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Nubank (NUBR33) cancela remuneração de incentivo ao seu fundador: sinal de problemas à frente?

Para analista, decisão do Nubank é negativa no ponto de vista da governança; veja a recomendação do que fazer com a ação

Por Larissa Quaresma, CFA

30 nov 2022, 11:56 - atualizado em 30 nov 2022, 11:56

nubank nubr33
Imagem: Divulgação

O Nubank (NYSE: Nu; B3: NUBR33) comunicou ontem (29), após o fechamento do mercado, o cancelamento do plano de incentivo ao seu fundador, David Vélez.

Do ponto de vista puramente financeiro, consideramos que a decisão é neutra, fazendo pouca diferença na geração de caixa da companhia ou na diluição dos acionistas atuais. Entretanto, enxergamos um sinal negativo do ponto de vista de governança.

O plano de remuneração anteriormente em vigor concederia novas ações a Vélez nas seguintes condições:

  1. Caso as ações de Nu listadas na NYSE superassem US$ 18,69, o fundador receberia 1% de participação adicional na companhia;
  2. Caso as mesmas ações também superassem US$ 35,30, Vélez receberia mais 1% adicional em participação.

Ontem, o papel fechou o pregão cotado a US$ 4,26, bem longe do gatilho necessário para a remuneração.

O cancelamento desse plano terá dois efeitos contábeis. Primeiro, a companhia reconhecerá uma despesa única de US$ 356 milhões no 4T22, referente à soma de todas as despesas futuras com o plano caso este fosse mantido. Essa é uma contabilização exigida pelo padrão da norma seguida pela companhia, o IFRS.

Segundo, a companhia deixará de “despesar” os gastos proporcionais com essa remuneração nos trimestres subsequentes, gerando uma economia agregada de também US$ 356 milhões até 2029. Para o acionista, portanto, o efeito contábil combinado é nulo.

Do ponto de vista da diluição da base acionária, o cancelamento do plano também é neutro. Por mais que a companhia tenha “evitado” uma possível diluição de 2% dos acionistas atuais, é difícil enxergar que o gatilho para essa diluição ocorreria em um futuro próximo.

Lembremos que, para que a diluição de fato ocorresse, seria necessário que a cotação ultrapassasse os US$ 18,69, em outras palavras, que o preço de Nubank se multiplicasse por 4x.

Diante do aperto monetário global, da compressão de preço generalizada das ações de tecnologia, e do momento delicado da inadimplência no Brasil, seria difícil que isso acontecesse no curto prazo.

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No quesito governança, comunicado do Nubank é ruim

Se financeiramente a implicação é neutra, do ponto de vista de governança, vemos o anúncio como negativo.

Primeiro, porque é uma admissão pública de que a gestão não acredita no atingimento desse gatilho de preço tão cedo, mandando um sinal negativo para quem está comprado na ação.

Segundo, porque o cancelamento do plano deve diminuir as despesas a partir de 2023, suavizando a visão dos lucros trimestrais a partir de então.

Para dar uma ordem de grandeza, no 3T22, a despesa referente a esse plano foi de US$ 6 milhões, valor esse que, caso não tivesse sido reconhecido, quase dobraria o lucro líquido da companhia, que foi de US$ 8 milhões no período. Isso nos faz imaginar se há algo acontecendo no operacional que motive essa suavização de lucros a partir do ano que vem.

Depois de mais um sinal confuso da gestão, reforçamos nossa visão negativa para a ação.

A Empiricus tem uma recomendação de short em Nubank (NYSE: Nu; B3: NUBR33), que está presente como posição vendida em diversas carteiras da casa.

Sobre o autor

Larissa Quaresma, CFA

Analista de ações há 10 anos, é responsável pela série As Melhores Ações da Bolsa e pela carteira mensal Empiricus 10 Ideias, além de integrar a equipe da Carteira Empiricus, o portfólio multimercado da casa. Ao longo da carreira, teve passagens pela Núcleo Capital, tradicional fundo de ações brasileiro, e pelo Credit Suisse. Administradora formada pelo Ibmec-MG, aluna visitante da Stanford University e com certificações CFA, CNPI e CGA.