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Petrobras (PETR4): por que investimento na Refinaria Abreu e Lima pode ser negativo para a petrolífera?

Entenda novo plano de investimento de Petrobras em Rnest, um dos ativos da companhia envolvidos na Operação Lava Jato.

Por Nicole Vasselai

19 jan 2024, 16:05 - atualizado em 19 jan 2024, 16:07

Petrobras (PETR4) mercado em 5 minutos
Imagem: Agência Brasil

O CEO da Petrobras (PETR4), Jean Paul Prates, anunciou nesta quinta-feira (19) o plano de investir de R$ 6 bilhões a R$ 8 bilhões na Refinaria Abreu e Lima (Rnest), em Pernambuco. O objetivo é ampliar a capacidade de processamento de petróleo da companhia dos atuais 100 mil barris de petróleo por dia (bpd) para 260 mil bpd até 2028.

Após a notícia, os papéis de PETR4 caem em torno de 1% no pregão desta sexta-feira (19).

A Rnest é a mais nova refinaria da petroleira, concluída 34 anos depois da Petrobras construir a sua última refinaria de petróleo.

Mas o que chama atenção mesmo, segundo Ruy Hungria, analista da Empiricus Research, é o fato de ser um dos principais ativos da Petrobras envolvidos na Operação Lava Jato. “É um fantasma do passado que talvez mexa negativamente com o humor do mercado”, afirma.

A Rnest começou a operar em 2014, com o trem 1 (primeiro conjunto de unidades) no Complexo Industrial Portuário de Suape. No entanto, o projeto original não chegou a ser concluído.

“As obras demoraram e custaram muito mais do que o previsto pelos acionistas e nem foram finalizadas. Agora tem que ver se é ‘só’ mesmo uma mudança estratégica da Petrobras e se os pilares da companhia se mantêm intactos“, comenta Hungria.

De acordo com a gerente executiva de Projetos de Desenvolvimento da Produção da Petrobras, Mariana Cavassin, quando as obras foram paralisadas, a Petrobras já havia investido aproximadamente US$ 18 bilhões na construção do trem 1 da Rnest e de parte do trem 2.

Qual o plano atual de investimento na Rnest?

A companhia comandada por Prates pretende investir em três etapas. A principal envolve a retomada da construção do trem 2 no segundo semestre deste ano. A conclusão está prevista para 2028 e a meta é acrescentar 130 mil bpd de capacidade.

A petroleira pretende também concluir neste ano obras relacionadas a um equipamento de mitigação de emissão de gases (SNOX), que permitirão elevar a capacidade da unidade em 15 mil bpd. Para o primeiro trimestre de 2025, está prevista a conclusão das obras para a expansão do trem 1, que adicionará outros 15 mil bpd.

A expectativa é que as obras da Rnest gerem cerca de 30 mil empregos diretos e indiretos e um acréscimo de cerca de 13 milhões de litros de diesel S10 (de baixo teor de enxofre) por dia à capacidade de produção nacional.

Por que Petrobras quer investir em refino?

“Ao investir em refino, o país tende a ser menos dependente de importação. Pensando numa lógica de mercado, sem levar em conta possíveis manobras do governo de influenciar na precificação, isso dá um respiro para o governo quando tivermos eventualmente alguma disparada de preços de combustíveis lá fora. E sabemos o quanto o preço do combustível é relevante para o governo em termos de popularidade, de aprovação”, explica Hungria.

Na visão do analista, isso tende a ser ruim para a companhia, já que o segmento de refino tem margens muito apertadas.

Para se ter uma ideia, ele conta, o segmento de exploração, em que se estrai petróleo, tem uma margem Ebitda de mais de 60%; dependendo do trimestre pode chegar a 70%, enquanto o segmento de refino fica em torno de 5% de margem.

A rentabilidade do refino não chega a dois dígitos, é muito menor, e ao mesmo tempo tem uma dificuldade operacional e estratégica muito maior. Demanda uma política comercial muito ágil. E a palavra ‘eficiência’ não combina muito com uma estatal”, afirma.

O analista também destaca a atenção que o investidor deve ter em relação a essa estratégia da companhia de investir em um segmento pouco rentável em detrimento de outros nos quais tem muito mais expertise, como a exploração do pré-sal. “Consequentemente, isso significa menor retorno consolidado para os acionistas“.

Para entender se essa mudança prejudicaria os dividendos de Petrobras, assista à entrevista completa por aqui:

Sobre o autor

Nicole Vasselai

Editora do site da Empiricus. Jornalista formada pela Faculdade Cásper Líbero, com MBA em Análise de Ações e Finanças e passagem por portais de notícias e fintechs.