Investimentos

Entenda por que a Empiricus Research mantém a recomendação de short no índice S&P 500

Alta do índice S&P 500 em 2023 pode ser mais um bear market rally

Por Equipe Empiricus

23 fev 2023, 14:12 - atualizado em 24 fev 2023, 12:13

Bandeira dos Estados Unidos com um cifrão em alusão ao S&P 500
Reprodução: Shutterstock

Na direção contrária do que foi o ano de 2022, os mercados globais, em geral, apresentaram alta nas primeiras semanas de 2023. Nos EUA, o principal índice de ações, S&P 500, subiu cerca de 4% até o fechamento de mercado da última quarta-feira (22).

Mas essa alta depois de um 2022 em que o índice caiu quase 20% se justifica? Para o CEO e estrategista-chefe da Empiricus Research, Felipe Miranda, não. 

Ele não só acredita que este movimento pode ser mais um “bear market rally” (movimento de alta em meio a uma tendência geral de baixa), como mantém a recomendação de short no índice S&P 500.

S&P 500 está caro em meio ao cenário macro complicado

Para Felipe, o primeiro ponto de atenção se refere ao valuation da bolsa norte-americana. “O S&P 500 negocia hoje próximo a 18x lucros, basicamente em linha com a média histórica de um período de juros muito baixos”, explica.

Para aqueles que acompanham o mercado minimamente de perto, não é novidade que o cenário de juros baixo que o mercado parece precificar está longe do atual. 

A taxa básica de juros norte-americana está hoje em torno de 5%, a maior dos últimos 16 anos. Por isso, os múltiplos do S&P 500 precisam ser menores, na visão do analista. Por que?

Bom, um juros mais alto implica em um retorno maior da renda fixa, o que exigiria também mais potencial de valorização das ações.

Mas o que ocorre é o contrário. “As ações norte-americanas estão caras frente à renda fixa”, afirma Felipe.

Se as ações estão caras, o potencial de valorização das ações é pequeno, o que significa que o prêmio de risco para se investir em ações nos Estados Unidos não está atrativo.

Empresas que não geram caixa são responsáveis pelas maiores altas

Um segundo elemento que pede atenção é a composição da alta. As empresas de tecnologia, que mais apanharam no ano passado, dispararam. O índice Nasdaq, que contempla as companhias do setor tech, já avançou mais de 10% no ano de 2023.

O problema é que não são apenas as empresas consolidadas do ramo de tecnologia que apresentam altas histriônicas. Companhias que não geram caixa tiveram altas superiores a 100% no ano, como é o caso da C3.ai.

“As valorizações mais destacadas estiveram em ativos sem geração de caixa expressiva, nas fake techs, em coisas tipicamente associadas a promessas exageradas e nas criptomoedas. Em grande medida, uma movimentação técnica, amplificada pela cobertura de posições short”, explica.

Mercado tenta antecipar ‘virada’ do Fed

O terceiro argumento é a tentativa do mercado de antecipar o momento em que o Fed (banco central norte-americano) iniciará seu processo de corte nas taxas de juros.

“Sendo mais preciso, há duas discussões aqui: até quando a taxa básica norte-americana será elevada em que momento começa a cair”, lembra Felipe.

O discurso mais “leve” (na língua do mercado, dovish) do presidente do Fed, Jerome Powell, na virada de janeiro para fevereiro aumentou ainda mais o apetite dos investidores de risco.

Ele contribuiu para que boa parte do mercado entendesse que o Fed se contentaria com apenas mais uma elevação de 25 pontos-base e o início do afrouxamento monetário (redução das taxas de juros) ocorreria ainda em 2023.

Mas, para Felipe, “com o aperto do mercado de trabalho nos EUA, dificilmente haverá espaço para uma postura mais branda do Fed”.

O mercado de trabalho norte-americano mostrou criação de 517 mil postos de trabalho. Uma resiliência e força que ninguém esperava e surpreendeu qualquer projeção. A taxa de emprego de 3,4%, é a menor desde 1969.

“A atividade mostra resiliência e existe grande rigidez de salários por conta do desemprego baixo e da demanda por trabalho. Ou seja, os juros podem permanecer altos por mais tempo e isso não conversa com o valuation atual da bolsa norte-americana”, explicou Felipe.

Lucros das empresas devem cair ainda mais nos próximos trimestres

Nem mesmo os resultados recentes ruins das Big Techs, como Apple, Amazon e Alphabet, foram suficientes para reverter a alta da Bolsa norte-americana em 2023.

“A dinâmica empresarial mostra uma deterioração clara e os resultados trimestrais de todos os setores estão piorando. Os indicadores econômicos, à exceção do emprego, apontam para uma redução da atividade. Os novos pedidos do ISM do setor industrial, por exemplo, apontam claramente para uma falta de clareza sobre as perspectivas do ano”, aponta Felipe.

O analista acredita, inclusive, que os lucros ainda não foram ajustados de maneira correspondente, o que abriria espaço para mais correções. Isto, aliado a qualquer revisão mais bearish (negativa) do contexto atual, pode ocasionar uma forte queda do S&P 500.

“Nesse ambiente, a possibilidade dos lucros das companhias se estabilizarem rapidamente ou se manterem no patamar atual é praticamente nula. Com isso, quedas mais fortes de lucros deveriam aparecer nos balanços das companhias nos próximos trimestre”, vislumbra.

Tendência é que S&P 500 sofra correção

Mesmo com todos estes fatores pesando contra, o S&P 500 ainda se apresenta cerca de 15% acima dos mínimos pré-Covid, no início de 2020. 

“Consequentemente, acompanhando os cenários compartilhados por Damodaran, o cenário mais provável estaria entre 3.200 e 3.700 pontos para o S&P 500”, avalia o estrategista-chefe da Empiricus.

A projeção mostra uma forte probabilidade de queda do índice, que hoje está acima dos 4 mil pontos.

Por todos os motivos supracitados, a Empiricus Research mantém a orientação de short no S&P 500.

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