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Meta (M1TA34): mudança de postura de Mark Zuckerberg faz ações dispararem depois de resultado ‘morno’ no 4T22; análise

Ao contrário do usual, Zuckerberg apresenta tom mais cauteloso para preservar saúde financeira da Meta; ações sobem 18% no pregão noturno

Por Richard Carboni Camargo

02 fev 2023, 09:59 - atualizado em 02 fev 2023, 10:01

Celular no aplicativo do Facebook Meta
Imagem: Freepik

O Meta Platforms (Nasdaq: META | B3: M1TA34), nosso bom e velho Facebook, divulgou ontem à noite seus resultados do 4T22.

O que mais me impressionou nos resultados, que não foram bons, foi a mudança radical no tom de Mark Zuckerberg em relação aos últimos trimestres.

O Zuck gastão, disposto a queimar todo o caixa da companhia para construir seu metaverso o mais rápido possível, deu lugar a um Zuck comedido, preocupado com a ineficiência operacional da companhia, com o ritmo da economia e disposto a desacelerar seus planos para preservar a saúde financeira do Meta. 

Na minha opinião, essa mudança de postura dele é o principal motivo para explicar a alta de mais de 18% das ações no pregão noturno.

Receita da Meta cai, enquanto número de usuários aumenta

A receita do Meta encolheu 4% em relação ao 4T21, somando US$ 31,2 bilhões, em linha com o esperado pelo mercado.

A quantidade de usuários ativos mensalmente na divisão “Família de Aplicativos”, que consolida as operações de Instagram, Facebook e Whatsapp, alcançou 3,74 bilhões de pessoas, aumento de 4% na comparação anual.

Olhando o número líquido de adições, a família de aplicativos do Meta adicionou mais usuários que o Snapchat, mesmo sendo ordens de magnitude maior que o concorrente.

O número de usuários ativos diariamente foi de 2,96 bilhão, 5% superior na comparação anual. 

Reels mostra força

Ambos os números de usuários mostraram uma tendência positiva, mas o detalhe mais importante, em minha opinião, foram os dados de o quanto o Reels tem crescido e se tornado um competidor a altura do TikTok.

Na teleconferência, Mark comentou que mais de 40% dos anunciantes do Meta já estão utilizando o Reels. A quantidade de usuários e de impressões de usuários utilizando o Facebook e o Instagram para consumir conteúdos do Reels mais do que dobraram na comparação anual.

Esses dados são uma sinalização importante para o mercado de que, mais uma vez em sua história, o Meta está sobrevivendo ao risco de disrupção.

A quantidade de impressões (anúncios) entre as plataformas cresceu 22%, porém o preço médio por anúncio diminuiu 23% na comparação com 4T21.

O principal motivo apresentado pela empresa para a desaceleração na receita por anúncio foi o crescimento em mercados de ticket menor (especialmente países em desenvolvimento) e a conhecida desaceleração macroeconômica. 

Metaverso: divisão é desfavorecida pelo ambiente macro

A divisão “reality labs”, que compila as iniciativas da companhia relacionadas ao metaverso, somou US$ 727 milhões em receitas, uma queda de 17% na comparação anual e um prejuízo operacional de US$ 4,2 bilhões.

Esse prejuízo foi 27% maior que no mesmo trimestre do ano passado.

Escrevi bastante nos últimos meses sobre as novas tecnologias que a empresa tem trazido para o mercado. Entretanto, o ambiente macroeconômico certamente não ajuda a comercialização de uma tecnologia embrionária, ainda sem muitos usos e repleta de necessidades de melhoria.

A nova geração de dispostos Quest é substancialmente mais cara que a sua antecessora, e imagino que as vendas dependerão bastante do segmento corporativo (que é inclusive o foco dos aplicativos da família Horizon).

Infelizmente, esse segmento está sabidamente muito mais preocupado em cortar custos atualmente, do que em investir em inovação. 

Meta: crescimento do Reels e Zuckerberg ‘light’ são os pontos positivos

Ao final do trimestre, a margem operacional foi de 20%, cerca de 17 pontos percentuais inferior ao 4T21, explicada pelo ritmo elevado de investimentos no Reels, na divisão “Reality Labs”, os pesados investimentos na construção de uma das infraestruturas mais modernas do mercado para implementação de inteligência artificial e um “impairment” de US$ 3,4 bilhões em ativos fixos, a maioria deles data centers.

Tudo na conta, o Meta gerou US$ 5,2 milhões em fluxo de caixa livre para o acionista e recomprou praticamente US$ 9 bilhões em ações, agora sim num preço muito melhor que o realizado no início de 2022.

No geral, apesar de não ter sido um resultado operacional forte, o crescimento do Reels e a comunicação bem mais contida de Mark sobre o ritmo de investimentos trouxe alívio ao mercado

Desde o seu ponto mais baixo, alcançado em novembro do ano passado, as ações do Meta sobem mais de 80% e seguem como uma das principais posições do MoneyBets Metaverso, nosso portfólio na Empiricus focado em apostas altamente especulativas.

Economista formado pela Universidade de São Paulo (FEA-USP), é analista de ações certificado pelo CNPI, especialista no setor de tecnologia, com foco em ações internacionais. Está na Empiricus há 5 anos, onde é responsável por relatórios nacionais e internacionais, como o MoneyBets Revolution, um portfólio de teses especulativas em segmentos como healthtech, energia sustentável, software e games. Antes da Empiricus, trabalhou por 5 anos no setor de tecnologia.