As ações da Petrobras (PETR4) têm tido um desempenho estelar em 2023, com alta de 68% até o fechamento de mercado da última quarta-feira (18).
O movimento é oposto ao que se viu no segundo semestre de 2022, quando a preocupação de interferência política pesou depois da eleição de Lula (PT), e derrubou as ações.
Para se ter ideia, de 21 de outubro de 2022, 10 dias antes da eleição de Lula, a 14 de dezembro, PETR4 despencou 43% na bolsa.
Na primeira metade de 2023, a empresa afastou alguns temores do mercado com relação à política de precificação dos combustíveis e o investimento exagerado em fontes de energias renováveis, e caminhou bem.
Mas foi ao longo do segundo semestre, puxada pela alta do petróleo e os bons resultados operacionais divulgados, que a companhia deslanchou.
Agora, com a eclosão da guerra Israel-Hamas, a Petrobras tem sido uma espécie de “porto seguro” para os investidores. Desde o ataque do grupo terrorista a Israel, no dia 7, as ações da petroleira avançaram 11%.
O temor de um envolvimento do Irã no conflito tem impulsionado ainda mais o preço do petróleo – que já vinha em um movimento de alta – e, consequentemente, as ações da companhia.
Alguns especialistas estimam que restrições impostas ao escoamento da produção de petróleo via Estreito de Ormuz, no Irã (responsável por cerca de 20% do comércio global da commodity), poderiam levar o barril para a casa dos US$ 150.
Mas, além de nocivo para a inflação global, o efeito da alta exacerbada do petróleo pode ser ruim para a Petrobras.
Por que um petróleo muito acima dos US$ 100 pode prejudicar a Petrobras?
Isso porque, na visão do analista Ruy Hungria, da Empiricus Research, não é possível saber ao certo quais seriam as implicações políticas na Petrobras com o petróleo em preços tão elevados.
“Conhecemos o passado da Petrobras o suficiente para saber que é muito difícil para o governo repassar as altas do petróleo nos preços dos combustíveis. Quando o petróleo sobe durante algum tempo, o custo da companhia aumenta e ela não necessariamente repassa para as distribuidoras de combustíveis, porque isso traz um descontentamento da população”, explicou.
Em 2018, uma das consequências observadas com o aumento do preço do combustível foi a greve dos caminhoneiros, que gerou impacto direto na economia.
Também não é difícil observar as pressões da população e da oposição em períodos de alta do gás.
Até o momento, a Petrobras tem conseguido repassar os preços, lembra o analista. Mas no caso de um petróleo muito acima dos US$ 100, o efeito passa a ser nocivo para a companhia, que terá suas margens pressionadas.
“Por isso temos sempre esse pé atrás em investir na Petrobras para aproveitar a alta do petróleo. O aumento no combustível é sempre muito delicado e sabemos que existe um limite de até onde o governo sobe os preços. Não é tão simples assim para a companhia”, explicou.
Patamar atual do petróleo é bom para a Petrobras
Por outro lado, o analista vê benefícios para a Petrobras caso o preço do petróleo permaneça perto dos patamares atuais – na casa dos US$ 90.
“Este é um patamar interessante, porque a companhia não precisa ficar aumentando o preço do combustível, não precisa gerar estresse com o governo e a população, e é um patamar de preços que traz uma margem interessante para ela.”
Para Ruy Hungria, o preço ideal da commodity para a estatal é não muito abaixo dos US$ 80 e nem muito acima dos US$ 100.
“Apesar [de o petróleo abaixo dos US$ 80] acabar com o ruído político, a margem cai e isso não é bom para o resultado. Ao mesmo tempo, um petróleo muito elevado teríamos esse fator desconhecido que é a reação do governo numa eventual necessidade de subir os preços”.
“Em um cenário em que o petróleo começa a subir muito, podemos ver o desconto [nas ações da Petrobras] voltar a aumentar por conta dos receios de interferência política voltando a pairar no dia a dia da companhia” Ruy Hungria
PETR4: Empiricus deixou de recomendar os papéis em agosto
Justamente por conta dos receios de interferência que envolvem a tese, a Empiricus Research deixou de recomendar as ações no início de agosto.
Apesar de a companhia ainda ter um dos maiores dividend yields do Ibovespa, o analista não vê a ação em um preço que justifique os riscos.
“Quando compramos Petrobras no ano passado, a companhia negociava a pouco mais de 2x os seus lucros e pagava um dividend yield de mais de 40%. Hoje negocia a 5x os seus lucros com um yield de 15%. São patamares ainda baratos, mas não são tão interessantes devido aos riscos políticos que envolvem a tese. Existem motivos para a Petrobras negociar a um valuation barato”, finalizou.
Para conferir gratuitamente a ação recomendada pela Empiricus Research para capturar o ‘boom’ do petróleo, clique aqui e tenha acesso ao relatório.