Investimentos

Setor elétrico: por que Eneva (ENEV3) pode surfar onda forte de calor no Brasil?

Termelétrica pode ser principal beneficiada pela disparada da demanda por energia no Brasil nas últimas semanas.

Por Nicole Vasselai

16 nov 2023, 15:12 - atualizado em 16 nov 2023, 16:31

Imagem de homem com uniforme da Eneva olhando para uma máquina de extração de gás Eneva (ENEV3)
Reprodução/Divulgação Eneva

Nas últimas semanas, boa parte das cidades brasileiras vive uma forte onda de calor, com termômetros superando os 40ºC em cidades com clima ameno. Embora seja uma questão alarmante do ponto de vista ambiental e até para a saúde pública, o setor elétrico é um dos principais beneficiados. Segundo Ruy Hungria, analista da Empiricus Research, especialmente a Eneva (ENEV3) tem se dado bem nesse cenário.

Todo mundo quis ligar o ar condicionado

A gente viu a demanda de energia subir 30%, 40%, na média, nesses últimos dias. Além disso, o El Niño acabou atrapalhando algumas fontes de energia renovável, como a geração de energia eólica, por conta dos ventos um pouco mais fracos. Então, você diminuiu a sobreoferta [de fontes de geração de energia], enquanto a demanda aumentou demais. Isso fez inclusive com que o sistema precisasse das termelétricas para gerar energia. Algumas delas não faziam isso há muito tempo”, explica Ruy.

Segundo ele, as termelétricas são chamadas para gerar energia quando as hidrelétricas não conseguem, se os reservatórios estão muito baixos ou se outras fontes de geração não dão conta de suprir as necessidades do sistema de energia.

O analista ainda lembra que o contexto atual é, inclusive, oposto ao visto em 2021. “Hoje, os reservatórios de água estão cheios, mas logo depois da pandemia tivemos uma seca intensa e a demanda por despachos termelétricos cresceu muito. Houve um desequilíbrio muito grande, com nível de reservatório lá embaixo e preços de energia muito altos”, relembra Ruy.

Agora, de acordo com o analista, embora o problema não seja o nível dos reservatórios, a principal questão, com o calor intenso, foi a disparada da demanda, em especial da necessidade de uso do ar condicionado pela população.

Nesta semana, por exemplo, o Brasil bateu recorde de consumo de energia. O consumo médio, por dia, é de 75 GW (gigawatts), segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Na última segunda-feira (13), o órgão informou que o gasto superou os 100 GW.

Eneva (ENEV3) é uma termelétrica que pode se dar bem

Na visão de Ruy, dentre as termelétricas que se beneficiam do aumento de demanda, a Eneva é a principal delas.

“Normalmente as termelétricas têm direito a uma receita fixa no período em que elas não estão gerando energia, justamente para estarem disponíveis ao sistema em momentos em que a demanda sobe muito e que não dá para prever. A receita variável vem quando elas precisam ser acionadas”, ele contextualiza.

Segundo ele, no caso da Eneva, a receita fixa não é tão relevante para os resultados, porque é com a receita variável que a companhia tem uma margem grande, uma vez que ela mesma produz o combustível usado nessa geração. “Então a grande geração de valor para Eneva acontece quando as usinas são despachadas”, resume.

A ação tem alta de 13% em novembro, pode subir mais?

A cotação de ENEV3 dispara em torno de 13% desde 1º de novembro de 2023. Para Ruy, o movimento se trata de uma revisão do mercado acerca dos possíveis resultados de despachos dos próximos anos. “O mercado teve um aprendizado sobre pensar muito no curto prazo“.

Como nos últimos anos Eneva teve poucos despachos e os preços da energia gerada estavam muito baixos, ele conta que o mercado começou a projetar que a geração da termelétrica continuaria muito baixa. “Só que prever o que vai acontecer com o clima é extremamente difícil”, diz.

“Na Empiricus Research, a gente tenta olhar para a assimetria. Se o mercado está projetando despachos ridiculamente baixos para Eneva pelos próximos cinco anos, a gente avalia que muito dessa expectativa já está precificado, então qualquer mudança nesse cenário, uma desordem no sistema – alguma onda de calor, uma falha técnica das geradoras de energia renovável-, deveria ajudar a companhia. Essa reapreçamento da ação neste mês é resultado dessa assimetria“.

Mesmo com a alta recente, Ruy acredita que ainda há espaço para o papel se valorizar se continuarmos com tamanha demanda de energia para as próximas semanas.

Além disso, outro ponto positivo, ele conta, é que a companhia não permitiu se tornar 100% dependente dos despachos e nos últimos meses diversificou seus investimentos para se defender de cenários adversos. “Tanto que isso ajudou nos resultados do 3T23 e devemos continuar vendo esse tipo de iniciativa”.

Eneva paga bons dividendos?

Para quem gostaria de investir no case em busca de dividendos ‘gordos’ (uma vez que o setor elétrico costuma ser um dos melhores pagadores de proventos), o analista faz o adendo de que a companhia pode demorar ainda entre um e dois anos para começar a distribuir.

“Primeiro a Eneva vai terminar de pagar esses investimentos atuais com a geração de caixa dela e, quitando as dívidas, deve iniciar o pagamento de dividendos. Então pra quem pensa em receber renda com a ação, vale a pena investir por um prazo maior. Quer dizer que não é o melhor momento para investir? Pelo contrário, mas para dividendos não é o melhor nome“, orienta.

Sobre o autor

Nicole Vasselai

Editora do site da Empiricus. Jornalista formada pela Faculdade Cásper Líbero, com MBA em Análise de Ações e Finanças e passagem por portais de notícias e fintechs.