Em meio à turbulência econômica e política vivida pela economia global, a bolsa de valores brasileira dá sinais de otimismo para os investidores.
A alta de 6,16% do Ibovespa em agosto frente à queda de -4,12% do S&P 500 (em reais) no mesmo período é só um dos indícios da diferença de cenário em que se encontram as duas economias.
As principais bolsas pelo mundo até acenaram com uma recuperação, mas tudo não passou de um bear market rally – pequena alta em um mercado em meio a uma tendência geral de baixa.
Um dos motivos que trouxeram o retorno do desânimo aos investidores internacionais foi a declaração do presidente do Fed, Jerome Powell, no final de agosto, em Jackson Hole. O discurso duro deu a entender que a reunião do banco central americano desta semana, em 20 e 21 de setembro, deve sacramentar uma nova alta na taxa básica de juros de 0,75 pontos-base.
O número é acima das projeções do mercado, que nutria a expectativa de que o ciclo de altas poderia estar perto do fim. A expectativa agora de uma alta de 0,75% desfavorece os ativos de risco, diminui o apetite dos investidores para este tipo de investimento e, como consequência, breca qualquer tentativa de subida das bolsas.
Na Europa, o ciclo de alta nas taxas de juros também parece estar longe do fim. O economista-chefe do Banco Central Europeu (BCE) afirmou na última quarta-feira (14) que as taxas devem ser elevadas nos próximos “vários encontros”.
Antes, em 8 de setembro, o BCE já havia elevado a taxa em 0,75%, maior índice desde 2011.
Projeções com relação à inflação indicam cenário de otimismo para a bolsa brasileira
Na contramão de tudo isso está o Brasil. O país aparece em um ciclo mais avançado, com a inflação caindo. As projeções para 2023 no relatório Focus – publicação do Banco Central com as expectativas do mercado – também são otimistas e mostram um descolamento da situação econômica brasileira em relação à mundial.
Para efeito de comparação, o head de gestão de recursos da Empiricus Investimentos, Rodrigo Knudsen, vê uma pequena probabilidade de que o BC eleve a taxa básica de juros brasileira, Selic, em 0,25% na próxima reunião do Copom, que ocorre também nos dias 20 e 21 de setembro. A chance de a atual taxa ser mantida (13,75% ao ano), é ainda maior.
“O Brasil está numa situação muito melhor. Nossa bolsa já estava muito barata. Se não ocorrer algo muito extraordinário nos EUA, com certeza esse descolamento deve continuar, com nossos ativos performando melhor”, afirmou em live mensal da série Melhores Fundos de Investimento, da Empiricus.
Veja o rendimento dos fundos da Empiricus Investimentos em agosto:
Os números dos principais índices de referência também deixam claro a diferença de momento que vive o mercado de ações no Brasil e nos EUA.
Enquanto o principal benchmark da B3, Ibovespa, subiu 4,50% do início do ano até o final de agosto, o S&P 500 teve um desempenho muito inferior, com queda de quase 20% no mesmo período.
No mês passado, enquanto o Ibovespa subiu 6,16%, o S&P 500 apresentou variação negativa de 4,12% em reais.
Inflação em setembro deve continuar negativa
O analista da série Melhores Fundos de Investimento, Bruno Mérola, acredita que, assim como em julho e agosto, o Brasil deve dar continuidade ao descolamento ao manter a inflação negativa em setembro.
“O fato de o Brasil ter começado a fazer o movimento de alta de juros antes se refletiu agora. Enquanto nos EUA, tivemos, na virada do semestre, uma mudança do tema ‘inflação’ para o tema ‘possível recessão’, e isso acabou refletindo na bolsa americana”, analisou na última live Família FoF Melhores Fundos.
Um fator que pode preocupar os investidores brasileiros são as eleições. Segundo Mérola, os gestores com quem conversou não veem um impacto tão grande no mercado, independente de quem for eleito para a presidência da República.
Ao mesmo tempo, ao final da corrida eleitoral e da incerteza dos investidores, um novo fluxo de dinheiro pode entrar no país.
“Essa questão é curiosa, os gestores têm falado para a gente que a eleição é “não-binária”. Seja um candidato ou outro, não vai mudar tanto o mercado. Ao mesmo tempo tem um paradoxo, porque eles falam que depois da eleição a incerteza diminuirá e o fluxo virá. Eles acham que fundamentalmente não muda tanta coisa, mas em fluxo, muda”, finaliza.