O segundo semestre de 2023 começa em meio ao avanço do otimismo relacionado às bolsas globais. De forma geral, as expectativas relacionadas à macroeconomia global melhoraram, salvo algumas exceções, e abriram espaço para um rali mais consistente do mercado de ativos de risco.
O movimento foi bastante perceptível na Bolsa brasileira. A totalidade dos ganhos do Ibovespa praticamente veio do bom desempenho dos últimos dois meses (maio e junho). Das mínimas de abril até o fechamento de sexta-feira (29), o principal índice brasileiro ganhou 20 mil pontos — ou cerca de 20%. O índice Small apresentou um desempenho ainda mais forte e subiu 27% no mesmo período.
A explicação para tamanha efervescência aqui no Brasil se deve às expectativas ligadas ao comportamento inflacionário e, também, ao início do ciclo de afrouxamento monetário que deve ocorrer a partir de agosto. O processo de tomada de tomada de risco veio ao passo da divulgação dos indicadores econômicos, para em seguida se ater aos comentários vindos no comunicado após a reunião do Copom e, posteriormente, na sua ata.
E no exterior?
Lá fora, o impulso em direção ao risco ganhou ainda mais tração. A guinada dos investidores que mantinham posições pessimistas em direção ao risco também aconteceu. O principal índice da Bolsa americana, o S&P 500, avançou mais de 5% em dólares. Tal comportamento parece guardar uma certa dose de capitulação dos investidores que mantinham uma postura mais defensiva (inclusive este que vos escreve).
É bem verdade que o mapa desenhado para enfrentarmos este novo cenário que se avizinha parece diametralmente diferente do território que estaremos percorrendo.
A situação das economias globais (em especial, Europa, EUA e China) ainda enseja alguma atenção: os PMIs mostram uma desaceleração em curso, corroborada por detalhes na leitura dos dados macroeconômicos.
Por outro lado, o processo de afrouxamento monetário, tão vivo na memória dos investidores, não deve acontecer lá fora, sob pena da insistência inflacionária.
Tanto Jerome Powell quanto Christine Lagarde, presidentes do FED e do BCE, respectivamente, vêm sinalizando que os juros das regiões devem continuar em níveis mais elevados por mais tempo e que, também, devem continuar a realizar o “Quantitative Tightening” (enxugamento dos balanços dos Bancos Centrais).
A impressão que dá é que esse seria um novo (“velho”) normal sobre o qual as economias deveriam balizar suas perspectivas futuras. Juros mais elevados nunca foram problema para se tomar risco nos países desenvolvidos…
A história deixa isso bem claro. A década passada foi marcada pelo juros zero e pelo apetite enorme por ativos de risco. O lucro era a última variável a ser colocada na balança. O dinheiro era barato e abundante, abrindo espaço para inúmeras derrapagens sem que houvesse vítimas.
A partir daqui, como em um passado mais distante, haverá mais atenção dos investidores com a balança de riscos e ativos que merecem prêmio poderão ganhar ainda mais destaque — a Apple, por exemplo, ultrapassou a marca dos US$ 3 trilhões na última sexta-feira (30). Mais ainda: com a alta de juros, o mercado de crédito tem sido reconstruído nos EUA.
As empresas zumbis ficarão pelo caminho, mas as vencedoras sairão um pouco mais fortes. As oportunidades no mundo dos títulos privados passarão a fazer parte das alocações de carteira dos investidores e a expectativa de retornos à frente ganharão algum impulso.
Se essa leitura se fizer presente, o novo mapa nos levará a uma ampliação do leque de ativos disponíveis para alocação.
Corte de juros, alívio da inflação e dólar mais fraco
A política monetária brasileira, nesse ínterim, tem se mostrado efetiva e tratou de segurar a inflação por aqui (é bem verdade que às duras penas). E a partir de agora, pode iniciar o seu processo de afrouxamento de forma mais tranquila.
A sensação é que, a despeito das críticas, Roberto Campos Neto agora está à frente da curva e, por isso, pode se dar ao luxo de iniciar o processo de corte de juros antes dos pares e dos países desenvolvidos.
Associado a esse movimento, vimos o debate sobre a meta de inflação, que permaneceu em 3% ao ano, dar mais alguns pontos ao presidente do BC. Faca e queijo na mão para o início do ciclo de queda de juros e, na minha leitura, a depender dos resultados a serem obtidos na economia real, abre espaço para uma verdadeira discussão sobre a sucessão na cadeira no começo de 2025 (as mudanças já propostas serão realmente necessárias?).
Ser o primeiro país relevante no mercado de capitais a iniciar o processo de corte de juros garantiu aos ativos de risco brasileiros uma condição ímpar. O fluxo de capital, outrora direcionado para o risco Selic, agora volta à bolsa. As captações de fundos de investimento ganharam tração, e os recursos parados em conta voltaram a namorar as ações das companhias cíclicas locais.
Esse movimento deve continuar ao longo das próximas semanas e meses, independentemente dos resultados trimestrais que serão divulgados ao longo de julho e agosto. Logicamente, as boas empresas responderão melhor aos números, mas não os vejo como chave para a seleção de ativos neste momento.
O dólar, por sua vez, pode continuar em seu processo de enfraquecimento frente ao real. Apesar da inércia das commodities — no ano, o índice CRB perde 3,79% —, a moeda brasileira tem se mostrado resiliente sob a esteira de que o país se encontra em um ponto de inflexão.
A queda das taxas juros será capaz de gerar retornos mais robustos às carteiras de investimento do que a alocação em moedas fortes, em especial enquanto o processo desinflacionário se mantiver mais forte por aqui. Momentaneamente, em termos comparativos, estaremos em uma posição favorável neste quesito.
Se você for viajar em breve, o ponto é bom para comprar. Mas sob a ótica de investimentos, deixe seus recursos alocados em ativos de risco brasileiros.
Para encerrar, preparamos um relatório gratuito com as 10 ações recomendadas pela Empiricus Research para investir em julho e surfar o bull market do Ibovespa. Clique aqui para receber no seu e-mail.