Investimentos

Queda da inflação nos EUA reforça possibilidade de manutenção dos juros americanos e ajudou a disparar Ibovespa na terça (14); confira

Além disso, o alívio dos índices de preços nos Estados Unidos ajudam a reduzir o rendimento dos títulos do Tesouro de 2 a 10 anos.

Por Matheus Spiess

16 nov 2023, 08:41 - atualizado em 16 nov 2023, 08:42

Mercado em 5 minutos - presidente do BC justifica taxa de juros elevada
Fonte: Unsplash

Bom dia, pessoal. Os investidores continuam a assimilar o conjunto de dados de inflação nos EUA, que mais uma vez ficou aquém das expectativas, em linha com o ocorrido na terça-feira. Ambos os índices de preços, tanto para os consumidores quanto para os produtores, evidenciaram uma desaceleração, reforçando a crença de que a taxa de juros permanecerá estável, aliviando a pressão sobre os juros de mercado.

Enquanto os mercados estavam fechados no Brasil devido ao feriado de quarta-feira, as ADRs brasileiras apresentaram um desempenho bastante satisfatório, em sintonia com a alta dos ativos norte-americanos. Hoje, os mercados europeus não estão tão favoráveis, assim como os futuros nos Estados Unidos, que estão corrigindo os ganhos dos últimos dois dias. Independentemente disso, há um  “catch-up” no Brasil.

Além disso, dados recentes da China revelaram uma recuperação nos setores industriais do gigante asiático, superando as expectativas. Isso poderia fornecer impulso adicional às commodities, especialmente considerando que o preço do minério de ferro já ultrapassou a marca de US$ 130 por tonelada. Na agenda, continuamos atentos às principais discussões fiscais tanto no Brasil quanto nos EUA, assim como aos discursos de autoridades monetárias ao redor do mundo.

A ver…

· 00:43 — Alguma água no chope?

Na última terça-feira, o Ibovespa atingiu o seu ponto mais alto em dois anos, registrando 123.165,76 pontos. Este avanço acompanhou uma temporada de resultados relativamente positiva, uma inflação ao consumidor nos Estados Unidos que ficou abaixo das projeções e uma renovação nas expectativas em relação à Selic, que, como mencionado anteriormente, sinaliza um cenário de um dígito até o final do ano que vem ou início de 2025. Durante o feriado, o principal fundo de índice (ETF) do Brasil negociado em Nova York continuou a subir, indicando a possibilidade de um acompanhamento, mesmo que moderado por enquanto, considerando que hoje não é um dia tão favorável no exterior, com investidores realizando lucros das recentes altas.

Entretanto, um revés pode surgir das questões fiscais, tanto em âmbito local quanto internacional. Em Brasília, informações dos bastidores indicam que Lula atendeu a Haddad e optará por aguardar as votações no Congresso antes de alterar a meta fiscal. Isso representa mais uma vitória do ministro sobre a ala política. O prazo para a revisão da meta, contudo, não será até março, mas sim até o final deste ano. Até lá, Haddad enfrentará o desafio de avançar com o que for possível na pauta fiscal, buscando reduzir o déficit o máximo possível. Essa abordagem é crucial, uma vez que demonstrar um plano claro para o governo pode influenciar positivamente a curva de juros e, por conseguinte, impactar positivamente as ações brasileiras.

· 01:37 — O custo Brasil

O governo delineou uma lista de 17 projetos a serem implementados nos próximos 24 meses visando a redução do denominado “custo Brasil”, que encapsula as diversas dificuldades estruturais que encarecem os negócios e prejudicam o crescimento do país. Essas propostas incluem medidas para diminuir o custo de financiamento de projetos de infraestrutura, reduzir os encargos setoriais que afetam as tarifas de energia elétrica, eliminar obstáculos à navegação hidroviária e otimizar as taxas portuárias.

O grupo de trabalho, recém-criado, identificou um total de 105 taxas portuárias que impactam as atividades exportadoras, contribuindo para o encarecimento do comércio exterior. Enquanto isso, os encargos setoriais atualmente representam cerca de 13,7% da tarifa de energia elétrica e, no período de 2017 a 2022, aumentaram em torno de 57%, totalizando R$ 32 bilhões. Em maio, o governo revelou que o Custo Brasil atinge a cifra de R$ 1,7 trilhão. Estruturalmente, a redução desse custo é vista como um impulso significativo para o crescimento de longo prazo.

· 02:26 — Inflação desacelerando

Nos EUA, os investidores despediram-se das preocupações com a inflação entre terça e quarta-feira, impulsionando as ações e reduzindo os rendimentos dos títulos. Notavelmente, os rendimentos dos títulos do Tesouro de 2 e 10 anos experimentaram as maiores quedas em um único dia desde março, com o rendimento do título de 10 anos recuando para menos de 4,50% ao ano.

Essas mudanças seguiram os relatórios de inflação para consumidores e produtores. O índice de inflação para consumidores mostrou um aumento de 3,2% em comparação ao ano anterior, ficando abaixo das expectativas e indicando uma desaceleração em relação ao registrado em setembro. Além disso, qualitativamente, os dados foram bastante positivos, revelando reduções em componentes essenciais do índice. Já o índice de preços ao produtor chegou a apresentar deflação.

Para o mercado de ações, essa configuração foi altamente favorável, levando a quase unanimidade na percepção de que o Federal Reserve interrompeu o ciclo de elevação das taxas de juros. Tanto é verdade que o mercado de futuros agora reflete uma probabilidade de 0% para um aumento das taxas em dezembro, marcando uma queda em relação às probabilidades de 14% do início da semana.

· 03:31 — A vitória de Mike

Ainda nos Estados Unidos, a Câmara dos Representantes aprovou mais uma legislação provisória, apresentada por Mike Johnson, o novo presidente da Câmara. Essa legislação visa financiar o governo federal até o início do próximo ano. O Senado, onde líderes de ambas as partes indicaram apoio, está prestes a ratificar o plano, esperando-se que chegue à mesa do presidente Joe Biden antes que o financiamento do governo expire na noite de sexta-feira.

Ao invés de buscar uma votação única para manter o funcionamento do governo, Johnson propôs uma abordagem “escalada”. Esta abordagem financiará os gastos governamentais em áreas como construção militar, Assuntos dos Veteranos, transporte, habitação e Departamento de Energia – setores nos quais há amplo consenso sobre os níveis de financiamento – até 19 de janeiro de 2024. Enquanto isso, a decisão sobre o restante do financiamento governamental foi adiada até 2 de fevereiro de 2024.

A votação da Câmara para evitar uma paralisação esta semana foi recebida com alívio, mas isso não marca o desfecho da situação. O Congresso americano parece enfrentar desafios persistentes relacionados ao orçamento do país, uma preocupação que pode ter influenciado a decisão da Moody’s de rebaixar a perspectiva da dívida dos EUA na sexta-feira. Assim, embora o Congresso possa ter adiado uma possível paralisação até o ano novo, a resolução completa da situação ainda parece distante.

· 04:29 — Um visitante inusitado

Ontem, ocorreu o tão esperado encontro entre o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o presidente da China, Xi Jinping. Biden destacou que as conversações avançaram na reparação dos laços tensos entre as duas nações, elogiando acordos para restabelecer comunicações militares de alto nível, combater o fentanil e iniciar um diálogo sobre inteligência artificial. A China, por sua vez, descreveu as negociações como uma troca de pontos de vista franca e profunda.

Destaca-se a presença de importantes executivos dos EUA, como Larry Fink, da BlackRock, e Tim Cook, da Apple, na reunião com o presidente Xi Jinping, durante um jantar em São Francisco. Nesse encontro, o líder chinês busca atrair capital estrangeiro. Pequim intensificou os esforços para atrair investidores estrangeiros neste ano, reafirmando seu compromisso nesta semana. Uma melhoria nas relações sino-americanas afasta o mundo da perspectiva de uma possível “Segunda Guerra Fria”, criando um ambiente propício para o que Marcos Troyjo chama de “Paz Quente”.

O evento coincidiu com a divulgação de dados interessantes pela China sobre sua atividade econômica. A produção industrial chinesa registrou um aumento anualizado de 4,6% em outubro, superando os 4,5% de setembro e as estimativas de 4,3%. As vendas no varejo também avançaram, atingindo 7,6%, acima da projeção de 7% e dos números de setembro (+5,5%). O desempenho positivo serviu para sustentar o mercado.

· 05:14 — Otimismo com uma posição mais arriscada

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Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.