Investimentos

Por que o Ibovespa não engrenou na primeira quinzena de 2024?

Apesar do início de ano ruim, analistas continuam a ver cenário promissor para o Ibovespa em médio e longo prazo

Por Juan Rey

15 jan 2024, 16:03 - atualizado em 15 jan 2024, 16:05

ibovespa
Imagem: Freepik

O Ibovespa avançou mais de 18% nos últimos dois meses de 2023 e renovou a máxima histórica em 27 de dezembro, quando fechou o pregão em 134.194 pontos. Por isso, era natural que os investidores imaginassem um início de 2024 tão bom quanto foi o último trimestre.

No entanto, não é isso que tem acontecido. Até o encerramento do pregão da última sexta-feira (12), o principal índice acionário brasileiro acumulava perdas de 2,9% em 2024.

Por que o Ibovespa ‘pausou’ o ritmo de alta?

De acordo com o analista Matheus Spiess, da Empiricus Research, alguns fatores explicam o desempenho fraco do Ibovespa na primeira quinzena do ano.

Realização de lucros:

Depois de um rali robusto e rápido, como o do ano passado, é natural que uma correção aconteça, com o mercado “devolvendo” alguns excessos. Os investidores também aproveitam para realizar os lucros auferidos com a forte alta. “Historicamente existem esses ajustes e realizações”, afirmou o analista.

Pouca movimentação e dados econômicos medianos:

A primeira quinzena do ano não trouxe “gatilhos” relevantes para a Bolsa. Enquanto isso, os dados econômicos, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, foram considerados medianos pelo mercado.

“Tivemos dados de emprego e inflação nos EUA, e inflação no Brasil, que não foram tão bons, com exceção do PPI na última sexta-feira”.

Economia chinesa não anima:

As notícias que vêm da China, maior importadora de minério de ferro do mundo, não têm sido positivas. Isso impacta a commodity e, por consequência, a Vale (VALE3), empresa que corresponde a quase 15% do Ibovespa.

“O mesmo serve para as commodities energéticas, que têm tido um bom ano até agora, mas muito por conta da volatilidade derivada dos atritos no Oriente Médio. O conflito tem gerado apreensão entre os investidores”, pontuou Spiess.

O fiscal brasileiro:

Depois de um déficit estimado em R$ 234 bilhões em 2023, segundo dados do Ipea, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, busca medidas para cumprir a meta de zerar o déficit para 2024.

Embora o mercado veja a meta como improvável – e inclusive tolere um déficit de até 1% do PIB, a discussão fiscal tem pressionado os vértices mais longos da curva de juros

“Todas essas movimentações têm deixado os investidores um pouco mais ansiosos no início de ano”, avaliou Spiess.

Analistas continuam otimistas com a Bolsa brasileira 

Apesar do desempenho ruim no início do ano, Spiess continua otimista com o desempenho do Ibovespa em 2024.

Na mesma linha, o analista Fernando Ferrer, da Empiricus, vê bons motivos para acreditar em um ano positivo. O principal deles é o início do ciclo de flexibilização monetária nas economias desenvolvidas, que devem começar a cortar juros ainda no primeiro semestre.

“O nível de inflação global está próximo do nível pré-pandemia. Com a queda da inflação, vem o ciclo de queda de juros, que normalmente impulsiona os papéis de renda variável como um todo”, disse Ferrer.

O movimento de queda dos juros no exterior aliado à queda da Selic, que já ocorre desde agosto de 2023, deve formar uma combinação poderosa para a Bolsa brasileira. Isso porque, com os juros mais baixos, os resultados das companhias tendem a melhorar

Além disso, a queda dos juros faz com que os múltiplos atribuídos às empresas se expandam, possibilitando valuations maiores e, consequentemente, maior potencial de valorização das ações.

“No último ciclo [de afrouxamento monetário], em 2019, vimos apreciação muito forte dos ativos de risco. O Ibovespa subiu 32% naquele ano”, lembrou Ferrer.

Tudo isso vem em um momento em que o Ibovespa continua barato, tanto em termos históricos quanto na comparação com outros países emergentes.

“A Bolsa brasileira negocia em torno de 8 vezes seus lucros para o ano que vem, sendo mais cara apenas do que a Colômbia. Por outro lado, países como Peru, Chile e México estão com valuations mais caros, o que indica que poderíamos ter uma convergência de valuation da Bolsa brasileira, implicando em valorização dos ativos de risco”, afirmou Ferrer.

Se o Ibovespa como um todo já está barato, através do stock picking (seleção de ações) é possível encontrar verdadeiras jóias “dando sopa” na Bolsa.

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Sobre o autor

Juan Rey

Jornalista pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Contato: juan.rey@empiricus.com.br