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Preço do barril de petróleo flerta com US$ 94 e projeto de compensação do ICMS é aprovado em Brasília; confira

A alta do petróleo está fortemente ligada ao anúncio de estímulos adicionais feito pela China durante o pregão desta sexta(15).

Por Matheus Spiess

15 set 2023, 09:12 - atualizado em 15 set 2023, 09:38

Mercado em 5 minutos - temores bancários
Imagem: Freepik

Bom dia, pessoal. No cenário internacional, o preço do barril de petróleo flerta com a marca dos US$ 94, atingindo o nível mais alto em 10 meses. Esse aumento está fortemente ligado ao anúncio de estímulos adicionais feito pela China durante o pregão desta sexta-feira (15). Não apenas isso, mas parece que os esforços chineses estão começando a gerar resultados, após a promoção de estímulos desde o pronunciamento do Politburo em julho. Essa conjuntura proporcionou uma manhã positiva para os mercados europeus, que seguiram a tendência de força observada nos mercados globais ontem (14).

A análise geral desta semana indica que o aumento da inflação nos EUA não será suficiente para desencadear mais aumentos nas taxas de juros pelo Federal Reserve. Os futuros dos EUA também estão conseguindo sustentar um viés de alta, alinhados com a performance positiva nos mercados asiáticos. Na região, os investidores estão avaliando os principais dados econômicos do Japão e da Coreia do Sul. Em agosto, a taxa de desemprego da Coreia do Sul atingiu 2%, o menor valor desde junho de 1999, enquanto a confiança empresarial no Japão teve uma leve queda em setembro. No entanto, isso não foi o suficiente para diminuir o otimismo dos investidores.

Estamos nos encaminhando para o fim de uma semana excelente até o momento, o que pode ter desdobramentos positivos para os ativos brasileiros. Isso é especialmente relevante, pois as commodities estão apresentando um desempenho positivo hoje.

A ver…

· 00:52 — Resolvendo o ICMS

No Brasil, nos aproximamos do final de uma semana que, até o fechamento de ontem, não registrou quedas no índice Ibovespa. No cenário doméstico, houve ontem a aprovação em Brasília do projeto de compensação do ICMS, que agora segue para o Senado. O ponto central de polêmica no texto era a autorização para os governadores aumentarem a alíquota do ICMS sobre a gasolina. Apesar das alterações, não ficou completamente claro se a possibilidade de aumento foi totalmente removida. Isso é preocupante, pois poderia ser um fator inflacionário significativo.

Às vésperas da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) na próxima semana, qualquer mudança que possa impactar a inflação está no radar dos investidores.

Além disso, o impacto fiscal da medida é crucial, uma vez que o texto busca compensar a União pelos estados devido às perdas na arrecadação do imposto em 2022. Estima-se a antecipação de R$ 10 bilhões do montante total de R$ 27 bilhões a ser repassado entre 2023 e 2025, com um adicional de quase R$ 4 bilhões destinados aos fundos de participação dos municípios e estados. Em um cenário de acentuado estresse fiscal, isso não é algo insignificante. Até quando vamos ignorar isso?

· 01:48 — Deixando de lado a inflação acima do esperado

Nos Estados Unidos, as ações experimentaram uma recuperação considerável ontem, mesmo diante da surpresa relacionada à inflação ao produtor. A perspectiva central é que estejamos, de fato, caminhando para um “pouso suave”, onde a economia dos EUA pode estar desacelerando, mas está longe de entrar em recessão.

Em termos de dados econômicos, as vendas no varejo em agosto aumentaram 0,6% em relação ao mês anterior, superando significativamente as estimativas consensuais do mercado. A notícia não foi ainda melhor devido ao fato de que muitos dos componentes que impulsionaram esse aumento são considerados fatores inflacionários.

No que diz respeito à inflação, o índice geral de preços ao produtor registrou um aumento de 0,7% em agosto, superando a expectativa de um aumento de 0,4%. Quase dois terços desse aumento em agosto foram atribuídos a uma alta de 20% nos preços da gasolina.

No entanto, desta vez, houve notícias mais positivas abaixo da superfície do relatório: o núcleo dos dados, que exclui os componentes relacionados a alimentos e energia, aumentou 0,2% em agosto, alinhado com as expectativas. À medida que o mercado acredita que a inflação está melhorando em termos qualitativos, isso beneficia os ativos de risco. Na agenda de hoje, aguardamos o índice de sentimento do consumidor e os preços de importação, que podem reforçar a tese de um “pouso suave”.

· 02:39 — Uma estreia do varejo na Bolsa americana

A altamente antecipada estreia das ações da Arm Holdings capturou a atenção dos investidores. A empresa de design de semicondutores recebeu a maior quantidade de ordens de compra na plataforma de negociação da Fidelity na quinta-feira, com mais de 20 mil ordens de compra, conforme indicado no site da corretora, sinalizando um forte interesse do varejo na empresa. Esse número superou facilmente a demanda por nomes tradicionalmente populares entre os investidores de varejo, como Tesla e Nvidia. A Arm precificou seu IPO em US$ 51 por ação antes da abertura, e logo após o meio-dia em Nova York, as ações começaram a ser negociadas a US$ 56,10. Ao final da sessão, as ações encerraram 25% acima do preço de IPO.

Com um valor de mercado de US$ 68 bilhões, a Arm Holdings representou a maior oferta pública desde a Rivian Automotive no final de 2021. É evidente que o pipeline de IPO está se aquecendo, com Instacart e Birkenstock entre outras empresas planejando abrir capital em breve. Além disso, a oferta pública inicial da Arm oferece uma oportunidade para refletir se a recuperação das ações de tecnologia deste ano mantém sua força. Tudo indica que sim. A valorização da Arm demonstra que o entusiasmo em torno da inteligência artificial, que impulsionou significativamente as ações de tecnologia no primeiro semestre, continua vigoroso e pode trazer mais alegrias ao longo de 2023.

· 03:25 — Seria o fim da alta dos juros europeus?

Do lado oposto do Atlântico, o Banco Central Europeu (BCE) elevou sua taxa de juros ontem em 25 pontos-base, atingindo 4,0% ao ano. Esse foi o décimo aumento consecutivo do BCE, ocorrendo mesmo após os membros da autoridade monetária reduzirem suas projeções para o crescimento econômico na Zona Euro. Este é o patamar mais elevado desde o lançamento do euro em 1999, marcando uma significativa mudança para uma taxa de juros que abrange 20 países que usam a moeda única. Há apenas 14 meses, essa taxa estava em um recorde mínimo de -0,5%.

O aspecto mais crucial veio após a decisão, durante a entrevista da presidente do banco, Christine Lagarde, aos jornalistas. Ela afirmou que, mantendo-se por um tempo suficiente, o atual nível de juros pode fazer a inflação na Zona Euro retornar à meta de 3%. Em outras palavras, esse pode ter sido o último aumento de juros na região, o que acarreta implicações importantes para a economia real e os ativos globais. Na próxima semana, será a vez dos EUA tomarem sua decisão. Na terra do Tio Sam, os juros provavelmente permanecerão inalterados, o que não indica necessariamente o fim do ciclo por lá.

· 04:13 — Vibrações positivas na Ásia

Na China, o mercado foi impulsionado por duas notícias positivas. Em primeiro lugar, o Banco Popular da China reduziu os requisitos de reserva para os credores locais em 25 pontos base, marcando sua segunda ação desse tipo no ano. A expectativa é que essa redução libere mais liquidez na economia chinesa, possivelmente fortalecendo o crescimento.

Em segundo lugar, os esforços do governo para estimular a economia, embora de forma gradual, estão começando a apresentar resultados. Os dados divulgados na sexta-feira revelaram que a produção industrial e as vendas no varejo da China tiveram um crescimento maior do que o previsto em agosto (com aumentos de 4,5% e 4,6%, respectivamente).

A interpretação é de que a China ganhou impulso em agosto, impulsionada pelo boom do turismo de verão e um estímulo mais robusto, elevando os gastos dos consumidores e a produção industrial, em meio a indícios iniciais de estabilização.

Gradualmente, o otimismo está aumentando entre alguns investidores, que veem os recentes esforços de Pequim para revitalizar a economia começando a dar frutos. Contudo, é importante notar que ainda é cedo, e um único mês de dados não é suficiente para confirmar uma trajetória de recuperação sustentada.

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.