Investimentos

O que faremos hoje?

Há momentos de contar história. E há momentos de ser direto.

Por Felipe Miranda

18 maio 2017, 07:40

Há momentos de contar história. E há momentos de ser direto.

O que fazemos agora?

Nada. Absolutamente nada. Estamos diligentemente monitorando os acontecimentos e se e quando acharmos apropriado, certamente avisaremos para potenciais mudanças. Por ora, sugerimos paciência, diligência e tolerância à volatilidade. Vai ser sofrido, mas essas virtudes, associadas ao apego a uma filosofia de investimento, serão recompensadas no longo prazo. Foi assim no passado, tem sido assim agora e não há porque supormos algo diferente à frente.

Estamos no meio do tiroteio e, nessas situações, mexer-se é a pior das soluções. O momento é de extrema incerteza e falta de visibilidade. É muito cedo para qualquer conclusão e, sinceramente, ninguém sabe o que vai acontecer. Qualquer um que arrisque traçar um prognóstico preciso mergulha num mar de charlatanismo. O futuro é opaco e impermeável. Hoje, mais do que nunca. Quando todos os outros entrarem em pânico, você não poderá entrar também.

Podemos caminhar para renúncia do presidente Michel Temer. Podemos ir pelo impeachment. Talvez agora haja os elementos suficientes para cassação no TSE, também em seus componentes políticos e não estritamente técnicos. E, por incrível que pareça, pode não ser nada. Como diria Arnaldo Antunes, em O Poder (nada mais apropriado), “pode ser sim, pode ser não; eu só não sei, por que eu e você não pode não””.

O dia será um banho de sangue para os mercados brasileiros – EWZ, referência para ações brasileiras em dólar, cai 14% no pré market. Não adianta tentar antecipar-se ao movimento, vendendo na abertura. Os ativos já abrirão com gap, com forte desvalorização. Então, é como se o estrago – ou, ao menos, algum estrago – já tenha sido feito.

Também não recomendo que se saia vendendo pela manhã, tentando minimizar o prejuízo. É possível, para não dizer provável, que o mercado entre em pânico logo na abertura e, ao longo do dia, amenize o tombo caso haja notícias sugerindo algum acordo no Congresso.

 

Apenas para cobrir outras possibilidades, mesmo das mais remotas, na hipótese remota de que alguma(s) de suas posições em risco abra(m) sem desvalorização, aproveite a oportunidade de sair e buscar um pouco de proteção. É improvável, mas, caso aconteça, há de se aproveitar a janela aberta, sem tergiversar. O nível de risco hoje é outro comparativamente a ontem e, portanto, os preços dos ativos deve estar condizente com isso.

Mais uma vez, insisto: ausência de evidência não é evidência de ausência. Nesse momento, não enxergamos uma saída para crise. Isso não quer dizer que a saída não exista, tampouco que ela não possa ser construída no curto prazo, ou mesmo que as coisas sejam abrandadas diante de alguma costura política heterodoxa, de natureza opaca – dado o histórico macunaímico desse pessoal, não seria surpresa.

Sobre esse aspecto, há de se pontuar que, no caso de eleição indireta, o Congresso hoje pende ao espectro de centro-direita, à agenda liberal e às reformas.

É evidente que as reformas, em si, devem atrasar. Ficaram mais incertas e difíceis. Mas não me parece que o sonho acabou. Ao contrário, essa agenda é inexorável. E não é porque a turma é boazinha ou comprometida com o Brasil – é porque não há alternativa. Reitero o que já fora dito aqui algumas vezes: o País não tem vocação para explodir. Sempre que começamos a acelerar em direção ao precipício algo acontece. Nossa irresponsabilidade é gigantesca, mas tem limite.

Ademais, até de forma curiosa, em momentos de crise institucional, o Congresso reagiu justamente na direção de acelerar as reformas de base e fiscais. Talvez isso lhe soe contraintuitivo ou mesmo esdrúxulo neste momento, mas é apenas e tão somente evidência empírica.

Assim, o mais provável é que, se recrudescerem as tensões, emerja uma solução no Congresso com um nome agradável ao mercado – potencialmente, Fernando Henrique Cardoso surge como opção imediata.

Isso não significa também que eu sugira aumentar posições de risco diante da queda de hoje. Pegando dois ensinamentos do Ramiro: nunca tente pegar uma faca caindo; ou, então, fundo do poço tem porão.

Vamos ficar quietos. Estamos dedicados, estudando diligentemente as questões atrás de um pouco mais de visibilidade. Se e quando enxergarmos necessidade de mudanças nas recomendações, avisaremos prontamente.

Se vamos lavar o Brasil a jato, precisaremos passar o País inteiro a limpo, sem distinção por cor, raça, destro ou canhoto. Vermelho, verde, amarelo, esquerda, direita, coxinha e mortadela merecem o mesmo tratamento diante da lei. Sinal de que as instituições democráticas e republicanas locais funcionam e estão acima da média dos mercados emergentes – em tese, isso comprime prêmio de risco a longo prazo.

Por ora, dois lembretes:

1-não se esqueça dos cisnes negros, os eventos raros, de alto impacto e imprevisíveis – estamos diante de um agora. Não é teoria ou café filosófico. É a realidade fazendo você acordar mais cedo com medo de perder dinheiro. Simples e tangível. Eles – os cisnes – que mudam tudo e definem o mundo a longo prazo. As mudanças não são incrementais, lineares e graduais. Elas se dão em saltos, súbita e imprevisivelmente. Cole uma foto de um cisne negro no seu computador. Encará-lo diariamente vai impedi-lo de esquecer da sua importância – aqui na Empiricus vai rolar prova do livro Black Swan (sim, é sério);

2-conforme falei nessa semana, comece achando que as coisas podem dar errado, porque elas realmente podem. Tenha sempre – e sempre – seguros na sua carteira. Não abandone esse método, sob hipótese alguma. Se você comprou as puts que recomendei, seja no Palavra ou no Carteira, vai ver seus seguros se multiplicando hoje. Ainda que não passe o dia 100% incólume, certamente estará mais tranquilo, vendo esses ativos se valorizarem destacadamente. Em dias como hoje, a meta de todo investidor é sobreviver. O método aqui proposto e repetido ad nauseam certamente vai ajudar nisso e a compra de puts vai fazê-lo desempenhar bem melhor do que a média do mercado em seu portfólio consolidado. Na Carteira Empiricus, fui particularmente abençoado pela sorte (venha sempre!) – aumentamos ontem o peso atribuído ao dólar e na semana passada a exposição às puts. Portfólio subia 3% em maio até ontem; mesmo que sofra nesta quinta-feira (e não há como não se ferir em alguma medida diante dessa hecatombe), ainda deve acumular bons ganhos no mês e no ano, com as perdas hoje bem limitadas pelas puts e pelo dólar.

Se você não comprou os seguros, lembre-se disso da próxima vez.

Sobre o autor

Felipe Miranda

CIO e estrategista-chefe da Empiricus, é ex-professor da FGV e autor da newsletter Day One, atualmente recebida por cerca de 1 milhão de leitores.