Os mercados internacionais operam em alta nesta manhã, à espera da divulgação do PCE de julho nos EUA, o indicador de inflação preferido pelo Fed. Esse dado, juntamente com o PIB divulgado ontem e o relatório de emprego da próxima semana, pode fornecer mais clareza sobre a magnitude dos cortes de juros esperados para setembro.
Ontem, um dado de atividade econômica acima do previsto causou alguma volatilidade nos mercados, mas essa preocupação parece ter se dissipado, pelo menos até que o índice de gastos com consumo seja divulgado.
As bolsas asiáticas fecharam em alta generalizada nesta sexta-feira (30), refletindo o otimismo em relação à economia americana. Enquanto isso, os mercados europeus e os futuros americanos seguem em alta (marcando o segundo dia consecutivo de ganhos na Europa), após a inflação ao consumidor de agosto na Zona do Euro ter desacelerado, conforme esperado, na comparação anual.
Entre as commodities, o minério de ferro cai, enquanto o petróleo apresenta uma leve alta, refletindo a cautela após a interrupção das exportações pela Líbia e a redução na produção do Iraque.
A ver…
· 00:50 — Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas
No Brasil, o Banco Central ganhou destaque nesta sexta-feira (30) ao anunciar um leilão de venda de até US$ 1,5 bilhão no mercado à vista, com o objetivo de atender a uma grande saída decorrente do ajuste de carteira do EWZ (MSCI Brazil ETF), que passará a incluir ações brasileiras listadas no exterior, como XP e Nubank (ROXO34). Este será o primeiro leilão no mercado spot desde abril de 2022, mas não está diretamente relacionado ao dólar acima de R$ 5,60, embora possa ajudar a conter a volatilidade cambial.
O fato é que o câmbio voltou a mostrar instabilidade após a formalização de Gabriel Galípolo como sucessor de Campos Neto na presidência do Banco Central, a partir do próximo ano. O mercado intensificou as apostas em um aumento de 50 pontos-base na Selic, projetando uma taxa de 12%.
Ainda que eu tenha dúvidas se chegaremos a esse patamar, considero que uma alta nos juros agora seja praticamente inevitável para manter a credibilidade do Banco Central, que se comprometeu com essa postura mais rígida em suas recentes comunicações. Como se diz, tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Ajoelhou, tem que rezar.
Nesse cenário, onde o mercado deseja ver se o Banco Central seguirá suas palavras com ações, talvez um ajuste mais moderado, como duas altas de 25 pontos-base, seja suficiente para reancorar as expectativas, especialmente com a perspectiva de que os EUA comecem a reduzir seus juros em breve.
Além disso, o sumário executivo do Projeto de Lei Orçamentária de 2025 será divulgado hoje, e a apreensão em torno dessa proposta contribuiu para a queda do Ibovespa ontem. Nos bastidores do Congresso, o acordo sobre emendas continua a gerar tensão, enquanto o debate sobre a sucessão na presidência da Câmara ganha força — Elmar Nascimento (União Brasil-BA) é o nome mais cotado, mas Lira ainda não anunciou quem apoiará. O segundo semestre promete ser agitado no cenário político.
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· 01:45 — Economia robusta
Nos EUA, os índices recuaram ontem após a segunda leitura do PIB do segundo trimestre superar as expectativas, registrando um crescimento de 3,0% na economia americana, acima dos 2,8% previstos. Esse dado robusto de atividade voltou a pressionar a curva de juros, reforçando a possibilidade de que o corte em setembro seja de apenas 25 pontos-base, como tenho apontado como cenário-base. Não parece necessário um corte maior; três reduções de 25 pontos ao longo de 2024 me parecem suficientes para dar continuidade ao movimento no próximo ano.
No entanto, observamos sinais de rotação setorial, com o Dow Jones em alta, enquanto o S&P 500 e o Nasdaq recuaram. Diante disso, hoje é importante acompanhar o índice de gastos com consumo de julho, o PCE, que é o indicador favorito do Fed para medir a inflação.
A expectativa é de um aumento de 0,2% tanto no índice cheio quanto no núcleo, que exclui os itens mais voláteis. Um dado abaixo do esperado poderia fortalecer a tese de um corte de 50 pontos-base, enquanto um dado acima das expectativas daria mais suporte a um corte de apenas 25 pontos. O verdadeiro divisor de águas, no entanto, deverá ser o relatório de emprego de agosto, a ser divulgado na próxima semana.
· 02:31 — A corrida eleitoral
A vice-presidente Kamala Harris concedeu sua primeira entrevista desde que foi oficializada como candidata democrata na corrida pela Casa Branca em novembro. Assisti à entrevista e, honestamente, achei fraca. Não apenas pela abordagem leve da jornalista, mas também pela própria candidata, que explorou pouco suas propostas.
Ainda assim, a renovação que ela trouxe à campanha desde a saída de Joe Biden continua, embora com menos intensidade. Pesquisas recentes indicam que Harris lidera Donald Trump em âmbito nacional, mas isso tem um peso limitado; afinal, a eleição será decidida em seis estados onde a disputa está acirrada, e as pesquisas regionais nem sempre são precisas. Esses seis estados se tornaram cruciais para as estratégias dos candidatos. Vale lembrar que a corrida está em aberto e o resultado será apertado.
Nas seis semanas desde que Kamala Harris foi confirmada como candidata democrata, ela tem se esforçado para reformular a narrativa da campanha em torno da economia dos EUA. Enquanto Joe Biden focava sua agenda econômica na indústria e nos empregos de colarinho azul, Harris direcionou a dela para a redução dos custos domésticos e o aumento do acesso à propriedade de imóveis.
Hoje, a acessibilidade à moradia ressoa como um dos temas eleitorais mais impactantes, especialmente nos estados em que a disputa está acirrada, como Arizona, Geórgia e Nevada, onde o custo das hipotecas para uma casa mediana praticamente dobrou desde 2016. Nos estados industriais de Michigan, Pensilvânia e Wisconsin, também essenciais para a eleição, os custos das hipotecas em casas de classe média também dobraram, mas representam uma proporção menor da renda mensal das famílias. Isso torna um plano para lidar com os custos e a oferta de moradias particularmente relevante.
· 03:28 — Virando a chave
O novo primeiro-ministro trabalhista do Reino Unido, Keir Starmer, prometeu redefinir o rumo do Brexit antes de iniciar sua rápida turnê pela Europa nesta semana. Em uma crítica velada aos seus antecessores conservadores, que conduziram e gerenciaram o processo de separação do país da União Europeia, Starmer se comprometeu a reparar os relacionamentos rompidos pelo governo anterior.
Embora tenha descartado a possibilidade de um “Breturn” (reversão da decisão do Brexit de 2016), ele reconheceu a necessidade de restaurar os laços entre o Reino Unido e a UE.
Como parte desse esforço, durante sua visita à Alemanha, Starmer anunciou um plano para um novo acordo de cooperação entre Alemanha e Reino Unido, inspirado em um tratado semelhante assinado com a França em 2010, que visa aprofundar os laços de defesa nos próximos 50 anos.
Além disso, o novo acordo se concentrará na coordenação em áreas como energia, ciência, tecnologia e migração, além de aumentar o compartilhamento de inteligência. Ambos os países planejam assinar o tratado até 2025. Este é apenas um exemplo dos muitos acordos que deverão ser firmados à medida que as relações são restabelecidas, permitindo que a ideia original do Brexit funcione de forma mais eficaz.
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· 04:13 — Um problema de oferta
O impasse sobre o comando do banco central da Líbia é apenas um reflexo do caos que permeia o país do norte da África. O confronto entre os dois governos rivais no interior do estado-membro da OPEP resultou em uma ordem de suspensão da produção diária de petróleo, que gira em torno de 1 milhão de barris, provocando volatilidade no mercado global.
Esse evento evidencia que o roteiro intermediado pelas Nações Unidas para restaurar a estabilidade líbia após a queda de Muammar Al Qaddafi pode ter fracassado. Embora tenha evitado o colapso do estado, a ONU não conseguiu redigir um texto constitucional que funcione para todos no país.
A dificuldade em alcançar uma solução duradoura está enraizada na disfunção das instituições estatais durante o governo de Kadafi. Após 2011, essas instituições tiveram o vácuo deixado preenchido por inúmeras milícias. A reconstrução da Líbia requer uma reforma profunda nas áreas jurídica, econômica e de segurança, mas o processo mediado pela ONU priorizou a formação de um governo unificado apenas no papel, com cada lado mantendo suas próprias agendas, crenças, leis e até constituições, além de contar com diferentes apoiadores externos.
Os governos dos EUA, Europa e Arábia Saudita, que ajudaram a derrubar o regime tirânico de Kadafi em 2011, agora estão focados em outros conflitos internacionais (a invasão da Ucrânia pela Rússia e a luta de Israel contra o Hamas em Gaza). Internamente, esses países enfrentam o aumento do custo de vida no pós-pandemia.
Na Europa, o controle da migração proveniente do norte da África é uma preocupação, enquanto os EUA estão concentrados em suas eleições. Esse cenário deixa pouco espaço para a fragmentada e caótica Líbia, apesar do impacto potencial no petróleo.
· 05:06 — Se mantendo acima de 1 trilhão de dólares
Nesta semana, a Berkshire Hathaway (NYSE: BRK.B; B3: BERK34), recomendada anteriormente neste espaço, alcançou um novo marco significativo: seu valor de mercado ultrapassou pela primeira vez a marca de US$ 1 trilhão, tornando o conglomerado de Warren Buffett a oitava empresa dos EUA a atingir esse patamar. As outras sete empresas americanas a ingressarem no clube do trilhão são as chamadas “Magnificent Seven”: Nvidia (NVDC34), Meta Platforms (M1TA34), Alphabet (GOGL34), Apple (AAPL34), Microsoft (MSFT34), Amazon (AMZO34) e Tesla (TSLA34).
A Saudi Arabian Oil Co. é a única empresa não americana a cruzar esse limite. Com uma valorização de cerca de 32% em dólares (51% em BDR, devido à desvalorização do real) desde a minha recomendação, surge a pergunta: ainda vale a pena mantê-la?