Às segundas-feiras, Richard Camargo, analista de ações, André Franco, analista de criptoativos, e Vinícius Bazan, Head de Mobile, todos da Empiricus, se reúnem para uma conversa descontraída e sem filtro sobre tecnologia, empreendedorismo e o que mais surgir no meio.
Além deles, há uma quarta cadeira reservada para um convidado contar a sua visão de mundo sobre os temas do podcast e suas próprias experiências e empresas. Se você gosta do mundo inovador envolvendo tecnologia e os impactos disso na sociedade — discutido de um jeito leve —, então o Tela Azul é o seu podcast.
Para escutá-lo, é dar play no episódio e acompanhá-lo na íntegra:
Você pode continuar comigo, também; que escutei o bate-papo e trouxe alguns dos pontos mais relevantes dele neste texto.
Startups e dados: qual é a receita do sucesso?
O convidado da vez foi o Lincoln Ando, fundador e CEO da idwall, uma startup de segurança de dados para empresas e pessoas físicas.
Ele conta que, antes de criar a idwall, teve seu primeiro contato com segurança no mundo digital — algo que ele ressalta ser ainda mais raro alguns anos atrás — ao trabalhar para o Banco Original, em 2011.
Ele gostou demais e, passado um tempo após sair da empresa, decidiu fundar sua primeira startup, que… faliu.
Na visão dele, houveram dois erros fundamentais para o negócio fracassar:
-
A escolha dos sócios; e
-
Os “problemas” resolvidos.
Em suas palavras: “muitas vezes, quando você vai abrir uma startup, você chama algum amigo, mas descobre que ele não te complementa profissionalmente e tem uma visão de mundo totalmente diferente da sua”.
Lincoln deixa a dica para quem está pensando em fundar (ou investir em) uma startup: pergunte a si mesmo se a empresa tem uma composição de sócios suficientemente boa para levar o projeto adiante.
Sobre o segundo ponto, dos problemas resolvidos, ele destaca que a startup precisa resolver uma dor realmente aguda na sociedade, ou seja, problemas do mundo real.
Ele conta que vê muita gente recém-formada na faculdade falando que vai criar um aplicativo para resolver as filas das baladas, porque esse é o problema que elas viram na vida… para ele, ter vivência para entender o que realmente é um problema é essencial.
Em 2016, com a experiência do Banco Original e um empreendimento fracassado no currículo, ele viu que segurança digital era papo sério e as soluções não eram de alto nível. Foi aí que ele abriu a idwall.
Na prática, a idwall protege empresas e pessoas nos processos de verificação de documentos, pesquisa sobre os antecedentes de alguém e outros campos mais exóticos, como a documentoscopia, área focada na apuração da autenticidade ou falsidade de algum documento (ele conta que investem em tecnologias que previnem, por exemplo, vídeos de vídeos e fotos de fotos).
Isso faz com que ela seja uma companhia versátil que consegue atender desde exchanges de criptomoedas e outras empresas do sistema financeiro até locadoras de carros.
A empresa está de pé até hoje e ele explica que “se você já tirou alguma selfie para criar uma conta online em um banco, provavelmente já passou pelos serviços da idwall”.
Eu preciso me prevenir contra fraudes?
Para Lincoln, todos — mas principalmente quem empreende — devem ter cautela quando o assunto é dados. O fundador, então, aproveita a oportunidade para contar as suas experiências nesse mercado.
“Já ouvi histórias de empresas que sofreram fraudes tão grandes quando começaram as operações que elas faliram o negócio. Algumas pessoas já até mandaram prints, para mim, de um grupo de fraudadores específicos para startups early stage, ou seja, aquelas que foram fundadas recentemente e ainda não escalaram suas operações: eles combinam o alvo porque sabem que a empresa foi fundada recentemente e nem subiu os sistemas de segurança ainda, então todos atacam ao mesmo tempo”.
André Franco pergunta: então quem são os clientes que procuram vocês, o cara que já tomou algum golpe ou aquele que nunca sofreu esse tipo de ataque e quer se prevenir?
Lincoln diz que ambos, tanto quem já foi educado pelo mercado quanto quem foi vitimado por algum esquema (esses normalmente chegam desesperados pela solução).
Em seu tempo à frente da idwall, ele também revela que já conseguiu abordar, com sua equipe, um fraudador que estava em habeas corpus, para entender como ele opera e a sua versão. Para saber os detalhes deste caso e outros, veja o podcast abaixo:
O que a idwall sabe de pessoas comuns, como nós?
Lincoln diz que a empresa executa um processo exigido pela lei que busca descobrir se a pessoa sofre processos judiciais; se já possui crimes, como lavagem de dinheiro; e se está em listas de pessoas banidas, como financiadores de terrorismo e tráfico de drogas.
Assim, a empresa consegue acessar 250 fontes diferentes para buscar essas informações em tempo real e, então, usam elas para configurar um score de risco ao cliente (o que ajuda, por exemplo, um banco a decidir se concede crédito ou não).
O Facebook e o Google sabem seus segredos? E o que é, de fato, privacidade?
É comum os noticiários alertarem sobre vazamentos massivos de dados e que você deve tomar cuidado com eles. Lincoln aproveita para dar a dica de ouro: se você baixar o aplicativo MeuID da idwall, consegue ver todos os vazamentos de dados que já envolveram o seu e-mail.
“Normalmente, o número de vazamentos é absurdo, costuma ser mais de dez”, pontua o empreendedor.
Enquanto a conversa rolava, André baixou o aplicativo e, realmente, viu que os seus próprios dados haviam vazado nove vezes.
Entenda mais sobre o impacto disso na sua vida e como proceder para mudar o jogo daqui em diante:
Richard aproveita para perguntar: “os usuários querem ter privacidade de dados, mas sem abrir mão dos recursos que amam… o que você pensa sobre esse dilema e o que as grandes empresas de tecnologia sabem sobre você?”
As big techs nos conhecem tanto quanto nós conhecemos ela?
Lincoln pontua que o próprio entendimento do conceito de privacidade é pouco entendido no Brasil, atualmente. Ele explica que “as pessoas acreditam que privacidade se trata de esconder, como se você estivesse protegido por não mostrar seus dados”.
Ele desconstrói essa perspectiva: “acho que isso é uma grande falácia… na verdade, privacidade é você dar consentimento sobre os dados que as empresas estão consumindo para um determinado propósito”.
A grande pergunta, segundo ele, é se as empresas estão usando os dados para motivos legítimos; se isso faz sentido para as pessoas e para a sociedade. “Há empresas que abusam dos dados que recebem e empresas que são extremamente fiéis ao que prometem”, ele conclui a linha de raciocínio.
Verdade ou Mito
No final de cada episódio, André, Richard e Vinícius (que não estava presente nesse) realizam uma rodada de perguntas para o entrevistado, que só pode responder “verdade” ou “mito” (em alguns casos mais escorregadios, a resposta “não posso responder” foi inaugurada), justificando a mesma, claro.
Para ter acesso às respostas do Lincoln na dinâmica, vou deixar que acompanhe a brincadeira no podcast, mesmo. Só que vou te dar um pequeno spoiler sobre quatro das sete perguntas feitas:
-
A LGPD é uma revolução no mercado de muletas corporativas, substitui o antigo e ultrapassado “meu sistema não permite” pelo moderno “não está adequado aos padrões da LGPD;
-
Se a gente fizer um facenet do André no banco de dados da idwall, com certeza ele vai estar na sua blacklist;
-
Entender LGPD e não aceitar o potencial das criptomoedas é tipo acreditar na ciência e não aceitar que a Terra é redonda; e
-
Privacidade está no hall de coisas que todo mundo quer ter, mas ninguém quer pagar por elas.
Se você gostou desses pontos altos da conversa, não deixe de conferir a totalidade do podcast, disponibilizado abaixo: