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Novo arcabouço fiscal é ‘último nível de tolerância do mercado para com o governo’, afirma sócio-fundador da Empiricus

Os economistas Felipe Miranda e Rodolfo Amstalden, sócio-fundadores da Empiricus, deram as primeiras impressões do novo arcabouço fiscal, divulgado na manhã desta quinta-feira (30); confira

Por Equipe Empiricus

30 mar 2023, 16:13 - atualizado em 31 mar 2023, 10:46

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Imagem: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Depois de uma espera que pareceu uma eternidade para os investidores, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, apresentou o arcabouço fiscal na manhã desta quinta-feira (30). Para o economista e sócio-fundador da Empiricus, Rodolfo Amstalden, o documento representa “uma espécie de último nível de tolerância do mercado para com o governo”. 

Na visão de Amstalden, o governo parece finalmente ter compreendido o “limite” do risco fiscal e o quanto isso poderia custar à economia. 

Assim, ainda que o analista não veja uma subida meteórica da Bolsa no curto prazo, a divulgação do arcabouço pode dar início a uma reconstrução do “relacionamento entre o governo e o mercado”, bastante arranhada desde o início do mandato.

Além disso, Rodolfo destaca que o anúncio do arcabouço “dá respaldo ao Haddad”. Não custa lembrar que o atual ministro – que tem recebido elogios do mercado – foi, em algumas ocasiões, ofuscado pela ala mais ideológica do partido em prol de uma política mais populista.

Rodolfo lembra também que o evento de hoje é  apenas o início de um processo, que requer atenção em duas frentes: a primeira se refere à aprovação do projeto no congresso, que pode sofrer alterações e vir com “um viés mais market friendly ou mais populista”.

Depois, no efeito desse ajuste sobre a curva de juros. “Os grandes movimentos de Bolsa hoje estão associados a esse canal do juro, seja pela atividade econômica ou pela estrutura de capital das empresas”, afirma. 

A expectativa é que a aprovação do arcabouço fiscal possa pavimentar um movimento de queda de juro por parte do Banco Central, o que favorece os ativos de risco brasileiros. Na ata da última reunião do Copom, inclusive, o BC sinalizou a importância de um arcabouço fiscal sólido para que seja possível começar a pensar em cortes na Selic.

Queda da Selic ‘na marra’ não adianta

Para o sócio-fundador e estrategista-chefe da Empiricus, Felipe Miranda, o arcabouço pode ser o pontapé de um ciclo mais sustentável, desde que o movimento de queda da Selic ocorra baseado em elementos materiais – arrefecimento e expectativas de inflação bem ancoradas, e não “na marra”.

Desde o início do mandato, o presidente Lula e alguns líderes do governo têm pressionado o BC pela redução na taxa Selic. 

Felipe Miranda explica que o fato de a Bolsa negociar a níveis tão baratos, em grande medida, se dá pela alta estratosférica do juro – de 2% para 13,75% – em um curto período de tempo.

“A destruição do juro é brutal. Tira o fluxo da Bolsa porque todo mundo quer comprar renda fixa, as empresas têm despesas financeiras brutais, a economia para e os valuations precisam ser mais depreciados porque a renda fixa paga mais. O efeito é gigantesco”, esclarece.

No entanto, o analista lembra que se o arcabouço fiscal não se provar na prática o juro não deve cair nem tão cedo, o que seria ruim tanto para a economia quanto para a Bolsa.

Para o estrategista-chefe, o arcabouço fiscal apresentado, caso aprovado e seguido, dá previsibilidade aos investidores. “Você estava jogando um jogo cujas regras eram desconhecidas, a incerteza era muito grande. Agora você vem e desenha sob quais regras fiscal o governo vai atuar”, afirma.

Existe a regra e como essas coisas vão se dar na prática. O teto de gastos era uma regra maravilhosa, mas no final do governo Bolsonaro não existia mais. Toda vez empurravam o limite para cima. Mas a ideia de você ter superávit em 2025 e 2026 e ter uma despesa que cresce abaixo da receita parece de fato uma coisa muito razoável”, analisa.

O que esperar depois da apresentação do arcabouço fiscal?

No curto prazo, Felipe vê um movimento de alta da Bolsa, acompanhada de queda dos juros futuros e do dólar. “É um pouco disso que está acontecendo hoje e vamos ver se continua no dia-a-dia, e o que vai sair do congresso”. 

Para Rodolfo, os próximos dias serão de digestão do mercado. “Alguns macroeconomistas vão avaliar e isso acaba ditando a narrativa do mercado. Muito importante ficar atento aos próximos dias porque o exercício de digestão não é instantâneo. É preciso acompanhar esse processo com muito cuidado porque é o grande gatilho do semestre e talvez dos próximos 4 anos do governo”, afirma.

No médio prazo, desde que as coisas “caminhem razoavelmente na média” e o arcabouço seja colocado em prática, Felipe vê a Bolsa em boas condições para engatar um movimento ascendente. “Vamos pegar juro caindo, interrupção do fluxo vendedor e empresas espetaculares negociadas a níveis atraentes. A tendência é uma Bolsa subindo com vigor caso não resolvam explodir o país”, finaliza. 

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