“NTN-B é legal, funciona bem, mas eu nunca gosto de descartar Bolsa na carteira”. Essas são palavras de João Piccioni, Head de Análise da Empiricus Gestão, no Necton Asset Day, ao comentar o cenário atribulado que se desenhou nos últimos dias no mercado financeiro.
Para o analista, ainda que as taxas de retorno oferecidas pelos títulos Tesouro IPCA+ estejam muito atrativas no atual momento (em torno de IPCA+6%), o investidor não deveria deixar de ter pelo menos uma pequena parcela da carteira investida em ações brasileiras.
Se vale a pena investir em Bolsa brasileira, por que o mercado não tem reagido em 2024?
A resposta, segundo Piccioni, está nas expectativas para as taxas de juros brasileira e americana.
“Nos últimos dois meses de 2023, vimos o Ibovespa disparar diante da possibilidade de cortes de juros em 2024 tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos. Porém, a desinflação nos EUA se mostrou muito mais lenta do que se imaginava, o que empurrou pra frente os cortes de juros, e, no Brasil, as sinalizações ruins do governo sobre a questão fiscal preocuparam o investidor gringo”, explica o especialista.
Além disso, Piccioni cita a possibilidade de a Selic subir no curto prazo como mais um impasse para a atrair o investidor à B3, uma vez que a renda fixa passaria a oferecer retorno ainda maior, com risco mínimo.
Para ele, o equilíbrio das contas públicas seria a chave do sucesso, apesar de ser um grande desafio: “Se a gente ajustar melhor nossas contas, talvez justifique a alocação do gringo em Brasil“.
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O que esperar do mercado nos próximos meses?
Piccioni acredita que o Brasil tende a navegar ainda em um mar revolto no segundo semestre, impactado pelo cenário internacional turbulento. “A gente não tem saída a não ser esperar o que vai acontecer lá fora”, afirma.
Ele explica que as próximas decisões de política monetária nos EUA e as eleições para presidente tendem a ditar para onde irá o fluxo de capitais.
“Se o Federal Reserve [banco central americano] abaixar o juro muito rápido, pode causar ainda mais rotation trade, com o mercado tirando dinheiro dos emergentes e comprando mais iene ainda – já que o Japão elevou sua taxa de juros nos últimos dias”.
Piccioni reforça a recomendação de internacionalizar o portfólio
No entanto, independentemente do cenário que vier a se formar no segundo semestre e em 2025, Piccioni reforça a importância de a pessoa física se manter alocada em ativos internacionais.
“Mesmo que o horizonte seja incerto, olha o quanto o S&P 500 subiu só neste ano e o quanto o dólar tem se valorizado. Mesmo sem sabermos os próximos passos do Fed e quem será eleito nos EUA, na Empiricus a gente sempre recomenda ter uma parte do portfólio em mercados internacionais. Isso abre a chance de acumular um bom patrimônio no longo prazo”, finaliza.
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