Investimentos

Nova era econômica? O que esperar do Brasil? Uma super aula do Felipe Miranda

“Está acontecendo um grande rearranjo global em que o Brasil pode sair beneficiado”, explica o economista e CEO da Empiricus

Por Isabelli Neckel

26 maio 2022, 16:47 - atualizado em 26 maio 2022, 18:51

Para Felipe Miranda, não há motivo para pânico: o Brasil pode sair beneficiado da quebra de paradigmas que está acontecendo. “É o fim de uma grande era”, resume.

Felipe Miranda é economista, mestre em Finanças e CEO e estrategista da Empiricus. Neste vídeo, ele dá uma super aula sobre a economia brasileira do Plano Real até o pós-pandemia. Ele explica a alta de juros nos Estados Unidos e expõe os motivos pelos quais nosso país tem tudo para se dar bem com os próximos capítulos do cenário econômico global.

Confira os principais pontos desta super aula de Felipe:

Do Plano Real ao pós-pandemia

Felipe Miranda explica 20 anos em 20 minutos. Ele inicia pela história brasileira a partir do Plano Real, em 1994. “O Plano Real estabilizou a inflação, finalmente passamos a ter uma economia estável, mas faltou resolver completamente a questão fiscal”, afirma.

Segundo ele, nesta época, o juro alto atraía capital estrangeiro e fazia um câmbio forte. “Era um momento de otimismo, em que se pensava ‘agora o Brasil domou a inflação’”.

Outro ponto relevante da história econômica brasileira foi o momento de “vacas gordas” que vivemos por volta de 2003 a 2006. O economista afirma que o governo Lula deu sequência ao que vinha sendo feito no governo FHC e pegou um ambiente favorável internacionalmente. 

Nessa época, a economia dos EUA crescia, havia estabilidade de taxa de juro e de câmbio e a entrada da China na jogada demandava commodities. A soma destes fatores beneficiou o Brasil.

Felipe analisa o cenário macroeconômico ano após ano e a aula culmina no governo Bolsonaro. Segundo ele, “Havia uma gestão macro com um viés mais liberal com Paulo Guedes no comando e até 2019 a coisa vai razoavelmente bem na economia, até que chegamos em 2020, quando o mundo vai pro buraco mais uma vez, o liberal vira keynesiano e há o aumentos dos gastos públicos”.

A alta dos juros, principalmente nos EUA, muda todo o cenário

Há alguns anos, era como se algumas empresas dissessem: “lá na frente, daqui a cinco anos, vou te gerar muito lucro, mas hoje vou te dar prejuízo”. De acordo com Felipe Miranda, em um cenário de juro zero não faz diferença 100 agora ou 100 lá na frente, a empresa teria valor aos olhos do investidor do mesmo jeito.

Porém, com os juros mais altos, tudo muda. “Todo esse cenário de promessas mudou. O mercado não topa mais esperar. O efeito do juro é brutal”, resume o estrategista-chefe da Empiricus.

Ele explica que uma das formas de avaliar empresas é o P/L, cálculo em que se divide o preço da ação por seu lucro. E uma forma de decidir se esse valor é justo é comparando com a renda fixa. 

E o que acontece quando os juros sobem? “Em vez de demorar 20 anos para você retomar seu capital na renda fixa, agora vai demorar 8 anos, por exemplo, porque o juro vai te gerar retorno mais rápido. Então, por que você compraria uma coisa que vai demorar 10 anos para te gerar retorno na Bolsa, se a renda fixa te retornaria em 8?”, reflete Felipe.

Então, o que acontece com o preço (P) das ações? “Se todo mundo vende, ele começa a cair. O preço vai ter que cair e é isso que está acontecendo com a Bolsa. Essa queda de múltiplos se chama de-rating, é uma reavaliação para baixo”, explica o economista.

Felipe Miranda também falou sobre a consequência de subir as taxas de juros, que é frear a economia. Segundo ele, quando a economia está pior, o lucro (L) médio das empresas cai. Então, a taxa de juros alta gera dois efeitos: o de-rating e os lucros para baixo.

Para Felipe, está acontecendo um rearranjo global. “Tá tendo uma destruição brutal de valor. Tá vendo o que tá acontecendo com cripto? E com a Nasdaq, que caiu 30% no ano? 10% da Nasdaq caíram mais de 90%!”, lembra.

No meio da turbulência, boas notícias

Tudo isso acontece em um momento em que o Brasil também enfrenta uma inflação alta e lida com um fiscal problemático. “Por isso, o efeito é tão dramático. Mas isso quer dizer que tudo está um desastre, acabou o ano, ferrou geral? Não acho que seja o caso. Temos boas e más notícias na nossa frente”, anuncia Felipe.

Para ele, a má notícia é que os preços tendem a ficar menores, afinal, o mercado está correndo atrás dessa reavaliação. Quanto aos lucros, provavelmente vamos passar por uma recessão moderada, pois deve acontecer um ajuste nos EUA que pode afetar um pouco o Brasil.

Mas nem tudo é ruim. De acordo com Felipe, passado esse ajuste que deve continuar lá fora, encontramos um Brasil que é muito barato: a Bolsa negocia a 6,5 vezes lucro, algo que não aconteceu nem mesmo na era Dilma. Atualmente, o prêmio de risco da Bolsa (o excesso de retorno da bolsa estimado sobre a renda fixa) é o maior da história.

Por que este pode ser o momento do Brasil

Felipe Miranda está certo de que o Brasil tem o que é necessário para se dar bem em um futuro próximo. E há bons motivos para isso. Confira:

1) Nossa democracia. “O Brasil é uma democracia grande e a gente subestimou isso. Depois de Putin, Xi Jinping e afins, até podemos criticar nossa democracia, mas você vai concordar que ela é melhor do que qualquer autocracia”, opina Felipe.

2) Geopolítica privilegiada. “Nosso país está na América Latina, que não tem guerra. Essa posição é privilegiada. Você gostaria de estar perto da China, Ucrânia, Taiwan?”, reflete.

3) Momento do ciclo econômico. “Todo esse aperto monetário que está se iniciando nos EUA, no Brasil já está terminando. E o crescimento do PIB, que todo mundo achava que seria no máximo 0,5%, vai ser mais perto de 1% neste ano”, analisa o economista.

4) Eleições sem incertezas. “Nas eleições, estão dois caras que não são surpresa para ninguém. Você já conheceu Lula por 8 anos e já conheceu Bolsonaro por 4 anos”, diz.

5) Empresas do presente. “Acabou a história do papinho, da promessa. Agora a gente vive um momento de realidade que pode valorizar o Brasil porque o país é um caso de bancos, de commodity, de coisa que dá lucro hoje e não no futuro. E isso nos privilegia”, afirma.

Por fim, Felipe afirma que o que está havendo é um reajuste brutal. O economista conta que toda vez que isso aconteceu, quem teve paciência multiplicou seu capital em três ou quatro vezes. “O Brasil pode ser muito beneficiado com essa mudança de paradigmas”, conclui Felipe Miranda.

Sobre o autor

Isabelli Neckel

Jornalista e trainee na Empiricus