O dólar terminou a última terça-feira (15) em alta de 1,36%, cotado a R$ 5,6587. A elevação do câmbio americano foi motivada pela contínua queda no preço de commodities como petróleo e minério de ferro no exterior. Somado a isso, as incertezas provocadas pela desancoragem das expectativas para as contas públicas do governo brasileiro tomba ainda mais o real brasileiro frente à divisa.
Assim, a valorização do dólar diante do real, segundo analistas, pode ser ainda mais intensa até o final deste ano, se o mercado continuar sem uma sinalização clara do compromisso do governo com o controle dos gastos.
Principais impactos na cotação do dólar no curto prazo
Em outubro, a cotação do dólar acumula uma elevação de 3,85% em relação ao real. A valorização frente às moedas globais, conforme explica o CIO da Empiricus Gestão, João Piccioni, é um reflexo da dinâmica econômica norte-americana, que tende a ser mais favorável do que em outras regiões do globo.
“Por questões sazonais, o real tende a se desvalorizar mais, por causa do envio de recursos aos países de origem por parte das multinacionais”, adiciona Piccioni.
Enzo Pacheco, analista de mercado internacional da Empiricus Research, acredita que as questões fiscais brasileiras são o principal fator de volatilidade no preço do dólar. “Falas [do governo brasileiro] no sentido de um aumento nos gastos valorizariam o dólar, falas de maior controle impulsionariam o real. Além disso, temos que ficar atentos às decisões de política monetária ao redor do mundo”, comenta Pacheco.
Isso acontece, contextualiza Pacheco, em um momento em que a economia americana passa por um bom momento. “Enquanto que outros bancos centrais como o europeu ou britânico podem ter espaço para corte de juros maiores, uma vez que essas economias estão apresentando dificuldade de crescimento”, diz.
Conflitos geopolíticos podem gerar novas altas no dólar
Ambos os analistas pontuam que uma escalada no conflito entre Israel e Irã poderia proporcionar um câmbio de dólar ainda mais alto.
“Isso porque, em caso de um aprofundamento do conflito, podemos ver uma maior aversão ao risco por parte dos investidores, o que pode valorizar ainda mais o dólar frente às outras moedas,” comenta Pacheco.
Eleições nos EUA: como impactam?
As eleições presidenciais dos Estados Unidos também devem ter algum impacto na moeda americana, apontam os analistas.
“Provavelmente teremos um impacto de curto prazo, tradicional em períodos eleitorais, entretanto, não vejo esse movimento suficientemente capaz de ser responsável por uma guinada no câmbio”, afirma Piccioni.
Por outro lado, Pacheco defende que a vitória do republicano Donald Trump ou da democrata Kamala Harris podem ter influências diferentes na divisa.
“Uma eleição do Trump pode gerar um fator de volatilidade no câmbio, uma vez que ele tem a promessa de aprovar tarifas para todos os países que fazem negócios com os Estados Unidos — reduzindo, assim, a expectativa de vendas de produtos desses países para os EUA, consequentemente reduzindo a entrada de dólares no Brasil”, aponta.
No caso da vitória da Kamala, Pacheco acredita que haverá uma continuidade da política econômica atual e que poderíamos continuar vendo uma “melhor performance dos EUA em relação a outras economias, valorizando o dólar frente às outras moedas”.
Trajetória do dólar e do real neste último trimestre de 2024
Na cesta de moedas do Dollar Index (Índice DXY), o dólar desde 2021 apresentou uma forte valorização acompanhando os aumentos de juros por parte do Federal Reserve.
No Brasil, segundo Pacheco, a “atuação antecipada do Banco Central brasileiro em aumentar os juros de maneira significativa apresentou momentos de valorização ante o dólar”. Entretanto, desde 2022, os investidores aguardam sinalizações por parte do governo federal de que estaria disposto a controlar os gastos para evitar uma fuga de recursos do país, embora, até agora, os pronunciamentos tenham sido em sentido contrário.
“Quando observamos somente a performance das moedas de países emergentes, vemos que a performance do real só não é pior do que a do peso argentino, que continua enfrentando problemas mesmo com algumas medidas do Governo Milei terem sido bem recebidas”, retoma Pacheco, baseado em dados da Bloomberg.
Considerando as principais moedas do mundo, o analista ressalta que a desvalorização do real só é similar à observada no peso mexicano, que tem enfrentado uma fuga dos investidores com algumas decisões do governo local, como a decisão recente de reestruturar o Judiciário do país.
Dólar ainda vai cair em 2024? Analistas opinam
Para Piccioni, as chances do dólar se manter entre valores de R$ 5,50 a R$ 5,60 são grandes. “Não descarto ainda a hipótese da moeda ir um pouco além desse patamar, especialmente após as eleições. Em contrapartida, se o governo declarar mais assertividade em relação à agenda de cortes de gastos, podemos ver o câmbio em níveis mais próximos dos R$ 5,40”, estima o gestor.
Sem precisão para o patamar do dólar até o final do ano, Pacheco acredita que será difícil haver uma valorização expressiva do real sem o governo demonstrar compromisso com o controle dos gastos.
“Lembrando que, no caso de um evento extremo, mesmo uma sinalização positiva do governo pode ser insuficiente para compensar um aumento da aversão ao risco dos investidores globais”, conclui o analista.
Neste cenário delicado para o câmbio, uma estratégia inteligente para investir em dólar e lucrar com a variação positiva da moeda é buscar boas ações internacionais. Estes ativos, que estão “protegidos” do risco Brasil, podem gerar bons rendimentos aos seus investidores com mais tranquilidade, visto que não serão influenciados pelas oscilações da cotação do real.
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