As ações das brasileiras Vale (VALE3) e Gerdau (GGBR4), duas gigantes do setor de Metals & Mining em âmbito global, tiveram desempenhos distintos em 2024.
Enquanto os papéis da mineradora Vale recuaram -23,3% no ano, a siderúrgica Gerdau conseguiu evitar perdas maiores em um período adverso e caiu -4,6% em 2024. Para efeito de comparação, o Ibovespa, principal índice acionário brasileiro, teve um desempenho de -10,3% no período.
Conversamos com o analista Ruy Hungria, da Empiricus, para entender o descolamento de desempenho entre os dois papéis e o que esperar para as ações em 2025. Confira:
Como foi o cenário para o setor siderúrgico em 2024?
Ruy Hungria: “2024 foi mais um ano desafiador para o setor siderúrgico brasileiro, inundado pelo aço vindo da China. Para contextualizar, desde que o setor imobiliário chinês começou a desacelerar, a solução encontrada para a sobreoferta do aço local foi exportá-lo para outros países a preços subsidiados.
Sem grandes barreiras tarifárias, o Brasil se tornou um dos destinos preferidos do aço chinês, o que pesou para as siderúrgicas locais. Durante o ano, até tivemos a implementação das cotas de importação, mas elas eram tímidas e não ajudaram muito. Diante desse contexto, a Gerdau (GGBR4) mostrou queda de -7,4% na receita e de -26% no Ebitda nos nove primeiros meses de 2024.”
O cenário difícil já era de certa forma esperado no início do ano e mesmo assim a Gerdau conseguiu “segurar as pontas”. O que explica o desempenho positivo, dado o contexto?
Ruy Hungria: “O que não estava nas contas do mercado era o ótimo controle de custos que a companhia entregaria nas operações brasileiras, justamente para se defender dessa competição desleal.
No Investor Day, a Gerdau disse que as melhorias devem resultar em economias de R$ 1 bi, e o Ebitda da ON Brasil cresceu +31,4% no 3T24, muito em função desse maior controle. Essa é uma característica importante em empresas que gostamos: elas possuem capacidade de se adaptar aos momentos difíceis e saírem ainda mais fortes das crises.
Na reta final de 2024, as ações ainda foram ajudadas por perspectivas mais favoráveis para as suas plantas nos Estados Unidos, após a eleição de Donald Trump.
O resultado: mesmo em um ano difícil para o setor, a Gerdau conseguiu entregar mais do que se esperava dela, e GGBR4 é uma das poucas ações do Ibovespa que conseguiu evitar grandes perdas e caiu só -4,6% no ano.”
Quais são as expectativas para a Gerdau em 2025?
Ruy Hungria: “Para 2025, apesar de políticas protecionistas de Trump nos EUA, que devem ajudar a ON América do Norte, no Brasil preços e volumes continuarão pressionados se não tivermos alguma mudança drástica na tarifação, que não é nosso cenário base.
Por outro lado, a Gerdau seguirá entregando ganhos de eficiência enquanto o cenário não melhora, gerando caixa, pagando dividendos e fazendo recompras. Por apenas 3,5x valor da firma/Ebitda, entendemos que seu valuation já embute bastante pessimismo, e abre espaço para surpresas positivas, assim como em 2024.”
As ações da Vale despencaram em 2024. O que explica o desempenho ruim?
Ruy Hungria: “O desempenho negativo das ações da Vale refletiu uma conjuntura de fatores negativos ao longo de 2024.
O mais importante, obviamente, é a preocupação com a desaceleração do setor imobiliário chinês, o que pesou bastante sobre o minério de ferro. Ao longo do ano, o governo local implementou alguns incentivos fiscais e monetários, mas não foi o bastante para reverter o movimento.
Por outro lado, apesar de expandir menos, o gigante asiático ainda cresce em um ritmo razoável, e vemos um piso para o minério perto dos US$ 90/ton, patamar que desincentiva os produtores marginais.
Além dessas influências macro, o processo de sucessão do CEO foi bastante ruidoso, com ameaças de interferências do governo. Também havia muitas incertezas sobre o valor total do acordo de Mariana.”
As questões internas da Vale parecem um pouco mais encaminhadas. O que esperar para 2025?
Ruy Hungria: “Gustavo Pimenta, que já está na Vale há anos, foi eleito como CEO em um processo muito transparente. Além disso, o acordo de Marina foi definido, com cifras em linha com o esperado e com boa parte dos valores já provisionados antecipadamente pela companhia.
No aspecto operacional, a produção voltou a melhorar e inclusive bateu recorde no 3T24, com melhoria de custos também. Para 2025, a perspectiva é que os investimentos recentes em produtividade sigam entregando melhora de volumes e custos, assim como vimos no 3T24, o que ajudaria a recuperar parte da confiança do mercado.
O cenário não é dos mais fáceis para a Vale; todavia, por 3,2x Valor de Firma/Ebitda e 9% de dividend yield, vemos boa parte do cenário negativo precificado”, finalizou.