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Renda Fixa: com ata do Copom mais dura e Fed mais conservador, mantemos nossa preferência por CDBs e LCIs pós-fixados; veja as recomendações

Autoridade monetária brasileira reforça preocupação com desancoragem das expectativas de inflação e Fed adia probabilidade de redução de juros

Por Lais Costa

04 fev 2025, 13:02 - atualizado em 18 fev 2025, 15:51

juros EUA e Brasil

Imagem: iStock/alexsl

No relatório desta semana, analisamos o tom mais conservador do Fed, que acabou reduzindo as chances de cortes de juros no curto prazo, e os efeitos das tarifas protecionistas de Trump na inflação.

No Brasil, o BC endurece sua postura diante de pressões fiscais e do sobreaquecimento da economia, sinalizando a necessidade de mais altas nos juros pela frente.

Fed mantém postura mais conservadora e adia probabilidade de corte de juros

Na última quarta-feira (29), o comitê do Banco Central Americano (Fed) dos EUA decidiu unanimemente manter a taxa de juros no intervalo de 4,25% a 4,50% ao ano. Para o mercado, a decisão era amplamente esperada.

No comunicado, o Fed informou que “a taxa de desemprego se estabilizou em uma taxa baixa nos últimos meses”,  indicando números mais sólidos do mercado de trabalho, e retirou a menção na qual indicava um “progresso” da inflação à meta. 

Esses ajustes sinalizaram uma postura mais conservadora por parte do comitê e uma visão de aumento de risco de interrupção no processo deflacionário e de arrefecimento do mercado de trabalho no curto prazo. Embora o presidente Jerome Powell tenha minimizado essas mudanças no comunicado, houve uma notória redução da probabilidade de corte de juros no primeiro trimestre deste ano. Os dois cortes de 25 pontos-base contratados para 2025 foram adiados pelo mercado para o segundo semestre do ano.

Efeitos das tarifas protecionistas de Trump na inflação nos EUA

No calendário macroeconômico, o índice de preços PCE, divulgado no último dia de janeiro, subiu 0,3% m/m, em linha com as estimativas de mercado. Ainda mais relevante, o núcleo do PCE, que exclui alimentos e energia, avançou 0,16% m/m, levemente abaixo da mediana das estimativas dos analistas.

Embora os gastos reais tenham ficado acima do esperado e sofrido revisões de alta dos meses anteriores, é possível argumentar que esse número tenha sido impactado por uma possível antecipação de compra de bens passíveis de tarifação pelo governo recém chegado. Considerando a sazonalidade, a taxa anualizada do PCE nos últimos três meses ficou em 2,2%, patamar próximo da meta da autoridade monetária.

Olhando para frente, a leitura mais benigna da medida de inflação preferida do Fed contrasta com os possíveis efeitos inflacionários das políticas protecionistas do Presidente Trump.

Durante o último final de semana, o Presidente Trump anunciou uma série de tarifas às importações. Aos países vizinhos, Canadá e México, Trump anunciou 25% de impostos (com exceção de energia do Canadá que ficou em 10%), enquanto para produtos chineses, as tarifas foram de 10%. As importações com valor inferior a U$800 deixaram de ser isentas. Embora parte dessas medidas já tenham sido adiadas em conversas recentes entre os líderes políticos dos países envolvidos, a magnitude dessas taxas é relevante. 

As importações dessas geografias juntas totalizaram algo equivalente a 4,7% do PIB da maior economia do mundo, e, embora os efeitos das tarifas sejam difíceis de precisar, a pressão altista na inflação e para baixo na atividade deve manter o Fed em uma posição reticente em relação a continuação do ciclo de corte de juros.

Ata do Copom reforça preocupações com desancoragem da inflação

Ainda no contexto de Super Quarta para o mercado, o comitê de política monetária do Brasil elevou a taxa de juros em 100 pontos-base, para 13,25% ao ano. Não houve surpresas em relação ao aumento, uma vez que o Banco Central (BC) comandado agora pelo Presidente Galípolo seguiu firmemente a sinalização futura (forward guidance) da reunião de dezembro. 

Apesar de ter havido a pior deterioração de expectativas de inflação no relatório Focus entre reuniões do BC, o comitê optou por encurtar o forward guidance, preservando um grau maior de flexibilidade na decisão de maio. 

Na ata divulgada nesta manhã (4), a autoridade monetária se mostrou mais dura (hawk) do que no comunicado pós-decisão. Claramente, o documento recém divulgado veio de encontro com a possível interpretação de que o encurtamento do guidance poderia significar uma postura mais leniente da autarquia. 

A ata reforçou em diversos pontos a preocupação com a desancoragem das expectativas de inflação e minimizou uma provável leitura mais fraca da economia brasileira no último trimestre de 2024, reconhecendo também que o hiato do produto é positivo. Em outras palavras, o BC reconheceu que existe pressão inflacionária advinda do sobreaquecimento da atividade econômica.  Houve ainda o reforço de que políticas fiscais expansionistas têm impactado significativamente o cenário prospectivo, com efeito visível na expansão de crédito direcionado e na depreciação do câmbio.

É bastante nítido que o BC precisará continuar com o ciclo de aperto monetário até o segundo semestre de 2025. Continuamos vendo revisões de alta nas projeções do relatório Focus (embora em magnitudes menores) e uma inflação deste ano próxima de 6,5%. De maneira similar, o prêmio da inflação implícita de mercado para o horizonte de um ano – atualmente acima de 7,5% – deve permanecer, dado o cenário fiscal turbulento e as incertezas em relação às políticas protecionistas globais.

Por isso, mantemos nossa preferência tática por títulos pós-fixados.

Cardápio da semana: confira os títulos de renda fixa recomendados

Características do CDB pós-fixado do BTG Pactual
Classificação de risco da instituiçãoFitch: AAA (bra)
Público-alvoInvestidores em geral
Onde encontrarBTG Pactual 
Aplicação mínimaR$ 50,00
Aplicação máxima
LiquidaçãoD+0
Vencimento (prazo)04/02/2027 (730 dias corridos)
Rentabilidade anual100,00% do CDI
Tributação15%
Pagamento de jurosNo vencimento
ResgateDiário
GarantiasFundo Garantidor de Créditos (FGC)
Horário limite de aplicação17h45
Características do CDB  pós-fixado do Paraná Banco
Classificação de risco da instituiçãoFitch: AA- (bra)
Público-alvoInvestidores em geral
Onde encontrarParaná Banco
Aplicação mínimaR$ 100,00
Aplicação máxima
LiquidaçãoD+0
Vencimento (prazo)26/01/2027 (721 dias corridos)
Rentabilidade anual110,00% do CDI
Tributação15%
Pagamento de jurosNo vencimento
ResgateNo vencimento
GarantiasFundo Garantidor de Créditos (FGC)
Horário limite de aplicação14h
Características do LCI pós-fixado do Banco Sofisa
Classificação de risco da instituiçãoFitch: AA- (bra)
Público-alvoInvestidores em geral
Onde encontrarBanco Sofisa
Aplicação mínimaR$ 1,00
Aplicação máxima
LiquidaçãoD+0
Vencimento (prazo)26/01/2027 (721 dias corridos)
Rentabilidade anual92,00% do CDI
TributaçãoIsenta
Pagamento de jurosNo vencimento
ResgateNo vencimento
GarantiasFundo Garantidor de Créditos (FGC)
Horário limite de aplicação22h

A taxa líquida da LCI do Banco Sofisa é equivalente a uma taxa bruta de aproximadamente 108,24% do CDI.

As taxas e vencimentos do títulos indicados nas tabelas acima são referentes ao dia 4 de fevereiro de 2025 e, portanto, são válidos apenas para o dia de hoje (4).

A série Super Renda Fixa tem como foco principal recomendar títulos de crédito privado com uma relação de risco e retorno atrativa, atendendo à demanda de assinantes que buscam retornos acima dos títulos públicos. 

Para a sua reserva de emergência, aquele dinheiro que você pode precisar no curtíssimo prazo, recomendamos apenas o Tesouro Selic, disponível na plataforma do Tesouro Direto, ou fundos DI taxa zero

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Sobre o autor

Lais Costa

Engenheira eletricista pela UTFPR com passagem pelo MIT e especialização em finanças pela Columbia University. Iniciou a carreira no mercado financeiro com foco no mercado de bonds nos EUA. Após uma experiência na Itaú Asset em NY, ela esteve por três anos no time de Global Macro Strategy da XP Inc também em NY, cobrindo mercados emergentes asiáticos e Brasil com foco em criação de ideias de investimento de renda fixa para clientes institucionais. Desde maio de 2021, Laís faz parte do time de análise da Empiricus. Por dois anos foi responsável pela alocação e seleção de fundos globais e hoje é a analista a frente das séries Super Renda Fixa e Os Melhores Fundos de Investimento.