O Nubank (NUBR33) divulgou, na noite da última segunda-feira (14), seus números do 3T22, que vieram acima da expectativa, com lucro líquido positivo, pela primeira vez.
Entretanto, esse lucro foi ajudado por uma provisão pequena demais diante da inadimplência, que cresceu substancialmente. Ainda, as taxas de crescimento mantiveram a tendência de desaceleração observada nos trimestres anteriores.
Na vertical de crédito, a carteira total de empréstimos ficou em R$ 53 bilhões, crescimento anual de 83%, uma desaceleração versus os 109% do 2T22 e os 126% do 1T21.
O arrefecimento se deve à estagnação da originação, que está em R$ 5 bilhões por trimestre desde o final do ano passado.
Durante a teleconferência de resultados, os executivos mencionaram que manterão esse ritmo de concessão até que a inadimplência melhore, então a desaceleração deve continuar nos próximos trimestres.
A margem financeira bruta (receita de juros menos o custo de captação) cresceu 170% anualmente, para R$ 2,8 bilhões. O crescimento acima da carteira de crédito se deve à reprecificação dos empréstimos pessoais, que estão sendo originados a uma taxa maior, efeito parcialmente compensado pela Selic mais alta, que aumenta o custo de captação – mesmo depois que a companhia reviu a regra dos dépósitos, que só são remunerados pelo CDI após 1 mês de permanência.
Inadimplência cresce e é destaque negativo
O grande destaque negativo do balanço do Nubank foi a inadimplência. O índice de empréstimos atrasados há mais de 90 dias cresceu 0,6 p.p., mas na nova metodologia de cálculo, mais agressiva.
Na metodologia anterior, mais conservadora, o indicador teria crescido 1,3 p.p., para 5,4% da carteira de crédito, índice já bem superior ao pré-pandemia. Ainda, mais premissas agressivas fizeram com que a provisão para as perdas crescessem em um ritmo inferior ao sugerido pelos índices de atraso.
O índice de cobertura, razão entre a provisão e os empréstimos em atraso há mais de 90 dias, caiu 12 p.p., para 223%. Com isso, a provisão ficou em R$ 2,0 bilhões, crescimento anual de 193% – essa taxa teria sido bem maior caso a cobertura estivesse constante. Assim, a margem financeira líquida (após a inadimplência) cresceu 125%, para R$ 790 milhões.
Vale notar que o índice de atraso de 15 a 90 dias, considerado indicador antecedentes para a inadimplência acima de 3 meses, continua crescendo: o aumento foi de 0,5 p.p., para 4,2% da carteira total.
Na vertical de serviços, também se observa desaceleração de crescimento. O volume transacionado pelos clientes nos cartões cresceu 75% no 3T22, versus 94% no 2T22 e, também, 94% no 1T22. Com isso, as receitas de tarifas e comissões cresceu 72%, para R$ 1,7 bilhão, versus expansões de 93% no 2T22 e 99% no 1T22 (crescimentos em bases cambiais constantes).
Devido ao crescimento de receita, houve diluição das despesas administrativas. Essa linha totalizou R$ 2,2 bilhões, o que representa 32% da receita, versus 51% no 3T21. Com isso, o Nubank entregou seu primeiro lucro líquido positivo, de R$ 36 milhões.
Nubank negocia a valuation pouco atrativo e é recomendação de short
Enquanto o efeito de alavancagem operacional de fato ajuda na geração de lucros, é preciso observar a tendência de desaceleração no crescimento. Além disso, as premissas arrojadas envolvidas nos indicadores de inadimplência podem ter sido a diferença entre um potencial prejuízo e o lucro líquido positivo entregue.
Reconhecemos a capacidade de execução da companhia, mas diante do ambiente ainda difícil em termos de inadimplência à pessoa física, principalmente em linhas sem garantia, como é o caso do Nubank, acreditamos que o operacional deve continuar pressionado.
Por fim, o valuation ainda muito premiado, principal ponto da nossa visão negativa para a ação, permanece: o índice preço / patrimônio líquido está em 4,5x, versus 0,8x de Inter e 1,2x de Banco Pan. Sendo assim, mantemos nossa recomendação vendida para Nubank (NYSE: NU; B3: NUBR33).
Confira a análise completa de Larissa Quaresma: