O governo chinês ampliou nas últimas semanas as restrições ao uso de iPhones por funcionários públicos no ambiente de trabalho. Como resposta, as ações da Apple (Nasdaq: AAPL; BDR: AAPL34) recuaram -3,58% e -2,92% nos pregões de quarta (6) e quinta-feira (7), respectivamente.
A baixa representou um impacto de aproximadamente US$ 200 bilhões (R$ 1 trilhão) no valor de mercado da companhia, que ainda ocupa o posto de empresa mais valiosa do mundo.
Até que ponto as restrições do governo chinês podem impactar a Apple?
A China representa cerca de 20% das receitas da Apple, que é uma das principais fornecedoras de smartphones do mercado local.
De acordo com o analista de tecnologia Richard Camargo, além do tamanho do mercado – a China só fica atrás da Índia em termos populacionais -, o país asiático também tem importância estratégica na montagem de iPhones e outros produtos vendidos pela Apple.
“Toda a parte de pesquisa e desenvolvimento, de design e software são feitas nos EUA, mas a fabricação e montagem desses equipamentos ocorrem, a maior parte, na China através de um fornecedor chamado Foxconn, maior fabricante de iPhones no mundo”.
O analista lembra que a companhia tem diversificado a produção nos últimos anos para ficar menos dependente do mercado chinês, mas o processo é lento, já que se trata de uma cadeia de valor construída ao longo das últimas três décadas.
Portanto, qualquer restrição generalizada do governo chinês impactaria a Apple em diferentes frentes. Mas, até o momento, este não parece ser o caso.
“Temos que desmembrar o que é um pouco de panfletagem dentro dessa guerra fria entre Estados Unidos e China e o que de fato é um impacto real”, lembra Camargo.
Vale lembrar que há poucos meses os Estados Unidos baniram o uso do TikTok entre membros do governo e funcionários públicos em geral. “É outra face da mesma moeda”.
“Os funcionários públicos e congressistas são um pequeno subgrupo que não representa a população como um todo. A China é um país com mais de 1 bilhão de pessoas, e os funcionários públicos são alguns milhares dentro desse universo enorme”.
Restrição chinesa não deve ser sentida nos resultados operacionais
Por isso, Camargo avalia que, em termos de faturamento imediato, o impacto da decisão do governo chinês sequer será sentida nas vendas e nos resultados consolidados da Apple.
“O que a gente precisa pensar é se essa proibição vai se transformar numa campanha de marketing a nível nacional, no sentido de incentivar mais a compra de smartphones produzidos localmente e desincentivar a Apple, ou se isso de fato vai morrer aí como uma espécie de marketing dessa guerra fria entre os dois países”, afirma o analista.
Sobre a perda de mercado de quase R$ 1 trilhão entre os dias 6 e 7 de setembro, Richard Camargo lembra que a empresa é a mais valiosa do mundo e, qualquer movimentação, provoca volatilidade na ordem de dezenas de bilhões.
“Não é incomum ver em uma semana a ação da Apple oscilando o valor de mercado de um McDonald’s inteiro”.
A maior dessas oscilações nas últimas semanas foi justamente a queda de 3,58% no pregão em que a restrição foi noticiada. Mas, segundo o analista, a volatilidade já se normalizou e o movimento negativo não deve se estender.
“[A volatilidade] Foi um pouco de reação natural do mercado a um evento como esse e também foi provocada por algoritmos de sentimento, que estão o tempo todo fazendo trades e mexendo com o mercado. Mas, fora isso, não me parece que valha a pena gastar muita energia com isso”, avalia.
Vale a pena ter as ações da Apple na carteira?
As ações da gigante norte-americana são recomendadas pela Empiricus Research desde 2017 e já trouxeram retorno de 384,7% até o fechamento de mercado da última sexta-feira (8).
Segundo Richard, embora as ações não tenham mais o perfil de multiplicação de capital, elas são uma ótima opção defensiva com retorno real acima da inflação.
“Se você está numa etapa mais voltada para construir patrimônio, precisa de grandes acertos, quer focar e tomar mais risco, a Apple não é necessariamente um player para você. Agora, se você já tem uma visão diferente da sua carteira, está procurando preservação de capital, especialmente em dólar, a Apple está entre as melhores escolhas que você pode ter na carteira”, finaliza.
Durante a entrevista no Giro do Mercado desta segunda-feira (11), além das restrições do governo chinês, o analista também comentou sobre os novos lançamentos da Huawei e do iPhone 15, o mercado de semicondutores da China e muito mais.
Confira a entrevista no vídeo abaixo: