Investimentos

Quatro razões para ter, hoje, uma (pequena) exposição em criptoativos no seu portfólio

Segundo equipe da Hashdex, estamos próximos de uma oportunidade geracional para a indústria de criptoativos.

Por Bruno Mérola

31 out 2023, 14:04 - atualizado em 31 out 2023, 14:07

analista revela primeira moeda de lista de cripto
Imagem: Pexels

Fundada em 2018, a Hashdex é a maior gestora de criptoativos da América Latina hoje, com R$ 2,1 bilhões sob gestão, mais de 210 mil investidores e com produtos listados em 14 países, expandindo geograficamente desde 2021.

Em conversa recente com Samir Kerbage, CIO da Hashdex, Pedro Lapenta, responsável pela área de análise e Henry Oyama, responsável pela área comercial, a equipe comentou estarmos próximos de uma oportunidade geracional para a indústria de criptoativos.

De acordo com Samir, existem mudanças, estruturais e de curto prazo, que podem impulsionar a evolução das moedas e ecossistemas digitais em um período de 12 a 18 meses.

Essa visão consiste em tendências estruturais de longo prazo e oportunidades de curto prazo em transformação que podem convergir em uma redução de oferta aliada a um aumento de demanda para a classe – melhor dos mundos para a valorização do ativo.

Comentamos a seguir os motivos principais para essa percepção da casa de que podemos nos encontrar num excelente horizonte à frente para os criptoativos – principalmente para o bitcoin –, visão que compartilhamos.

1. Halving do bitcoin em abril de 2024

O halving do bitcoin é o evento que acontece a cada quatro anos e que corta pela metade a remuneração dos seus mineradores, aqueles que utilizam suas capacidades de processamento de dados para verificar as transações com o criptoativo, aumentando a velocidade e a eficiência do sistema e sendo remunerados por isso.

Desde que o bitcoin foi apresentado pela primeira vez em 2009 por Satoshi Nakamoto – indivíduo (ou grupo) desconhecido até hoje –, já ocorreram outros três halvings, em 2012, 2016 e 2020, quando a moeda se valorizou entre 293% e 8.300% nos 12 meses posteriores, conforme a tabela abaixo (inspirada em um estudo realizado pela Hashdex):

Repare que, ainda que existam variações em relação ao nível dos resultados, a tendência foi sempre positiva para o período. Em 2023, até 25 de outubro – 6 meses antes da estimativa do próximo halving –, o bitcoin já havia se valorizado 21,89%, enquanto a maior parte do movimento tende a ocorrer após o evento, ou seja, após a redução da oferta da moeda a partir da queda pela metade na remuneração dos mineradores.

2. Mudança estrutural do bitcoin como reserva de valor

Neste ano, com a resiliência da economia americana, dificuldade para controle da inflação, problemas fiscais sérios e na credibilidade sobre os títulos americanos, a discussão sobre a hegemonia americana como safe haven (porto seguro) global é bastante válida.

Como consequência, investidores passam (e devem passar cada vez mais) a avaliar alternativas para seus investimentos destinados a reserva de valor – até mesmo em relação ao ouro.

Samir reforça: “o bitcoin está no começo de sua evolução. Os próximos 5 a 10 anos vão ter transformações geracionais e geopolíticas que aumentarão a percepção dos investidores sobre o bitcoin como uma reserva de valor, tão boa quanto alternativas como o tesouro americano.”

O criptoativo ainda precisa se provar em relação às opções mais usuais com décadas de histórico, mas ele tem ganhado cada vez mais espaço nas discussões de alocação do mercado. Para Samir, o principal risco da tese é o regulatório, um cenário extremo em que diferentes economias proíbam negociações com criptoativos.

3. Possibilidade de aprovação do primeiro ETF de bitcoin com operações no mercado à vista pela SEC

Atualmente, os ETFs de criptoativos nos Estados Unidos operam no mercado futuro através da CME (Chicago Mercantile Exchange), marketplace global de derivativos.

A Hashdex deseja se tornar pioneira na criação de um ETF de bitcoin com operações no mercado à vista (spot), brigando pelo pioneirismo com grandes players como BlackRock e ARK.

A SEC (“CVM” americana), entretanto, tem levantado preocupações sobre os riscos de manipulação de preços e de falta de legislação e monitoramento das exchanges (plataformas de negociação de criptoativos), segurando a criação do produto.

Em matéria do Financial Times (em inglês), foi apresentada a maneira encontrada pela Hashdex para contra-argumentar, utilizando a liquidez da moeda no mercado futuro via CME para mitigá-los.

A gestora sugeriu o cálculo do preço com base no futuro do bitcoin, similar a uma operação de dólar casado no Brasil (que compra o dólar à vista e vende o futuro), transferindo a liquidez do mercado futuro para o mercado à vista da CME – que é regulada pela SEC.

Se der certo, isso daria conforto ao investidor institucional para incluir a classe em sua exposição, na opinião de Samir.

Segundo o CIO, essa decisão deve ocorrer já no primeiro semestre do ano que vem e a expectativa é de que entre um volume relevante de investidores atualmente receosos de operar sem o amparo do regulador americano, além de destacar a Hashdex com esse pioneirismo, trazendo mais investidores para a asset.

4. Interesse de banqueiros centrais ao ecossistema de criptoativos

A equipe da Hashdex pontua a adesão das principais economias ao ecossistema digital de transações como fator de longo prazo importante para a evolução dessa indústria, apesar de estar mais distante de movimentar o mercado de forma relevante do que os outros três apresentados.

O Brasil tem sido pioneiro na disseminação do tema com a construção do real digitado (denominado Drex) e participação nas discussões para tornar o sistema de transações global cada vez mais digitalizado via blockchain.

Especificamente para o Brasil, o início da Resolução 175 da CVM esclarece a natureza das criptomoedas como ativos financeiros. Isso traz maior conforto para o investidor institucional alocar na classe, dado que esse movimento traz clareza regulatória.

É claro que o Brasil representa uma pequena parte da exposição desse mercado, mas há uma ótima oportunidade de crescimento por aqui, existindo agora uma barreira mais educacional do que regulatória, que também tem evoluído.

Sobre o autor

Bruno Mérola

Desde 2019, lidera a série Melhores Fundos, selecionando os melhores fundos de investimento no Brasil e no mundo. Anteriormente, atuou por cinco anos no Itaú, recomendando investimentos para clientes Ultra-High-Net-Worth (UHNW) com patrimônio acima de R$ 50 milhões. Engenheiro de Produção pela UFRJ, é CFA Charterholder e possui a certificação FRM, além de CIPM, CFP® e CNPI.