Há uma parte ruim de ter trazido a Luciana Seabra do Valor: agora não temos onde ler boas entrevistas do Luis Stuhlberger. A parte boa é que não precisamos mais ler o Valor. E a parte ótima, claro, é o trabalho heróico que ela desenvolve aqui com as análises dos fundos de investimentos.
Na entrevista de 2015 à Luciana, Stuhlberger disse assim: “este ano vai ser a história de Jó. Você tem Deus conspirando contra o Brasil: não dá água, não tem energia, os preços das commodities estão caindo, o governo aperta em 2% do PIB…”
Stulhberger nunca erra – desculpe, mas o sujeito que, quando está equivocado, entrega 110% do CDI, não erra. Neste caso particular, se suas convicções não convergem para a realidade, tenho certeza de que a culpa é da teimosa e inflexível realidade.
Bom, então, obedecendo disciplinadamente à ordem, se 2015 foi o ano de Jó, 2016 trouxe os Salmos e agora estamos nos Provérbios.
De fato, o paralelo com a sequência bíblica faz sentido. Ao menos na minha cabeça. Talvez seja apenas um wishful thinking, um desejo íntimo disfarçado de narrativa analítica. Talvez não. Se soubéssemos com precisão onde começam e terminam nossos vieses cognitivos, não seriam vieses cognitivos…
Provérbio é uma frase sintética, lacônica, mas provida de todo significado e conteúdo, representativa de uma mensagem adquirida a partir da experiência – o conhecimento e a cultura emanando da prática. A evidência empírica acumulada à frente de teorias platônicas, servindo à orientação da vida cotidiana.
Salomão, filho de Davi, rei de Israel, teria sido um dos principais escritores do livro dos Provérbios, compondo junto às passagens de Jó e Eclesiastes a fundamentação filosófica essencial da Bíblia. Dai, justifica-se o título original da obra, do hebraico Mishlê Shelomoh (Provérbios de Salomão). Seu propósito é alcançar a sabedoria, a disciplina e a vida prudente, a partir do fornecimento da adequada instrução moral.
Assim, na minha metáfora, 2017 seria o ano da disciplina (ajuste fiscal, PEC do teto de gastos, reforma da Previdência, aumento das taxas de poupança), da depuração moral (ápice da Lava Jato, que alijará da disputa presidencial todo o escopo político tradicional e obrigará surgimento de uma nova liderança – Doria em 2018?) e da valorização da cultura popular (a vitória do conhecimento de rua sobre as teorias acadêmicas esterilizadas e pasteurizadas, a derrota de Dr John para Fat Tony – os personagens descritos aqui ontem -, a eliminação dos idiot savants e seus ternos vazios, numa invasão bárbara dos praticantes, XP e companhia limitada contras os gerentes dos bancos…).
No conhecimento prático, não há platonismo. Aqueles que esperam uma reforma ideal da Previdência certamente vão se frustrar. Por definição, essa está apenas no mundo das ideias.
Faremos a reforma possível e necessária para que se cumpra o teto de gastos, o que exigirá nova reforma em quatro ou cinco anos. Mas basta. O fundamental é o controle de gastos como um todo, ou seja, obedecer ao teto. A Previdência precisa ser ajustada justamente para que possamos cumprir a PEC do teto de gastos. Não pode ser vista de forma isolada, como um elemento ensimesma.
Arrumamos um pouco agora, e mais um pouco daqui cinco anos. E, claro, outro tanto em dez anos. E assim vai. A mim, a essência da coisa está no respeito ao teto de gastos. Esse é o ponto nevrálgico da trajetória da dívida pública. Não vejo a Previdência como um fim em si, mas como um meio – essencial, sim – para viabilizar o respeito ao crescimento do gasto conforme a inflação, sem o qual a dinâmica da dívida é explosiva. Sem Previdência nova, não há respeito ao teto de gastos. E sem teto de gastos não há solução para a trajetória da dívida que não passe por hiperinflação, calote ou elevação brutal de impostos.
Há uma parte boa de o Brasil ser macunaímico, talvez só uma: ele não tem vocação para a explosão. “Filho meu, se os pecadores procuram te atrair com agrados, não aceites.” A hora não admite a demagogia das corporações e dos partidos defensores dos pobres. O momento exige sabedoria e disciplina. A observação empírica de experiências semelhantes (Grécia?) sugere necessidade de firmeza. A verdadeira sabedora está reservada para os retos.
Mercados brasileiros iniciam a terça-feira ponderando otimismo no exterior e manifestação do PSB contrário à reforma da Previdência. Bolsas internacionais apontam alta, ainda empurradas por resultado de eleição francesa e expectativa por plano fiscal de Donald Trump, esperado para esta semana.
Por aqui, cena política é destaque. Governo conta votos e mantém articulação pesada em torno da Previdência, após PSB, supostamente um partido da base, mostrar-se contrário às novas regras. Votação de parecer sobre reforma trabalhista atrai atenções – além da importância em si da matéria, questão serve de referência para apoio da base às reformas fundamentais, servindo de proxy para comportamento na votação da Previdência.
Agenda econômica traz dados das contas externas brasileiras. Nos EUA, temos confiança do consumidor, vendas de casas novas e atividade do Fed de Richmond, além de uma porção de resultados corporativos relevantes.
Ibovespa Futuro abre em leve alta de 0,3 por cento, atento às bolsas internacionais. Dólar sobe 0,8 por cento contra o real, na esteira do desempenho de outras moedas emergentes e de olho nos contratempos em torno da reforma da Previdência. Juros futuros sobem, enquanto observam elevação do yield dos Treasuries e temor com reformas.
Hoje temos um convite especial a todos e só aqueles com interesse em incrementar sua renda mensal. Se este é o seu caso, vale a pena conferir este material.