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Por que o Dow Jones, índice de ações americanas, teve maior sequência de quedas em 50 anos?

Pela primeira vez desde 1978, o Dow Jones caiu por nove sessões consecutivas, com uma perda de 0,61% ontem (17). Analista da Empiricus explica pessimismo.

Por Nicole Vasselai

18 dez 2024, 11:14 - atualizado em 18 dez 2024, 11:46

dow jones ações americanas

Imagem: iStock.com/ronniechua

Pela primeira vez desde 1978, o Dow Jones Industrial Average (DJIA), índice de ações americanas, sofreu nove quedas consecutivas. As perdas começaram no dia 6 de dezembro e seguiram até ontem (17), quando caiu 0,61%, encerrando o pregão em 43.449,90 pontos.

O índice é composto por 30 empresas líderes de mercado dos Estados Unidos, de setores como indústria, finanças, saúde e, em menor grau, tecnologia.

Queda da UnitedHealth impactou, em parte, o Dow Jones

Segundo Enzo Pacheco, analista de mercados internacionais da Empiricus Research, parte do movimento pode ser explicado pela queda das ações da UnitedHealth (UNHH34), na esteira dos últimos acontecimentos ligados ao recente assassinato do CEO da companhia.

“O Dow Jones é um índice que utiliza os preços da ação para calcular os pesos que cada papel vai ter na conta. Como a ação da UNH é uma das mais caras (acima dos US$500), ela tem um peso maior nesse índice do que nos outros. Essa fórmula fazia sentido lá atrás, quando as pessoas não tinham muita forma de fazer contas ‘complexas'”, explica o analista.

Mercado se posicionou contra o sistema de saúde americano

Ele também conta que a desvalorização do papel em si tem a ver com o sentimento do mercado (que não é de hoje) de que o sistema de saúde americano é muito ruim e principalmente caro.

“As ‘justificativas’ para o assassinato (conforme acharam nas cartas/documentos do assassino) é que algo precisaria ser feito [em relação a isso]. Como o sentimento coletivo, em uma parcela não desprezível, foi favorável ao criminoso, alguns políticos aproveitaram para anunciar projetos para ‘combater” o sistema”.

Um exemplo, ele cita, é a proposta do governo de que as empresas de plano de saúde teriam que vender suas Administradoras de Benefícios Farmacêuticos (PBM, na sigla em inglês).

“O que eles [os políticos] alegam é que as empresas criam esses braços que trabalham negociando com as farmacêuticas os preços e rebates dos medicamentos, e depois vendem ou repassam esse produto para o paciente e cobram valores muito maiores do que o justo. Aí, como o sentimento do mercado é de que podemos ter um período mais complicado para as ações do setor, muitos preferiram vender os papéis da UnitedHealth e de outras empresas como CVS, Cigna“, comenta.

Rotação setorial em direção às big techs também drenou recursos das ações do índice

Outro fator que contribuiu para a queda do Dow Jones, segundo Pacheco, foi a rotação setorial do mercado em direção às big techs. Isso porque o índice tem menor exposição a ações de tecnologia em comparação a outros, como S&P 500 e Nasdaq.

“Parte desse movimento me parece estar relacionado à alta recente dos juros de 10 anos do Tesouro americano, que voltaram a beirar os 4,4% (no começo do mês estava nos 4,15%). Além disso, boa parte da performance [do Dow Jones] pior do que a do S&P 500 e do Nasdaq também tem a ver com a valorização das ações da Tesla (TSLA34), que voaram com a vitória do Trump“, explica.

Apesar da baixa dos índices americanos de forma geral ontem (17), Pacheco continua confiante com estas 10 ações internacionais aqui. Em especial considerando a alta das bolsas em 2024 e do próprio dólar, contra um cenário difícil na bolsa brasileira.

Sobre o autor

Nicole Vasselai

Editora do site da Empiricus. Jornalista formada pela Faculdade Cásper Líbero, com MBA em Análise de Ações e Finanças e passagem por portais de notícias e fintechs.