A bolsa brasileira vem sofrendo nos últimos meses. Nesta segunda-feira (20), o Ibovespa, principal índice do país, recuou 2,33%, para 108.843 pontos, nível mais baixo do ano. Para Felipe Miranda, CIO e estrategista-chefe da Empiricus, porém, apesar das más notícias, as quedas recentes são exageradas.
O mercado, atualmente, está vendo, para Miranda, um cenário excessivamente ruim. Para ele, isso é ilustrado pelo fato de a bolsa estar proporcionalmente muito mais desvalorizada agora, considerando a métrica Preço/Lucro, do que em 2015, no auge da crise do governo Dilma Rousseff.
Miranda acredita que a situação naquela época era bem mais grave, com queda acentuada das commodities, erros na política macroeconômica e uma situação política ainda pior do que a atual – e o Brasil sobreviveu.
Então, hoje, há uma oportunidade de entrada. “Não devemos dourar a pílula. O cenário é ruim. Temos uma economia que caminha para crescer 1,5% em 2022. Mas o filme fica melhor olhando o preço do Ibovespa sobre o lucro somado das companhias”, disse em sua live semanal no Instagram (ofelipe_miranda), que foi ao ar neste domingo.
Um dos pontos que pesam atualmente é a possível alta exagerada dos juros, que vem sendo impulsionada pelas ameaças fiscais e também pelo fato de os índices de inflação estarem, recorrentemente, apresentando avanço – ignorando a tendência altista da Selic iniciada pelo Banco Central em março.
No entanto, para o CIO da Empiricus, o problema da alta dos preços deve minguar em breve, com a inflação desacelerando. “Na inflação, acho que a demanda reprimida causada pela pandemia, que explodiu recentemente, arrefecerá. A economia global crescerá menos, com as revisões já jogando as expectativas para os PIBs para baixo. Além disso, com a normalização da pandemia, a oferta também deve aumentar”, defendeu.
Quanto ao problema fiscal e político, Felipe Miranda acredita que o pessimismo está exagerado, apesar de o cenário não ser fácil. “Temos precatório, bolsa família fora do teto, reforma do imposto de renda, minério caindo, crise hídrica, Lula na frente das pesquisas, problema na China. É complicado”, comentou. “Entretanto, ou Bolsonaro começa a andar direito, para de brigar e de jogar o Brasil na recessão, ou vem a terceira via e o atropela”.
O Brasil, para ele, ainda tem o histórico de não sucumbir a essas crises “de fim do mundo”. “É um país que não decola e nem sai da rota. Anda de lado. É desse jeitão. Somos assim há quase 521 anos e provavelmente vamos continuar assim. Brasil é complacente, converge para a média”, defendeu.
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Atual momento do Ibovespa e do juros define um “Brasil quebrado”
Se a curva de juros brasileira continuar como está, o Estado pode passar a apresentar problemas de solvência, uma vez que a dívida pública pode se tornar insustentável. O mercado está, então, precificando uma espécie de colapso. “Com um aperto monetário, como o que vem acontecendo, o esperado é que a curva longa de juros caia. Não estamos vendo isso. Os juros continuam avançando, e isso não pode acontecer. Então, ou você acredita que o Brasil quebra ou que as coisas se resolverão da nossa maneira”, explicou Miranda.
O Ibovespa, com tudo isso, está em seu nível mais barato ao se levar em conta a comparação entre os lucros das companhias e os seus preços, tendo precedente semelhante apenas na crise de 2008. “Nessa parte, tudo é mensurável. Não é opinião. A pergunta que fica é: o barato está justificado? Para mim, não”, explicou.
Felipe Miranda deixou claro que não vê o cenário de forma totalmente otimista – há, sim, uma “nuvem” sobre a forma como o mercado vê a maior parte das ações. As nuvens podem formar uma tempestade, mas podem também aliviar.
Para ele, a última opção é mais provável, pelo fato de o Brasil ter um histórico, como já mencionado, de convergir para a média. “A gente recomendou bolsa com o Ibovespa a 40 mil pontos em 2015 e ninguém queria saber de ações. Não é porque a gente está sem ver a saída para a crise que não há saída alguma”, comenta.
Há de se deixar claro, entretanto, que, de acordo com o CIO, nós não estamos necessariamente em um momento de mínima. “Quando a gente recomendou bolsa em 2015 foi sofrido, perdemos em outubro e dezembro. É difícil ser totalmente exato. Mas aí alguém pode falar que para comprar apenas nos 92 mil, e esse número não vem. A bolsa vai para 120 mil e você fica esperando”, explica.
Apesar de bom momento, falta fluxo de entrada no Ibovespa
Miranda pontua que falta, no momento, fluxo para a bolsa brasileira, apesar de ela estar barata: o que configura um problema. “O mercado está concentrado nos Estados Unidos. Com isso, não é só o Brasil que sofre, mas todos emergentes”, explicou.
Já no mercado interno, o investidor do varejo está machucado com a queda, bem como o institucional, com muitos fundos sendo obrigados a desmanchar posições por conta do aumento de resgates.
“Sequoia (SEQL3), Banco Pan (BPAN3), Via Varejo (VIIA3). Ficaram super atrativas. Não dá para saber se irá subir amanhã, porque vai que outro fundo desmancha a posição, mas estão atraentes. Não aconteceu nada com essas companhias, apenas caras grandes que resolveram vender”, explicou.
Essas quedas, para o estrategista-chefe da Empiricus, abrem ainda espaço para fusões e aquisições (M&As), como no caso da Via Varejo. “Olha o que acabou de acontecer com a Log-In (LOGN3). O mercado fica nessa de ninguém quer, chega alguém e raspa tudo”, comentou. A companhia de logística, recentemente, recebeu uma proposta da companhia suíça MSC, do mesmo setor.
Além disso, para ele, a Vale (VALE3), com toda essa crise, também se tornou interessante. “Acho que os dividendos sobrepujam a queda do minério de ferro nesse momento. 9% do preço da ação sendo devolvido aos seus acionistas, que são majoritariamente de longo prazo e que devem reinvestir na própria Vale”, comentou. “E vale lembrar que Vale é dólar. Pode ser uma proteção às nossas mazelas, apesar de estar sofrendo com o minério caindo”.
A crise que derrubou o Ibovespa, então, gerou, de acordo com o estrategista-chefe e CIO da Empiricus, que já entregou 577,2% àqueles que o acompanham, uma boa oportunidade de lucrar, ao menos para aqueles que acreditam que o Brasil não irá colapsar.