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No 4T23, Méliuz (CASH3) tem primeiro lucro depois de IPO e cashback impulsiona geração de caixa

Resultados de Méliuz ultrapassaram as previsões do mercado e mostra que 2023 foi essencial para recalibrar sua estratégia.

Por Felipe Miranda

21 mar 2024, 16:23 - atualizado em 21 mar 2024, 16:23

Méliuz (CASH3) BV Bankly

O Méliuz (CASH3) revelou seus resultados financeiros para o quarto trimestre de 2023, trazendo à luz números que, apesar de incluírem vários fatores extraordinários, foram recebidos positivamente e ultrapassaram as previsões do mercado.

Esta performance indica que 2023 atuou como um período crucial para a empresa recalibrar sua estratégia. Com essa reorientação, antecipamos que 2024 se apresente como o início de um novo ciclo expansivo.

Cashback impulsionou receita e geração de caixa de Méliuz

A tática ajustada do Méliuz, que ressaltamos ao reintegrar a tese na nossa seleção no início do ano passado, focou em reavivar seu modelo de negócios original de cashback, deixando de lado o objetivo anterior de se transformar em banco digital.

Essa revisão estratégica impulsionou tanto a receita quanto a geração de caixa da empresa, alinhando-se às demandas dos investidores por uma rentabilidade sustentável em detrimento de uma expansão acelerada, típica do período de juros reduzidos.

O breakeven de Méliuz veio aí

Este redirecionamento estratégico permitiu ao Méliuz anunciar seu primeiro lucro desde a oferta pública inicial em 2020, com um lucro de mais de R$ 29 milhões, evidenciando um avanço significativo tanto trimestral quanto anualmente, apoiado por uma sólida posição de caixa de R$ 665 milhões.

Superando o prejuízo de R$ 37 milhões em 2022, a empresa registrou um lucro ajustado de quase R$ 40 milhões em 2023, a despeito de um crescimento modesto de receita de 2%.

Este cenário foi viabilizado pela combinação de cortes de custos e melhorias nas margens, transformando um EBITDA ajustado negativo de R$ 93,5 milhões em 2022 em um resultado quase equilibrado em 2023.

Mas vamos por partes.

Shopping Brasil, serviços financeiros e Méliuz Ads foram destaques

Detalhando alguns pontos do resultado, a receita líquida do trimestre alcançou R$ 100,4 milhões, com destaque para os segmentos de Shopping Brasil e serviços financeiros.

No primeiro, houve um incremento de 14% anual, mesmo com a redução do volume de mercadorias vendidas, graças ao bom desempenho do Méliuz Ads.

Já a receita dos serviços financeiros atingiu R$ 16,6 milhões, crescendo 134% em comparação ao ano anterior, parcialmente impulsionado pela migração de contas Méliuz.

Um dos pilares deste êxito foi a otimização do “net take rate”, a parcela de receita retida pelo Méliuz sobre as transações realizadas através do seu app.

Este ajuste, de uma média de 0,4% em um ambiente de baixa taxa de juros para mais de 2% em 2023, aliado a uma reestruturação dos custos e despesas que culminou em uma redução de R$ 83 milhões, foi decisivo para os resultados positivos.

Hora de ampliar a receita

Agora, mirando um EBITDA positivo para o ano corrente, o Méliuz concentra-se agora em ampliar sua receita. Apesar dos desafios macroeconômicos e do foco em ajustes internos em 2023, a empresa almeja um progresso significativo em 2024, especialmente com o lançamento de novidades como Méliuz Ads e Méliuz Prime.

A transação que marcou a venda da sua operação de banco digital, Bankly, para o grupo Votorantim, não significou uma retirada total do segmento de serviços financeiros, mantendo uma presença estratégica através do aplicativo Méliuz em colaboração com o BV.

Esta parceria estabelece a divisão das receitas de produtos financeiros, enquanto o Méliuz beneficia-se adicionalmente por cada serviço financeiro fornecido ou conta aberta no aplicativo.

Com um valuation atrativo e múltiplas frentes para crescimento, incluindo a parceria com o BV e a iniciativa Méliuz Ads, o Méliuz apresenta um potencial de valor considerável diante de um valor de mercado de cerca de R$ 675 milhões e um caixa de R$ 665 milhões.

Isso indica que, com um lucro líquido ajustado e ações sendo negociadas próximas ao valor de caixa, a oportunidade de investimento se mostra com uma assimetria favorável, tendo em vista as expectativas de melhora nos resultados.

Sobre o autor

Felipe Miranda

CIO e estrategista-chefe da Empiricus, é ex-professor da FGV e autor da newsletter Day One, atualmente recebida por cerca de 1 milhão de leitores.