Investimentos

Netflix (NFLX): resultado do 1T23 traz novidades mistas

Números do balanço veio em linha com o esperado pelos analistas, mas vale a pena ter a ação na carteira? Veja avaliação completa

Por Richard Carboni Camargo

19 abr 2023, 09:47 - atualizado em 19 abr 2023, 12:32

Netflix - resultados 4T22
Imagem: Unsplash

Ontem a noite (18), a Netflix (Nasdaq: NFLX | B3: NFLX34) divulgou seus resultados referentes ao primeiro trimestre de 2023 (1T23).

Após a divulgação, as ações chegaram a cair 12% no pregão noturno, porém rapidamente se recuperaram, encerrando o “after” praticamente estáveis.

As novidades foram mistas: pelo lado positivo, os gastos com conteúdo foram significativamente reduzidos na comparação anual; do lado negativo, as iniciativas da empresa para evitar o compartilhamento de contas entre usuários (e melhorar suas receitas), estão rodando numa velocidade inferior ao esperado. 

Em relação aos números, o 1T23 veio em linha com o esperado pelo mercado, com surpresa positiva na geração de caixa.

A receita foi de US$ 8,16 bilhões (+3,7% na comparação anual e em linha com o consenso) e a quantidade de usuários ativos, que somou 232,5 milhões, representou um crescimento de 4,9% na comparação anual.

Em termos de adições líquidas, os 1,75 milhões de novos usuários que se juntaram ao streaming no 1T23 representam uma reversão à média e uma notável desaceleração em relação ao último trimestre, onde a empresa havia adicionado 7,6 milhões de novos clientes.

Sobre os números, pesaram dois fatores: a implementação do plano de anúncios (mais barato que os demais planos) e o “crackdown” que a Netflix tem promovido em contas compartilhadas.

Implementado no Canadá e em alguns países europeus, a Netflix tem exigido que seus clientes definam uma localização primária para suas contas; outros usuários que estejam cadastrados no mesmo perfil, porém em localizações diferentes, terão de pagar uma tarifa adicional ao valor da subscrição.

Com essa medida, a Netflix espera reduzir um pouco da “pirataria” que ainda existe na plataforma. 

Pelas estimativas da empresa, cerca de 43% de seus mais de 230 milhões de clientes compartilham contas com outras pessoas que deveriam estar pagando suas próprias assinaturas.

O crackdown, porém, tem sido implementado lentamente. O mercado esperava que a empresa já tivesse atacado todos seus grandes mercados já neste começo de 2023, mas a Netflix sequer começou a implementação nos EUA, seu mercado mais importante.

No geral, a abordagem me parece correta: com a implementação lenta, a empresa consegue identificar e testar as melhores estratégias. 

Até aqui, o padrão observado tem sido o seguinte: primeiro, o usuário impactado pelo crackdown costuma cancelar sua conta; alguns meses depois, a maioria deles retorna como um usuário novo, agora pagante.

Ou seja, há um impacto de curto prazo, porém parece haver um benefício real de longo prazo.

Em termos de rentabilidade, a Netflix apresentou uma margem operacional de 21%, cerca de 4 pontos percentuais menor que no mesmo trimestre do ano passado.

O principal detrator de margens foi o câmbio, que representou 3,5 pontos percentuais da queda.

Já a geração de caixa livre foi de US$ 2,1 bilhões, um salto de 263% frente ao mesmo trimestre do ano passado.

O grande fator que explica o salto na geração de caixa foram os gastos menores com conteúdo: no 1T23 a Netflix gastou US$ 2,45 bilhões em conteúdo, contra US$ 3,5 bilhões no ano passado.

A redução nos gastos está em linha com a história que a empresa conta ao mercado, de estabilizar seus investimentos num patamar de manutenção (basicamente recompor a amortização) e passar a gerar mais caixa.

Entre prós e contras, minha leitura do resultado é positiva: o mais importante para o investidor da Netflix, que é a rentabilidade, está no caminho correto.

Para 2023, a companhia manteve seu guidance de uma geração de caixa livre de US$ 3 bilhões, porém seus executivos disseram que US$ 3,5 bilhões é um número possível. 

No fechamento de hoje, a Netflix valia US$ 148 bilhões. Mesmo sabendo que o mercado precifica a capacidade futura de resultados das companhias, um múltiplo 42x o fluxo de caixa dos próximos 12 meses, com crescimento de receitas em um dígito baixo, não nos parece nada atrativo.

Nas nossas carteiras internacionais da Empiricus, não temos uma exposição à Netflix. Preferimos ficar de fora aos preços atuais. 

Você também pode conferir uma análise aprofundada no programa de hoje do Giro do Mercado, em que avalio os resultados do balanço da empresa:

Programa “Giro do Mercado”, transmitido ao vivo às 12h no YouTube da Empiricus

Economista formado pela Universidade de São Paulo (FEA-USP), é analista de ações certificado pelo CNPI, especialista no setor de tecnologia, com foco em ações internacionais. Está na Empiricus há 5 anos, onde é responsável por relatórios nacionais e internacionais, como o MoneyBets Revolution, um portfólio de teses especulativas em segmentos como healthtech, energia sustentável, software e games. Antes da Empiricus, trabalhou por 5 anos no setor de tecnologia.

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