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O que é dominância fiscal e por que o termo pode ‘dominar’ a economia nas próximas semanas? Analista da Empiricus responde

Analista de macroeconomia da Empiricus Research explica como o cenário de dominância fiscal pode se agravar no Brasil. Entenda.

Camila Paim Figueiredo Jornalista

Por Camila Paim

17 dez 2024, 10:43 - atualizado em 17 dez 2024, 10:43

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Imagem: iStock/ MicroStockHub

O Banco Central elevou a taxa Selic em 100 pontos-base e contratou mais duas altas da mesma escala para o início de 2025. A atitude porém não surtiu efeito na tentativa de “acalmar” o câmbio e a curva de juros futuros.

O que acontece no cenário brasileiro atualmente é que junto com a incerteza sobre a aprovação do pacote fiscal de corte de gastos, existe ainda o risco do país estar caminhando para um cenário de dominância fiscal

O que é a dominância fiscal?

A dominância fiscal acontece quando a política fiscal de um país sobrepõe ou restringe a política monetária. Em termos práticos, as correções na taxa de juros, feitas periodicamente pelo BC, perdem seu valor face às decisões fiscais que forem tomadas pelo governo.

Neste momento, enquanto os dirigentes do BC mostraram um ensaio para reancorar as expectativas inflacionárias com um aperto monetário agressivo (com a Selic atingindo 12,25%), o câmbio apresentou um real ainda em desvalorização e os juros futuros voltaram a disparar.

Além disso, ainda há um temor de que obstáculos legislativos impeçam as medidas para conter os gastos públicos, apresentadas no pacote fiscal do Ministério da Fazenda

“Nesse cenário, o Banco Central perde sua autonomia para controlar efetivamente a inflação e os juros, pois suas decisões passam a ser condicionadas pela necessidade de financiar déficits fiscais elevados ou administrar uma dívida pública em trajetória insustentável”, explica o analista de macroeconomia da Empiricus Research, Matheus Spiess. 

A consequência disso, segundo o analista, é uma dinâmica perversa: “quanto mais precária a situação fiscal, maiores são os juros exigidos pelo mercado, o que, por sua vez, aumenta os custos com o serviço da dívida e aprofunda o déficit fiscal — uma espiral negativa que alimenta a desconfiança e amplia as pressões inflacionárias.”

‘Ajustes econômicos se tornam contraproducentes’, diz analista

Quando os indicadores ficam direcionados exclusivamente para o termômetro fiscal, Spiess detalha que os ajustes macroeconômicos que deveriam se concentrar no aumento dos juros para conter as pressões inflacionárias, recaem sobre a inflação em si – enquanto a perda de controle cambial agrava a situação.

“Esse desdobramento leva a uma dinâmica preocupante que remete a cenários observados em países como Turquia e Argentina — exemplos notórios de políticas desastrosas”, afirma e completa: “Nesse contexto, mesmo que o Comitê de Política Monetária (Copom) tenha acertado ao elevar a Selic, a medida pode se mostrar insuficiente ou, pior, contraproducente.”

Dívida pública e endividamento maiores: como conter o cenário atual?

O que acontece é que este aumento expressivo dos juros – a fim de tentar equilibrar com a “soltura” dos gastos fiscais – acaba por elevar o custo da dívida pública, o que por consequência amplia o déficit nominal e piora a trajetória de endividamento do país.

“Esse ciclo perverso acaba por alimentar a desconfiança do mercado, que reage com mais pressão sobre os juros futuros e o câmbio, criando um ambiente de incerteza generalizada”, explica o analista.

Embora o Brasil ainda não tenha atingido esse ponto crítico, o analista ressalta que há sinais recentes que alertam para a necessidade de ajustes fiscais mais profundos e robustos rapidamente. Medidas das quais, segundo Spiess, já deveriam ter acontecido e agora requerem “um esforço ainda maior para reverter a deterioração fiscal e restaurar a credibilidade.”

Diante deste cenário, Spiess e o time de analistas da Empiricus Research continuam em busca de elaborar portfólio de investimentos mais defensivos para o bolso dos investidores. Entre elas, confira 10 ideias de investimentos para buscar lucros neste mês de dezembro.  

Camila Paim Figueiredo Jornalista

Sobre o autor

Camila Paim

Jornalista formada na Universidade de São Paulo (USP), com mobilidade acadêmica na Université Lumière Lyon 2 (França). Trabalhou com redação de jornalismo econômico e mercado financeiro, webdesign e redes sociais, além de escrever sobre gastronomia e literatura.