Investimentos

Mudança no fluxo de capital: EUA estão deixando  de ser o ‘aspirador de recursos’ do mundo?

Para Felipe Miranda, CIO e estrategista-chefe da Empiricus, e João Piccioni, CIO da Empiricus Gestão, o pico do excepcionalismo americano beneficia os mercados emergentes

Por Bruna Vogel

14 mar 2025, 09:37 - atualizado em 14 mar 2025, 09:45

mudança no fluxo de capital mercados emergentes

Imagem: iStock/Gearstd

Historicamente, os Estados Unidos foram considerados o grande “aspirador de recursos” globais, absorvendo investimentos devido à sua estabilidade econômica, crescimento consistente e liderança em setores-chave como tecnologia. 

No entanto, essa realidade pode estar mudando, segundo Felipe Miranda, CIO e estrategista-chefe da Empiricus, e João Piccioni, CIO da Empiricus Gestão.

Segundo os analistas, a ordem econômica global está se transformando rapidamente, juntamente com o fluxo de capital, com consequências significativas para os mercados emergentes.

Nova rota do capital: China e Europa “sugam” recursos tradicionalmente concentrados nos EUA 

Para Miranda, essa ideia de que os EUA sempre terão protagonismo global pode estar se desfazendo. A grande discussão atual gira em torno do pico do excepcionalismo americano. A distância entre os Estados Unidos e o restante do mundo vem diminuindo, o que é um fator positivo para os mercados emergentes“, explica.

Piccioni observa que o fluxo de capital para a China e Europa se intensificou, devido à maior disposição desses mercados em criar condições favoráveis para o crescimento econômico. “O que vemos agora é um processo no qual os EUA, que eram o aspirador de pó de recursos globais, estão começando a devolvê-los para outras regiões”.

Essa mudança se deve, em parte, às incertezas geradas pelo discurso político de Donald Trump e à crescente percepção de que a ordem mundial estabelecida após a Segunda Guerra Mundial já está em colapso. “A invasão da Ucrânia pela Rússia e o roubo de propriedade intelectual pela China são provas de que as regras do jogo mudaram”, afirma Miranda. 

Um novo ciclo para mercados emergentes?

A Alemanha é um dos exemplos mais citados dessa mudança no fluxo de capital. Segundo Piccioni, o governo alemão tem impulsionado planos de crescimento e investido fortemente em infraestrutura e defesa, criando oportunidades atrativas para investidores. Como resultado, a bolsa alemã [de Frankfurt] tem sido a que mais sobe na Europa, e os fundos de índice (ETFs) atrelados à região estão captando cada vez mais capital global.

Para Miranda, o movimento de redistribuição de capitais também sugere um possível retorno do período de crescimento para os mercados de países em desenvolvimento. “Os ciclos de mercados emergentes são muito longos. Estamos num ciclo ruim desde 2010. Entre 2000 a 2010, a década perdida foi para a bolsa americana – a Nasdaq ficou praticamente parada –, enquanto os emergentes, como o Brasil, tiveram um desempenho excepcional”, explica.

O período de 2010 a 2024, por outro lado, foi amplamente favorável ao setor de tecnologia americano. Agora, segundo o estrategista-chefe da Empiricus, essa trajetória pode estar mudando. 

No Brasil, o início de um novo ciclo pode coincidir com um cenário favorável, especialmente diante da expectativa de corte da Selic no final do ano e do peso crescente do chamado trade eleitoral. “Não há dúvidas de que estamos vivendo um período errático e volátil nos mercados globais, mas a tendência subjacente segue sendo de alta”, ressalta.

Para acompanhar a discussão completa, assista à gravação da live do Carteira Universa clicando no vídeo abaixo.

Sobre o autor

Bruna Vogel

Bacharel em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo/USP e mestre em Estudos Latino Americanos e Caribenhos pela New York University/NYU, é redatora do site da Empiricus.