão se encaminhando para um “soft landing” continua a favorecer ativos de risco. Com a expectativa geral de que o Fed dos EUA mantenha as taxas de juros inalteradas após sua política monetária no final da semana, os investidores devem focar mais atentamente na declaração e nas projeções do banco central.

Os mercados de ações asiáticos encerraram de maneira mista nesta segunda-feira. Na China e em Hong Kong, as quedas são atribuídas aos indícios de que a deflação no país está se agravando (em novembro, os preços ao consumidor na China registraram a queda mais acentuada em três anos, e a inflação dos preços ao produtor adentrou ainda mais território negativo). Os mercados europeus seguem sem uma direção clara nesta manhã, enquanto os futuros americanos começam em baixa. No Brasil, observamos esses desenvolvimentos, ao mesmo tempo em que aguardamos nossa reunião de política monetária, já amplamente antecipada pelos investidores.

A ver…

· 00:46 — Foco no Congresso

Aqui, todos aguardam com expectativa a quarta-feira, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) provavelmente reduzirá a Selic em mais 50 pontos-base, encerrando o ano em 11,75%. O movimento é amplamente antecipado e provavelmente será seguido por comunicados indicando movimentos semelhantes no início do próximo ano.

Com poucas surpresas no cenário local, os investidores direcionarão sua atenção para as atividades do Congresso, que prometem dias emocionantes de hoje até o recesso legislativo em 22 de dezembro. Entre os destaques, é importante acompanhar o relatório da Lei de Diretrizes Orçamentárias, que surpreendeu ao atender ao governo, podendo limitar o bloqueio de gastos a R$ 23 bilhões em 2024 (Lula reconhece a dificuldade em cumprir a meta).

Além disso, temos as votações dos projetos relacionados às apostas, da Medida Provisória das subvenções e da reforma tributária. Se a equipe econômica conseguir avançar com esses quatro pontos até o final do ano, será uma grande conquista para Haddad, que está correndo contra o tempo para reduzir o déficit o máximo possível. Além disso, teremos que avaliar o IPCA fechado de novembro, que será divulgado amanhã e provavelmente mostrará núcleos menos pressionados. Números abaixo das expectativas aqui devem ser bem recebidos.

· 01:33 — Um relatório mais forte do que o esperado

Nos Estados Unidos, o relatório de emprego divulgado na sexta-feira superou as expectativas, com as folhas de pagamento não-agrícolas aumentando em 199 mil em novembro, uma aceleração em relação a outubro, quando a expectativa era de 175 mil novos empregos. Surpreendentemente, as ações registraram ganhos mesmo após dados robustos, elevando cada um dos principais índices em cerca de 0,4% e colocando-os todos em território positivo durante a semana, marcando o sexto ganho semanal consecutivo. Isso representa a mais longa sequência de vitórias semanais para o S&P 500 e o Dow Jones Industrial Average desde 2019.

O término de diversas greves trabalhistas contribuiu para impulsionar os ganhos, enquanto a taxa de desemprego agora situa-se em 3,7%, abaixo dos 3,9% do mês anterior. Além disso, os consumidores estão reajustando suas perspectivas de inflação, conforme evidenciado pela última pesquisa da Universidade de Michigan, que indicou uma queda nas expectativas de inflação para 3,1%, em comparação com os 4,5% do mês passado. Isso sinaliza positivamente para a reunião do Federal Reserve na quarta-feira, onde é esperado que a instituição mantenha a taxa alvo estável entre 5,25% e 5,50%. Dados adicionais sobre a inflação estão na agenda e podem ajudar os investidores a melhor calibrar suas expectativas para o curso da política monetária no próximo ano.

· 02:24 — O tal do Ozempic

À medida que mais indivíduos recorrem a medicamentos supressores do apetite, como Ozempic e Wegovy da Novo Nordisk ou Mounjaro da Eli Lilly, há uma percepção crescente de que os efeitos desses medicamentos podem impactar as vendas de alimentos. Empresas como o Walmart, conscientes desse cenário, estão orientando esforços para que os medicamentos ocupem uma parcela menor nos carrinhos de compras. Enquanto isso, gigantes do setor alimentício estão adotando uma estratégia proativa: desenvolver produtos complementares que possam suplementar as dietas de baixo teor calórico.

Para exemplificar, a Nestlé e a General Mills estão trabalhando na criação de produtos ricos em proteínas para compensar a perda de massa muscular frequentemente associada aos consumidores de Ozempic durante suas jornadas de perda de peso. Ao mesmo tempo, a Mondelez, fabricante da Oreo, está ampliando sua linha de salgadinhos embalados individualmente, cada um contendo menos de 200 calorias por pacote. Com estimativas sugerindo que até 24 milhões de pessoas, ou cerca de 7% dos americanos, podem estar utilizando medicamentos para perda de peso até 2035, a redução potencial de 30% nas calorias consumidas representa uma mudança significativa no mercado de alimentos.

· 03:19 — Tríplice asiática

Em meio à escalada das tensões no Mar do Sul da China e diante das eleições iminentes em Taiwan, os ministros das Relações Exteriores da China, do Japão e da Coreia do Sul realizaram recentemente suas primeiras conversações presenciais desde 2019, em Busan, na Coreia do Sul. O objetivo era pavimentar o caminho para a retomada das cimeiras trilaterais anuais formais. Esses encontros anuais tiveram início em 2008, mas foram suspensos há quatro anos devido à pandemia da COVID-19.

Na reunião preliminar, diversas questões controversas foram discutidas, abrangendo desde a proibição imposta pela China aos frutos do mar japoneses devido à descarga de águas residuais radioativas tratadas provenientes da usina nuclear de Fukushima, em Tóquio, até o recente lançamento de um satélite espião pela Coreia do Norte. Além disso, foi abordado o aprofundamento dos laços do Japão e da Coreia do Sul com os Estados Unidos, incluindo a recente iniciativa em matéria de segurança. A China busca, com esse movimento, uma reaproximação com os outros dois principais protagonistas asiáticos, num contexto de crescente calor geopolítico.

· 04:06 — Uma guerra restrita

A guerra no Médio Oriente continua acontecendo, ainda pertencendo a uma lista crescente de riscos geopolíticos, incluindo o conflito na Ucrânia e um ano de eleições cruciais pela frente. Claro, sabíamos que, tal como as guerras do passado no Médio Oriente, o conflito entre Israel e o Hamas tem o potencial de perturbar a economia mundial e levá-la à recessão se mais países forem atraídos (uma escalada mais acentuada poderia levar Israel a um conflito directo com o Irã). Contudo, avaliando hoje, este risco está continuado, sendo que a guerra deve ficar restrita aos dois.

Cada vez mais fica claro que o dividendo da paz desapareceu. Foi como o fundador da Citadel, Ken Griffin, disse: o mundo enfrenta agitação e mudanças estruturais que o empurram para a desglobalização e provocam uma inflação de base mais elevada que pode durar “décadas”. Concordo. Vivemos em uma mudança de paradigma do que foi as últimas décadas. Sem o dividendo da paz, é provável que vejamos taxas reais mais altas e taxas nominais mais altas.

· 05:01 — A posse de Milei e a relação disso com as criptos

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Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.