Mamãe reza todos os dias. Diz que é assim desde criança. Papai rezava uma única vez por ano, no Natal. Sempre uma Ave Maria, seguida de um Pai Nosso, logo antes da ceia. Ou melhor, quase sempre. Quando exagerava no whisky (ano sim, ano sim), misturava uma oração na outra e o Pai Nosso virava cheio de graça.
Natal é tempo de estar com a família. Eu fico bem triste. Eu sei… você vai dizer que não deveria, que o momento é de felicidade, luz, nascimento. Entendo. E juro que preferia aderir a tudo isso. Se tem um interessado nessa parada, sou eu mesmo. Não é do tipo de coisa que se escolhe, porém. Para citar mais uma vez o poeta Wystan Auden, “somos vividos por poderes que fingimos entender”- assim mesmo, na voz passiva.
As coisas findas, muito mais que lindas, essas ficarão – para repetir um outro poeta, no caso, o Drummond. A lembrança de como as coisas eram é intensa demais. Perde só para a saudade mesmo. Curioso pois chega a dar dor física.
Casa cheia de gente. Família grande e estruturada. Mamãe feliz, fingindo de brava com papai mais pra lá do que pra cá. Tios e tias igualmente contentes e um pouco menos bêbados (só um pouco). As crianças – eu inclusive – jogando video-game, campeonato de futebol, no quarto.
Eu era o mais novo e sempre perdia. Mas não ligava. Ao contrário, eu gostava. Ficava feliz em ver meus primos e amigos excitados. Não importava o resultado. Só queria saber da família unida, com uma organização aparentemente desorganizada. Todos rindo e gritando, incapazes de ouvir uns aos outros. Surpreendentemente, contudo, as pessoas se entendiam. O álcool eleva os decibéis, tampa os ouvidos e lubrifica as percepções sensoriais.
As coisas mudaram muito. E os últimos anos foram particularmente doloridos nesta época do calendário. De 2011 a 2015, fizemos a ceia apenas em três: mamãe, eu e João Pedro. Papai já não está mais ai, os tios foram pra longe e eu não gosto de ganhar do JP no video game. Sinto tristeza e solidão. Mesmo sem querer, lembro como era antes e como ficou pior nesses anos passados. Dói mais ainda porque eu me percebo um fracassado em não poder dar um Natal mais legal pros dois. João ainda não entende direito, mas sei que mamãe se machuca também. Na minha frente, ela não chora, é mulher estoica. Pelos cantos, porém, já encontrei soluços e caixas de lenço.
Neste ano, prometi pra mim mesmo algo novo. Amanhã, Papai Noel, que é diretor de marketing aqui na Empiricus e meu amigo de infância, vai lá em casa entregar um monte de presente pro João. Mamãe também vai ganhar. E agora tem a Lina, minha esposa, que eu espero ter se comportado bem neste ano. Se Papai Noel não levar presente pra ela, é um mau sinal para a testa do redator…
À tarde, jogaremos futebol no parque. Eu, João e Lorenzo, seu fiel escudeiro e meu afilhado, filho da Solange, que nos ajuda lá em casa. E à noite vamos pra casa da família da Lina, levando a minha mãe. A casa é grandona e tem um monte de gente. Tem criança, tem vida e a construção de um núcleo emergente.
Nunca vai ser como antes. Mas algo novo aconteceu. E eu finalmente tenho a chance de entregar para o João um Natal um pouco mais divertido. Da destruição, surge algo novo, que necessariamente rompe com o anterior e forma algo superior. É aquilo que Joseph Schumpeter chama de destruição criativa.
Nessas destruições, há sangue, suor e lágrimas. Felizmente, com algum afastamento, percebemos que o natal de 2016 é muito melhor do que fora em 2015, e traz a perspectiva de avanço ainda maior para 2017. Precisamos matar o Brasil do lulopetismo para construir algo novo.
Com o ânimo do novo horizonte, pensei até em pedir presente para o Papai Noel. Mas a verdade é que eu não mereço. Contribui negativamente para a balança comercial brasileira, importando muito vinho francês. Escrevi textos politicamente incorretos, sendo xingado pela esquerda e pela direita extremistas – o que eu tomo como elogio. E estimulei pecados impronunciáveis em meus clientes, como a usura e a ganância.
Mamma is gonna worry, I’ve been a bad, bad boy, diria Ozzy Osbourne, que seria um belíssimo Papai Noel. Acho que não tenho salvação. Eu tenho sido um mau garoto.
Ah, eu queria mesmo era pedir um mercado de capitais realmente desenvolvido.
Podíamos ter muito mais empresas listadas na Bolsa. Isso reduziria o custo de capital, ajudaria na saída da crise ao diminuir dramaticamente a alavancagem das companhias, permitiria compartilhamento de riscos, acessaria novos mercados, melhoraria a qualidade da gestão ao contar com visões independentes do mercado de capitais e por ai vai.
Não há real incentivo para isso. Os esforços da Bolsa são incipientes. A CVM, mesmo querendo ajudar, talvez mais atrapalhe – fica um excesso de regulação, burocratização e custos, travando um mercado, em vez de desenvolvê-lo. O sujeito hoje é processado pelo regulador e não consegue nem entender a razão – fica uma caminhada absolutamente kafkiana, em que ele vai se enforcando numa corda que sequer existia originalmente.
A Índia tem 5 mil empresas listadas! Não estou falando dos EUA ou do Japão. É a Índia! Com essa concentração bancária, essa complexidade tributária e a falta de educação financeira, não saímos das poucas centenas.
Faltam empresas na Bolsa. E faltam pessoas. A participação da pessoa física em ações é ínfima no Brasil, contrariando a lógica global de associar investimento em renda variável à poupança de longo prazo.
Eu queria muito poder ver mais pessoas físicas comprando ações, sem essa visão superficial de que se constitui em algo de muito risco. Arriscado é não cuidar do seu dinheiro e perder oportunidades que poderiam mudá-lo de patamar. Nada mais inseguro em termos financeiros do que ser pobre para sempre.
Eu gostaria de pedir essa maior participação da pessoa física ao Papai Noel. Como não vai dar, pois ele está de mal, resolvi fazer eu mesmo. A Empiricus tem como missão ajudar a melhorar os investimentos das pessoas físicas. Essa é a nossa vocação. Não sabia que era impossível, foi lá e fez.
Feliz Natal.
O 25 de dezembro marca uma chance de abrir-se para o novo, para o nascimento de um país diferente do anterior, para uma vida financeira em que você toma as rédeas para si.
Que a sua celebração seja iluminada. Eu amo cada leitor desta newsletter. E adoraria passar este momento com cada um.
Infelizmente, do ponto de vista físico, é impossível. Por isso, tenho uma única coisa para lhe oferecer neste momento: a companhia das minhas palavras e da minha dedicação 24×7 pra tentar ajudá-lo nesta caminhada patrimonial. Não são dicas pontuais ou recomendações específicas; é uma filosofia, um jeito de cuidar do seu dinheiro, para sempre.
Obrigado, de coração, por me dar a honra desta parceria. Clichês à parte, sem você, nada disso seria real. Uma ideia só é viável se aceita pela comunidade. Devo tudo que tenho a essa confiança. Família é assim. Natal é tempo de estar junto. Que venham muitos outros pela frente, sem solidão, sem tristeza. Eu quero mesmo é ser uma má companhia; seu bolso agradece.