Depois de muito tempo, as ações da Nike Inc. (NYSE: NKE/ B3: NIKE34), na Bolsa de Nova York, negociam a preços mínimos, em torno de US$ 105 por ação. Esse patamar foi atingido pela última vez há 15 anos. Trata-se de uma queda de 40% em relação aos preços máximos negociados ao final de 2020.
Na visão de Richard Camargo e João Piccioni, analistas de investimentos internacionais na Empiricus Research, esse momento abre uma oportunidade de compra das ações da gigante a preços muito próximos do que consideram um “excelente canal de entrada numa das melhores empresas do mundo”, como afirmam.
“Podemos discutir todos os desafios macroeconômicos que enfrentamos atualmente, porém é difícil defender que eles possuam a mesma magnitude dos riscos sistêmicos que basicamente implodiram a economia mundial naquele período”, escreve Richard em relatório da série Investidor Internacional.
O analista também conta que, em dezembro de 2020, já gostaria de poder incluir Nike entre as ações recomendadas da Empiricus Research, mas que o preço ainda não permitia. Entre agosto e dezembro de 2020, as ações da empresa dispararam, saindo de US$ 95 para US$ 140, numa alta praticamente ininterrupta.
“Uma das primeiras conversas de que me lembro envolvido com o João [analista-chefe das séries internacionais da Empiricus] era sobre como, mais uma vez, tínhamos perdido uma chance única de entrar nas ações da Nike. Ali, ele nos prometeu em um comitê: ‘o dia que a Nike voltar nos US$ 100, a gente compra'”, conta Richard. “Esse dia, que só poderia vir caso a empresa se visse em algum tipo de apuros (afinal, suas ações precisavam cair quase 40%), enfim chegou”.
Por que a tendência agora é a Nike voltar a crescer?
Para entender o potencial de crescimento da empresa, é preciso dar um passo atrás.
Segundo Richard, além de todo ciclo de expansão e contração de demanda ocasionados pela pandemia, a Nike sofre hoje de três males:
- Pressão de margens (insumos e inflação);
- Desaceleração de demanda (especialmente na China, um dos seus maiores mercados);
- Altos estoques, que tem contribuído para uma alta atividade promocional e reforçado a pressão nas margens.
O ponto “1” é bastante evidente no gráfico abaixo, que compila a margem bruta trimestral da Nike desde o 2T21: “No período, a margem bruta contraiu 3 pontos percentuais, o que não é normal para uma empresa como essa”, afirma o analista.
O ponto número “2” fica explícito na tabela abaixo, que compila as receitas da Nike, por geografia, ao final do 1T23. Todos os continentes mostraram crescimento de duplo dígito, com exceção da China.
E a terceira perna do tripé da “tormenta” que hoje assola as ações está em seu estoque, como ilustra o gráfico abaixo. O nível de estoques saltou de aproximadamente US$ 5 bilhões em 2020, para US$ 8,9 bilhões ao final do último trimestre.
“Obviamente, a inflação e as vendas da Nike cresceram no período, porém seu estoque atual cresceu mais do proporcionalmente a esses dois vetores: hoje a Nike carrega cerca de 115 dias de vendas em estoque, contra uma média de 90 dias anteriores à pandemia”, explica o especialista.
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Em alguns trimestres, a gigante deve estoques e margens
Na visão de Richard, mais importante do que compreender esses vetores, é compreender o que eles têm em comum: são todos efeitos passageiros: “Isso quer dizer que é natural que, dentro de alguns trimestres, a Nike esteja com seu nível de estoques normalizados; essa normalização vai amenizar a necessidade de descontos e, por consequência, ajudar na recuperação das margens“.
O analista também acredita que as vendas da Nike da China, depois de trimestres consecutivos de contração, começarão a ser comparadas às bases deprimidas e então voltarão também a mostrar crescimento. “Como estamos cansados de saber, o mercado tende a extrapolar que essas tendências ruins sigam persistentes por muito tempo”.
Negociada a 28x os lucros estimados para os próximos 12 meses — o que representa um desvio padrão abaixo da média dos últimos 5 anos, a Empiricus Research entende que Nike oferece uma excelente oportunidade de buscar ganhos da ordem de 20% a 30% no horizonte de alguns meses.