O mercado não digeriu bem o comunicado do Banco Central, depois da reunião do Copom da última quarta-feira (21). A forte queda em todos os setores da Bolsa se reflete no Ibovespa, que desvalorizou 1,8% até às 15h20 deste pregão.
O motivo do descontentamento não foi o fato de a taxa básica de juros brasileira, Selic, ter sido mantida em 13,75%, o que já era esperado.
O mercado aguardava um tom mais explícito do Banco Central em direção ao início do afrouxamento monetário (corte de juros) na próxima reunião, em agosto.
Embora o discurso tenha sido menos duro que o das últimas reuniões e não cite a possibilidade de mais aumentos, a expectativa era por uma sinalização mais contundente, que não veio.
Só duas empresas do Ibovespa sobem no ‘pregão pós-Copom’
A taxa básica de juros tem influência direta no comportamento dos ativos de risco. Como mostra o gráfico abaixo, existe uma relação inversa entre a Selic e o Ibovespa: isto é, quando a taxa cai a Bolsa sobe, e vice-versa.
Com a quebra de expectativas, o que se vê é uma queda expressiva em todos os setores da Bolsa, principalmente o de varejo.
Por estarem alavancadas (com dívidas), as empresas do setor são mais sensíveis à taxa de juros e, assim como foram beneficiadas com a queda na curva de juros nos últimos meses, agora sentem o impacto.
Companhias como Magazine Luiza (MGLU3), Via Varejo (VIIA3) apresentam baixas na casa dos 6%.
Por outro lado, apenas duas empresas do Ibovespa apresentam alta até o momento: BB Seguridade (BBSE3), com 0,03%, e Ambev (ABEV3), com 0,98%.
O ‘estrago pós-Copom’ só não é pior para o principal indicador da B3 porque Vale (VALE3), empresa de maior peso Ibovespa, cai menos que a média da Bolsa até aqui: 0,79%.
Analista vê queda como ‘choque de curto prazo’
Por mais que o cenário possa assustar os investidores, o analista Matheus Spiess, da Empiricus Research, acredita que a queda é um “choque de curto prazo”.
“É natural que haja um sentimento de aversão a risco no pregão de hoje. O movimento sobre a curva de juros foi muito agressivo nos últimos pregões, e agora sentimos um choque inverso, com juro curto subindo e o longo caindo”, avalia.
Apesar disso, ele mantém a expectativa de corte da taxa Selic em agosto ou, no mais tardar, em setembro. “Não passa do terceiro trimestre”, avalia.
Mesmo com a manutenção do cenário base, Spiess pondera que os ativos podem sofrer no curto prazo pela falta de “vetores positivos”.
Mais dados de inflação serão divulgados até a próxima reunião do Copom
Fato é que até a próxima reunião do Copom, em agosto, muitos dados de inflação serão divulgados, como os IPCAs de junho e o IPCA-15 de julho. “Tem muito dado até lá para estabelecer um argumento forte para redução em agosto”, afirma.
Nunca é demais lembrar que o aumento nas taxas de juros ocorre para conter a inflação, que começa a dar sinais de arrefecimento e, por isso, uma queda é esperada em breve.
O analista acredita, inclusive, que o tom adotado pode ter sido um recado direto ao governo para que não haja flexibilização na meta de inflação.
Por fim, a principal mudança com o comunicado, na visão de Spiess, é que a possibilidade de corte de 50 pontos base na próxima reunião, ao menos até o momento, saiu da mesa. O Copom deve começar o ciclo com uma redução de 0,25%.
“Provavelmente vai ser um ritmo de flexibilização bastante gradual. Responsável, conservador e cauteloso, mas coerente com o que o Banco Central tem feito ao longo dos últimos meses”, avalia.
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Confira a entrevista completa de Matheus Spiess no Giro do Mercado: