Ontem, terça-feira (5), Felipe Miranda, sócio-fundador da Empiricus, recebeu Paulo Hartung, ex-governador do Espírito Santo e presidente do IBÁ (Instituto Brasileiro de Árvores), para conversar ao vivo sobre os riscos e as oportunidades do Brasil na caminhada rumo à bioeconomia em escala global.
Na entrevista, que marcou mais uma celebração do aniversário de 14 anos da Empiricus, Hartung perpassa vários temas, como o combate a impactos climáticos, incluindo tópicos como a COP28 e a Opep+, além de falar sobre a formação de líderes no Brasil e reforma tributária.
‘A questão climática é o maior desafio que temos’
Para Hartung, não tem como falar de economia sem falar do combate ao que vem prejudicando o meio ambiente.
“O problema está na nossa porta. É importante termos eventos como a COP28 para discutir soluções”, afirma.
“Inclusive, houve uma crítica generalizada nos jornais brasileiros e internacionais a respeito da sede do evento deste ano, que é Dubai, pelo fato de os Emirados Árabes produzirem muito petróleo. Minha opinião é contrária: eu acho que temos que envolver todos os países sim. Inclusive, que bom que a COP30 será em Belém e vai chegar na Amazônia. Falam tanto nela no mundo todo e nem a conhecem”.
Nesse sentido, o também membro do RenovaBR destaca a importância de soluções multilaterais para resolver questões climáticas no mundo todo. “Não acredito em medida unilateral para uma questão global. Não dá para os EUA tomarem medidas só para si ou para a China investir só lá em energia eólica e solar. Os próprios técnicos dizem que não existe uma ‘bala de prata’ que vai salvar o planeta, existem várias rotas de substituição para combustível fóssil”.
Um desses caminhos para a descarbonização do combustível de aviões, por exemplo, é o uso do etanol de segunda geração, cita Hartung, destacando o case de Raízen, no Brasil, que implementou recentemente essa produção em suas operações.
As oportunidades do Brasil
Ele diz também não ser pessimista e lista pontos positivos do “copo meio cheio” do Brasil: “A gente costuma só ver os defeitos do país, mas fizemos reforma trabalhista, demos autonomia ao Banco Central, mexemos na microeconomia, como o marco regulatório do saneamento”, afirma.
Além disso, acredita no poder da matriz energética brasileira para facilitar a transição para fontes de energia limpa. “Ela é diferenciada neste mundo que busca descarbonização. Temos a biomassa, por exemplo, que vem da cana de açúcar e até das árvores cultivadas, e ainda temos o privilégio de ventos constantes em várias regiões do país e muito sol”.
Brasil na Opep+
Nos últimos dias, o governo federal anunciou que o Brasil se tornou mais um membro da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep+), criado na década de 1960 e composto hoje por 13 países.
“Para resumir, achei inútil. Isso é mais um fio desencapado que nos fez tropeçar nas próprias pernas. É só ver a reação dos membros da COP28 ao recebermos uma menção de produzir combustível fóssil em um evento que fala de transição para energia limpa”.
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Plantio de árvores para fins industriais é 4º maior contribuinte do agro
Também enfatiza a relevância do setor que planta árvores para fins industriais, quarto maior contribuinte da balança comercial do agro brasileira. Segundo relatório de novembro do IBÁ, só em 2022, foram produzidas 25 milhões de toneladas de celulose, número recorde junto do total de 11 milhões de toneladas de papel e 8,5 milhões de m³ de painéis de madeira.
Hoje, a área de plantio, colheita e replantio ocupa 9,9 milhões de hectares no Brasil, contra 160 milhões de hectares do agronegócio.
“O papel que chega num pacote na sua casa vira um novo papel, muitas vezes misturando fibra já usada com fibra virgem”, conta Hartung. “No Mato Grosso do Sul, conseguimos trocar pastos de baixa produtividade, que geravam muitos poucos empregos, por árvores cultivadas, por exemplo, o que aumentou muito a demanda por mão de obra”.
Para o capixaba, seria possível, inclusive, replicar o que tem dado resultado nesse setor para outros segmentos da economia.
E acredita que o Brasil está diante de uma das maiores oportunidades de sua história. “O país é um pedacinho do planeta, mas ele tem 20% da biodiversidade do mundo e 12% de água doce, há muitas oportunidades para explorar aqui. Podemos transformar essas oportunidades em renda, em bons empregos e em melhorias para a nossa juventude”.
Além desses temas, Hartung ainda traz comentários a respeito da reforma tributária em andamento no Brasil e sobre a importância de formarmos líderes de fato preocupados com o interesse público do país.
“Precisamos formar novos líderes para subir o sarrafo do debate político, trazer diversidade para o Congresso e para podermos remover nosso atraso histórico com investimento em tecnologia, como já conseguimos fazer antes”.
Para conferir a entrevista completa de Felipe Miranda com Paulo Hartung, é só apertar o “play”: