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Rebelião do grupo Wagner: como a escalada de tensão na Rússia pode afetar a economia?

Rebelião do grupo Wagner foi controlada, mas “flagelo interno deixa fraturas dentro e fora da Rússia”, segundo especialista

Por Juan Rey

26 jun 2023, 15:21 - atualizado em 26 jun 2023, 15:21

Imagem das delimitações fronteiriças entre Rússia e Ucrânia em menção à guerra entre esses dois países Rússia Ucrânia Grupo Wagner
Reprodução: Shutterstock

A rebelião do grupo paramilitar Wagner contra Vladimir Putin escalou ainda mais a tensão na Rússia. O confronto entre mercenários e as tropas russas chegou a incendiar um depósito de petróleo na cidade de Voronezh. 

O atrito teve início após o líder do grupo paramilitar, Yevgeny Prigozhin, acusar Putin de não equipar as tropas devidamente e impor trâmites burocráticos para dificultar a ofensiva contra a Ucrânia. Ele também acusa o país de se vangloriar de conquistas obtidas na guerra graças ao trabalho dos mercenários.

Agora, as informações são de que o conflito foi resolvido após uma série de exigências por parte dos mercenários e o grupo Wagner está, aos poucos, deixando a Rússia. Para o analista macro da Empiricus Research, Matheus Spiess, embora a ofensiva dos paramilitares não tenha sido bem sucedida, ela deixou fraturas “dentro e fora da Rússia”. 

“Se antes a Rússia já estava em posição de fragilidade frente aos demais países, sofrendo sanções e perdendo espaço na Ucrânia, agora está ainda mais, porque mostrou flagelo interno”, avalia.

A Rússia é o segundo maior exportador de petróleo do mundo e, desde o ano passado, quando invadiu a Ucrânia, foi fortemente sancionada globalmente. “Isso teve um impacto global nos preços de commodities energéticas no ano passado, em especial gás e petróleo. Ainda assim, o país vinha conseguindo se equacionar vendendo essas remessas para países ainda parceiros, com destaque para a China”.

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Ofensiva contra a Rússia não afetou mercado no curto prazo, mas deixa ‘pé atrás’

Em termos práticos, o analista acredita que a escalada de tensão não afetou o mercado no curto prazo, já que aparentemente o problema foi resolvido. 

Ele explica que não houve ruptura na cadeia de suprimentos e a China deve continuar comprando o petróleo russo com desconto. No entanto, ele não descarta a possibilidade da ruptura ocorrer caso o “caos na Rússia volte a acontecer”.

“Se porventura houver uma disrupção na cadeia de suprimento por falta de organização interna da Rússia, a China vai precisar comprar em outro lugar e aí voltaria a demanda do petróleo ocidental, o que poderia pressionar o preço da commodity e também do gás”, analisa.

Outra questão que poderia ocorrer com uma escalada maior na tensão se refere ao foco nos investimentos mais seguros. Tradicionalmente, em momentos de maior sensibilidade geopolítica, os investidores costumam recorrer aos chamados safe heavens, como ouro, moedas fortes e títulos do tesouro de países desenvolvidos, em especial os Estados Unidos.

Ainda no âmbito da hipótese de uma tensão ainda maior na Rússia, o analista vê a possibilidade de uma valorização no índice do dólar norte-americano, DXY. 

“Em momentos de aversão a risco você tem uma prevalência no DXY, que mede a força do dólar frente a outras moedas. Mas como não teve uma ruptura maior no curto prazo, ainda que essa chance tenha aumentado, não devemos ter uma força unilateral no DXY por conta disso”, explica.

Confira abaixo a entrevista completa de Matheus Spiess: 

Sobre o autor

Juan Rey

Jornalista pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Contato: juan.rey@empiricus.com.br