Findo o primeiro semestre de 2024, é hora de olharmos para como poderá ser a segunda metade do ano para os Estados Unidos e as ações americanas, diante da agenda macroeconômica prevista.
Política monetária americana segue no radar no segundo semestre
Um ponto importante está relacionado ao número de corte de juros que o Banco Central americano fará na segunda metade de 2024.
Se no começo do ano o Federal Reserve (Fed) esperava cortar os juros três vezes, ante uma expectativa do mercado de seis a sete cortes, a visão dos formuladores de política monetária nos Estados Unidos indicam apenas uma redução na Fed Funds Rates até o final do ano — o que levaria os juros para o intervalo entre 5% e 5,25%.
Figuras 1 e 2. Projeções macroeconômicas do Federal Reserve (tabela, lado esquerdo) e Dot Plot (gráfico, direita) | Fonte: Federal Reserve
Só que, se antes a diferença de visões era considerável, o mercado agora precifica no máximo dois cortes de juros até dezembro.
Os últimos dados de inflação deram suporte para esse visão de mais cortes do que o esperado pela autoridade monetária. O PCE, divulgado na sexta (28), veio em linha com as estimativas dos economistas — estável na comparação mensal e 2,6% na anual para o índice cheio e uma alta de 0,1% e 2,6% do núcleo (que exclui energia e alimentos).
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Atividade nos EUA tem desacelerado, mas não tanto quanto o esperado
Apesar de mostrar uma desaceleração em relação ao começo do ano, fato é que o ritmo ainda está abaixo do esperado pelo Fed. E alguns de seus membros, ainda que pontuando a melhora recente, indicam que é cedo ainda para determinar um caminho certo de cortes nos juros daqui para frente.
Tanto que, além da revisão para 2024, o Federal Reserve também acabou revisando para cima a expectativa para os juros em 2025, assim como a taxa terminal (de longo prazo), que passou de 2,6% para 2,8%.
‘Higher for longer’: e se os juros americanos se mantiverem altos?
Esse cenário de juros mais altos por mais tempo (o tão falado ‘higher for longer’) pode ainda criar dificuldades para os mercados. Isso fica ainda mais claro quando vemos que o índice Russell 2000, composto pelas 2 mil menores empresas da bolsa americana, é o único no campo negativo no ano.
Isso faz sentido, uma vez que muitas dessas empresas precisam de empréstimos e financiamentos para conseguir crescer o negócio. Mas com uma taxa de juros nos níveis atuais, e dado o endividamento que essas companhias já apresentam — com uma dívida líquida sobre Ebitda na casa das 4 vezes, comparado com cerca de 1 vez para o S&P 500 —, a vida dessas companhias devem ainda ser difícil em relação a das maiores corporações.
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Momentum voltado para as large caps deve continuar, pelo menos no curto prazo
Analisando a performance do S&P 500 com a sua versão “equal-weight” (com todas as empresas no índice tendo o mesmo peso), o primeiro mostra uma valorização mais de 10 pontos percentuais do que o segundo.
Importante notar que, apesar do diferencial atual estar no maior nível desde 1990, nada impede de que ele continua favorável as maiores empresas. No final da década de 90, antes da bolha das pontocom, vimos o índice “tradicional” apresentando quatro anos seguidos de performance melhor do que o de “mesmo-peso”.
Algum investidor pode argumentar que no período pós-bolha da Internet, a performance foi muito melhor para o índice com pesos iguais. Contra fatos não há argumentos.
Mas se no passado recente tínhamos uma aposta quase unânime de que a economia americana estava à beira de uma recessão, hoje esse não parece ser o cenário-base.
Isso pode ser verificado pelas expectativas de crescimento dos lucros para 2024 e 2025. Após dois anos de crescimento abaixo da média, as empresas americanas devem apresentar aumento de lucros acima dos dois dígitos no próximo biênio.
E as chances do ano encerrar com novas altas é grande.
Durante 78 anos, sempre que o 1º semestre terminou no positivo, o 2º semestre subiu em torno de 5%
De acordo com análise feita pela CFRA Research, toda vez que o primeiro semestre encerrou no positivo entre 1945 e 2023, o segundo semestre apresentou ganhos da ordem de 5%. Além disso, o índice mostrou ganhos em 75% do período.
Quando a alta observada no primeiro semestre ficou acima dos 10%, o resultado foi ainda melhor: ganhos médios de quase 8%, com o índice no positivo em mais de quatro a cada cinco anos.
Mesmo com a eleição no meio do caminho, que pode trazer uma certa volatilidade, o resultado obtido, na média, é de uma valorização de 3,5% no restante do ano. No caso de um ano eleitoral com ganhos no primeiro semestre, o ganho médio se aproxima dos 5% para o segundo semestre.
Investir em big techs, mas não só nelas
Entretanto, entendo que a questão dos juros ainda pode gerar algum barulho no mercado nos próximos meses. E, caso isso ocorra, os papéis que apresentaram maior valorização desde então podem acabar sofrendo mais do que aqueles de empresas que ficaram para trás.
Por outro lado, caso a disposição dos investidores continue a ser apostar naquilo que vem dando certo, imagino que as nossas posições do setor de tecnologia podem auxiliar a melhorar o nosso resultado daqui para frente.
Por outro lado, entendo que uma nova pernada de alta sustentável dos mercados daqui para a frente tem que incluir empresas de outros setores que não somente de tecnologia.
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