Na semana passada eu me deparei com uma matéria sobre o novo recorde de valor de mercado da Petrobras (PETR4), que agora vale R$ 569 bilhões.
Mas o que realmente me chamou a atenção foram as justificativas que a companhia e seu CEO deram para que tal feito fosse alcançado. Aqui vão elas:
“Entre as medidas que permitiram alcançar tais resultados, a empresa destaca a nova estratégia comercial para gasolina e diesel; o aprimoramento da política de remuneração aos acionistas, que inclui o programa de recompra de ações”. Em outra matéria do início do mês, Prates disse que “o recorde é consequência da retomada de investimentos que a nova gestão tem realizado no último ano.”
Mas será que foi por isso mesmo?
O novo recorde de valor de mercado de Petrobras tem a ver com a nova estratégia comercial?
Com relação à mudança da política comercial, a nova estratégia tende a ser pior para os resultados do que a antiga, porque não obriga os preços a seguirem as cotações internacionais, e isso permite que a companhia abra mão de margem para não descontentar a população e o governo, caso o preço lá fora suba.
Essa mudança pode não ter atrapalhado muito os resultados da Petrobras até agora, mas também não ajudou e abre espaço para surpresas negativas no futuro. Ou seja, não foi por causa da estratégia comercial.
Sobre o “aprimoramento da política de remuneração”, houve uma clara piora: em julho de 2023, a Petrobras reduziu a distribuição de dividendos de 60% para 45% do fluxo de caixa livre, um corte considerável, e que certamente não deixou nenhum acionista feliz. Ou seja, também não foi por causa da nova remuneração.
Sobre a estratégia de investimentos, também tivemos uma piora. A companhia parou de vender ativos ruins e voltou a aportar dinheiro em negócios com retorno muito baixo, o que afeta a rentabilidade consolidada. Sinto muito, Prates, mas também não foi por causa disso.
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Por que PETR4 continua subindo então?
Por causa do Petróleo e do pré-sal, e apesar do governo.
A verdade é que com o petróleo nos patamares atuais (US$ 80/barril) e com os custos reduzidos por conta do pré-sal, a Petrobras gera um montante absurdo de caixa.
Petróleo tipo Brent. Fonte: Google.
Lembre-se que a Petrobras teve 7 presidentes diferentes nos últimos 6 anos, e mesmo nenhum deles sendo brilhante, os resultados seguiram muito sólidos durante todo esse período. Com o petróleo nos níveis atuais, basta que a gestão não atrapalhe muito para que ela continue gerando valor, mesmo que isso não seja assim tão simples em se tratando de uma estatal.
Fato é que, apesar das mudanças negativas em sua política comercial, de investimentos e de remuneração aos acionistas, o caixa extra gerado com o barril nos preços atuais mais do que compensou as alterações.
Para falar a verdade, a Petrobras poderia gerar resultados ainda melhores se não fossem essas mudanças. Mas enquanto as condições permanecerem favoráveis, não há muitos motivos para se preocupar com isso.
E se o preço do barril de petróleo parar de ajudar?
O problema é que o preço do petróleo pode mudar bastante, e as alterações recentes na estratégia podem tornar a companhia menos preparada para enfrentar adversidades.
Por exemplo, não tem muito problema gastar mais com investimento em energia eólica, refinarias e tudo o que não for o que realmente gera valor para a companhia – o pré-sal –, mas se o preço do petróleo cair muito, vai começar a faltar dinheiro para essas novas aventuras.
Qual será a estratégia da companhia neste novo cenário, cortar ainda mais os dividendos, ou rever o investimento nesses outros ativos pouco rentáveis?
Se o petróleo começar a subir demais lá fora, a nova política de precificação de combustíveis pode abrir espaço para que a companhia segure os repasses para não desagradar o governo e comece a oferecer subsídios para o diesel e a gasolina, o que já aconteceu no passado e quase destruiu a empresa.
Ou seja, essas mudanças abrem espaço para consequências negativas, ainda que por enquanto não precisamos nos preocupar muito com elas.
Preferimos ações mais interessantes que Petrobras
Para falar a verdade, apesar de não estar entre as nossas recomendações na Empiricus Research, eu nem acho que a Petrobras seja um investimento tão ruim assim, desde que seja feito com muita parcimônia e que você entenda que para ser sócio do governo é preciso dormir com um olho aberto.
Mas o que realmente importa nessa história é o acionista entender o verdadeiro motivo da melhora de resultados da companhia, caso contrário correrá o risco de começar a torcer para mudanças que só atrapalham os resultados dela.
Mas existem outras formas de se aproveitar a apreciação do petróleo. Na lista de 10 ideias de ações para investir, por exemplo, há outra companhia do setor que pode se beneficiar dos preços elevados da commodity, sem que você precise se preocupar em ter o governo como sócio.
Se quiser conferir essa e todas as outras ações recomendadas pela Empiricus Research para fevereiro gratuitamente, é só clicar aqui.