O Copom surpreendeu parte do mercado e cortou a Selic em 0,50%. Pelo início de ciclo de afrouxamento monetário robusto, o normal seria esperar uma alta vigorosa do Ibovespa no pregão desta quinta-feira (3).
Não foi o caso. O índice fechou o dia em queda de 0,23%.
O que aconteceu? O mercado subiu no boato e caiu no fato? O corte de 50 pontos-base já estava precificado?
Fatores externos pesam sobre o Ibovespa
De acordo com o fundador e estrategista-chefe da Empiricus, Felipe Miranda, alguns motivos levaram à resposta negativa do Ibovespa.
Primeiro, o aumento do juro real longo brasileiro. O dólar subiu 1,94% hoje e, segundo Miranda, contaminou os demais bens da economia.
“As taxas de juros de mercado estão subindo hoje no mundo inteiro, e o mercado arbitra isso. Se o juro nos EUA subiu, aqui vai subir junto”.
Parte do mal humor dos mercados internacionais vem da redução do rating norte-americano pela Fitch, o que trouxe aversão ao risco. “Isso traz também um ambiente pior para os ativos locais”, afirmou.
A preocupação com a defasagem de preço da Petrobras também impacta na percepção da inflação brasileira. “Estamos ficando cada vez mais defasados em termos de necessidade de aumentar o preço da gasolina, o que vai bater na inflação”.
Apesar disso, é possível ver empresas diretamente relacionadas com a queda do juro performando bem no pregão. Prova disso é que o índice de small caps teve desempenho melhor que o Ibovespa hoje.
Copom dividido é problema?
Miranda destaca alguns pontos positivos da reunião do Copom, como o voto consensual entre o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e o novo diretor de política monetária indicado por Lula, Gabriel Galípolo.
Quanto ao fato de a decisão não ter sido unânime (foram 5 votos favoráveis a uma redução de 50 bps contra 4 a favor de uma redução de 25 bps), o estrategista-chefe não vê problemas. “O mercado e os economistas também estavam divididos”.
Até onde vai o corte da Selic?
O analista se diz animado com os ativos de risco brasileiros e com o ciclo de afrouxamento como um todo. Para ele, é possível que o BC reduza a taxa até 7,5% ao longo do tempo.
“O BC tem o juro neutro como 4,5%. A meta de inflação é 3%. Então o juro neutro nominal é 7,5%. A gente deve então caminhar pelo menos para o 7,5%, que é bem mais baixo do que está precificado na curva de juros”.
Para 2023, a sinalização do BC é um corte também de 0,50% nas três reuniões que restam. Assim, a Selic ficaria em 11,75% ao final do ano.
O analista macro da Empiricus Research, Matheus Spiess, também vê o momento com otimismo.
“Da última vez que tivemos um ciclo de flexibilização sóbrio, de 2016 a 2019, observamos um grande ganho para o mercado de capitais brasileiro.”
Por isso, o Ibovespa deve ter um segundo semestre de alta, assim como foi o primeiro. O bom momento deve se estender ao longo do ciclo de queda da Selic.
“É uma trajetória que tende a ser muito positiva para a Bolsa brasileira, que já antecipou parte do processo, mas deve caminhar ainda mais ao longo dos próximos meses”.
Dentre os setores, Spiess vê as companhias cíclicas domésticas, incorporadoras e small caps como as mais beneficiadas pela tendência de alta.
“Tudo que estava mais endividado antes e sofreu ao longo dos últimos meses deve andar bem, porque você vai ter um ganho de resultado financeiro”.