Investimentos

Modalidade Play-To-Earn é tendência no mundo dos games e conquista cada vez mais investidores

O grande fator de atratividade é que os gamers podem atuar na construção do universo dos jogos, mas alto valor dos NFTs ainda dificulta adoção em massa

Por Mateus Cerqueira

28 abr 2022, 12:21 - atualizado em 16 maio 2022, 16:37

Os jogos da modalidade Play To Earn (P2E ou jogue para ganhar) estão se tornando cada vez mais populares entre jogadores e investidores de ativos digitais. A explicação para esse fenômeno se centra na essência descentralizada desses jogos em blockchain, nos quais os gamers podem ser ativos na construção dos seus universos e ser donos certificados de tokens não fungíveis (NFTs, da sigla em inglês) nos jogos.

Só em 2021, segundo a empresa de estática e pesquisa de mercado Statista, os jogos em Blockchain obtiveram investimentos na ordem de US$ 3 bilhões. E o crescimento é exponencial, pois somente no primeiro trimestre deste ano mais de US$ 2,5 bilhões foram direcionados para essa modalidade, com a previsão de investimento de mais US$ 10 bilhões até o final de 2022, conforme apontou a DappRadar.

Segundo Vinícius Bazan, analista chefe do setor de inteligência de criptomoedas da Empiricus, em recente relatório aos assinantes da série Crypto Legacy, os números são o resultado do crescimento e aprimoramento das comunidades virtuais nos jogos do tipo play-to-earn, os quais estão exigindo cada vez mais recursos

“O que presenciamos com a ascensão dos games com inúmeros jogadores é a quebra de relação ‘jogador versus console’ para promover a relação ‘jogador versus jogador”’, pontua o analista. “Com isso, os jogos foram ganhando outras funcionalidades, angariando mais adeptos. E não à toa, hoje temos o play-to-earn que une diversão e investimentos”, acrescenta.

Negociação dos NFTs via smart contracts

A popularidade dos jogos desta modalidade, segundo Bazan, se deve ao  avanço da tecnologia blockchain, a qual promoveu a descentralização e posse dos ativos digitais no universo dos games. “Ao criar a possibilidade de NFTs via smart contracts, criou-se também outra possibilidade de interação com os jogos e um novo olhar dos investidores de criptomoedas para a modalidade P2E”, diz.

O analista fala dos contratos inteligentes (Smart Contracts), softwares autoexecutáveis dentro da blockchain que armazenam todas as informações dos NFTs e verifica se todos os termos estão sendo cumpridos durante a venda ou compra desses tokens. 

“Eles funcionam basicamente como garantidores da imutabilidade dos tokens, em que se verifica desde a identidade do criador até o histórico deste item na blockchain. Em outras palavras, os contratos inteligentes garantem que os NFTs sejam únicos e sejam transacionados de forma legal, razão pela qual eles têm valor”, acrescenta.

Nesse sentido, a vivência dentro do universo gamer não fica mais restrita a plataforma ou ao seu desenvolvedor, uma vez que ao permitir  que os jogadores criem itens e avatares tokenizados, eles poderão negociá-los livremente dentro da blockchain, sem demasiadas preocupações. Isso pois, anteriormente, os jogadores recorriam à negociação dos seus itens fora da plataforma do jogo, como observou Bazan.

Alto valor para entrada nos jogos P2E ainda é um entrave para sua popularização

Axie Infinity (AXS), Alien Worlds (TLM) e The Sandbox (SAND) são alguns dos jogos mais famosos que fazem uso da blockchain para o funcionamento do seu ecossistema de compras, vendas e trocas de NFTs.

Contudo, apesar de ganharem cada vez mais adeptos, tais games ainda não foram adotados em massa por exigirem a compra prévia de um NFT para entrada no universo do jogo. “Os tokens podem ter valores altos para os jogos, podendo ser acima de US$ 100,00 ou US$ 1000,00. Isso pode desmotivar os gamers a pagar um preço tão alto para entrada”.

No Brasil, isso pode representar um desafio para a adoção em massa do P2E, visto que o desemprego atinge o principal público consumidor desses jogos: jovens de 16 a 24 anos, conforme dados de 2021 da Secretaria de Política Econômica. Para Bazan, isso poderá ser contornado uma vez que as comunidades de gamers estão ficando cada vez mais acessíveis, a exemplo das guildas.

O termo se refere a um grupo de jogadores que compartilham os mesmos dados para sua participação no P2E. No universo gamer, eles são conhecidos como clãs ou facções que prezam pelo cuidado mútuo. A construção dessas mini comunidades leva em consideração os objetivos em comum das pessoas: obter renda por meio das partidas, ou simplesmente se fortalecer para avançar nos desafios.

A hora é agora

Bazan finaliza seu relatório alertando que ainda existem riscos na modalidade P2E, uma vez que há muito a ser desenvolvido e aprimorado. Entretanto, o analista vê que o momento é propício para se posicionar em bons ativos relacionados a esses jogos.

“A indústria do play-to-earn está crescendo em número de usuários e de investidores. Acredito que a hora de entrar nesse universo seja agora”.

 

Sobre o autor

Mateus Cerqueira

Jornalista em formação pela Universidade de São Paulo. É integrante da equipe de conteúdo da Empiricus. Teve passagem pela Jornalismo Júnior (ECA-USP) e já atuou como assistente de comunicação na Força Área Brasileira.