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Rendimento do Treasury de 10 anos chega a 5% pela primeira vez desde 2007; veja este e outros destaques do mercado nesta segunda (23)

Yields dos títulos do tesouro dos EUA têm renovado constantemente as máximas dos últimos 16 anos. Disparada é o principal ponto de atenção do mercado no momento

Por Matheus Spiess

23 out 2023, 09:15 - atualizado em 23 out 2023, 09:15

Imagem representando o dólar, mostrando notas de dólar. mercado treasury treasuries

Bom dia, pessoal. A agenda de eventos é relevante tanto no cenário internacional quanto local. Começando com os investidores estrangeiros, a atenção provavelmente estará voltada para os rendimentos dos títulos americanos. Eles acompanharão de perto os dados do PIB do terceiro trimestre dos EUA, programados para esta semana, bem como a divulgação do PCE, o indicador de inflação preferido pelo Fed, na sexta-feira. Além disso, esta semana verá a divulgação dos resultados trimestrais de algumas grandes empresas, incluindo Amazon, Microsoft, Meta, Coca-Cola e Chevron. Tudo isso acontece em meio às preocupações contínuas sobre a escalada do conflito no Oriente Médio.

As ações globais continuam sob pressão devido ao aumento dos rendimentos dos títulos. As ações europeias, por exemplo, estão em queda devido à taxa de juros dos títulos do Tesouro dos EUA de 10 anos, que atingiu 5% pela primeira vez desde 2007. Os futuros americanos estão seguindo a mesma tendência. No dia 26 de outubro, o Banco Central Europeu (BCE) anunciará sua decisão sobre a taxa de juro. A expectativa é que o BCE mantenha as taxas inalteradas após elevar as taxas em 450 pontos desde julho de 2022. Compreender os próximos passos das autoridades monetárias é fundamental neste cenário.

A ver…

· 00:48 — O Congresso deixa de hibernar

No Brasil, depois de muitas semanas de silêncio, Brasília volta a atrair a atenção do mercado. A votação sobre a tributação de fundos exclusivos e offshore está prevista para amanhã, terça-feira, com a volta do presidente da Câmara, Arthur Lira, ao país. Esse texto é considerado crucial para a estratégia do governo de reduzir o déficit fiscal o máximo possível no próximo ano.

Vale ressaltar que o cronograma da agenda econômica está cada vez mais apertado, colocando em risco a implementação do novo arcabouço fiscal já em seu primeiro ano de funcionamento, o que é mais problemático do que se esperava. Além disso, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, demonstra otimismo em relação à Reforma Tributária. O relator da reforma, Eduardo Braga (MDB-AM), deverá finalizar o texto ainda esta semana, o que seria um avanço considerável.

Juntamente com os acontecimentos na capital federal, os investidores estão atentos a alguns indicadores econômicos, como o IPCA-15 (a prévia da inflação oficial) de outubro, e ao início da temporada de resultados, que começa nesta semana com empresas como Neoenergia e Romi. Destacam-se também o resultado financeiro do Santander na quarta-feira e da Vale na quinta-feira, após certo desapontamento com o relatório de produção da empresa na semana passada.

Essa temporada de resultados começa por aqui paralelamente à divulgação de resultados de empresas de grande porte nos Estados Unidos. Considerando que nos últimos meses nos afastamos da análise fundamentalista e focamos mais na temática macroeconômica, a avaliação dos números financeiros será crucial para os investidores. Desde que não haja surpresas muito negativas, é provável que os mesmos fatores da última semana continuem a influenciar os resultados, de uma forma ou de outra.

· 01:54 — Para o infinito e além

Nos Estados Unidos, as ações continuam a refletir as mudanças na curva de juros. Na sexta-feira, a taxa de retorno dos títulos do Tesouro de 10 anos chegou a recuar ligeiramente, atingindo 4,928% ao ano, mas na manhã desta segunda-feira, ela subiu para a marca de 5%, algo que não era observado desde 2007. Os rendimentos mais altos a longo prazo estão pressionando as ações voltadas para o crescimento, especialmente nas últimas semanas. No entanto, mesmo nomes mais tradicionais, como os bancos, estão enfrentando dificuldades, principalmente após o último relatório do Federal Reserve sobre os riscos para o sistema financeiro dos Estados Unidos, que mencionou que a inflação persistente nas economias avançadas pode representar riscos para o sistema financeiro global.

Nesse cenário, esta semana trará uma onda de resultados trimestrais importantes, liderada por gigantes da tecnologia como Alphabet, Amazon.com, Meta Platforms e Microsoft. Será a semana mais movimentada da temporada de lucros do terceiro trimestre, com quase um terço das empresas listadas no S&P 500 programadas para divulgar seus relatórios trimestrais. Além disso, fora da temporada de resultados, teremos o anúncio do Produto Interno Bruto do terceiro trimestre na quinta-feira, que deve registrar um crescimento de 3,6% no período, em comparação com 2,1% no segundo trimestre. Esperávamos um terceiro trimestre forte, mas dados acima das expectativas ainda podem afetar o sentimento. O mesmo se aplica ao Índice de Preços de Despesas de Consumo Pessoal de setembro.

· 02:51 — Sem rumo

Nos Estados Unidos, a Câmara dos Representantes ainda não conseguiu eleger um presidente (“speaker”). Jim Jordan, o único candidato restante após a saída de Scalise da corrida, também retirou sua candidatura depois de perder uma terceira votação no plenário da Câmara. Diante do impasse, os republicanos organizaram uma disputa envolvendo nove candidatos para o cargo. Até que um novo presidente seja escolhido, a Câmara não pode avançar com nenhuma pauta. Não está claro quem será escolhido, mas qualquer candidato em potencial precisa do amplo apoio do Partido Republicano, uma vez que os democratas continuam unidos em torno de seu líder partidário. Já se passaram duas semanas desde que Kevin McCarthy foi destituído do cargo, e a falta de unidade entre os republicanos destaca a incerteza que a política americana enfrenta nos últimos anos.

Enquanto isso, o presidente Biden continua a solicitar mais recursos do Congresso. Seu último pedido inclui mais de US$ 100 bilhões, com mais de US$ 60 bilhões destinados à Ucrânia e mais de US$ 10 bilhões para Israel. No entanto, devido à falta de um presidente da Câmara, nenhuma pauta legislativa avança. Tudo isso ocorre em meio à iminente possibilidade de um “shutdown” em novembro. Além disso, o déficit federal dos Estados Unidos em 2023 aumentou em 23%, atingindo 1,7 trilhão de dólares, colocando o país em uma situação fiscal anual mais crítica do que a registrada durante a era da Covid. Uma análise mais detalhada revela que a situação financeira é ainda mais preocupante do que as manchetes indicam, uma vez que não há perspectiva de mudanças significativas no horizonte, e um dos fatores que está pressionando a curva de juros é justamente a deterioração desse cenário fiscal.

· 03:49 — Não haverá cessar-fogo

A Organização das Nações Unidas (ONU) deve promover esta semana uma Assembleia-Geral para discutir o conflito entre Israel e o Hamas, um conflito que continua a exercer pressão sobre os mercados globais. No final de semana, os Estados Unidos, Canadá, França, Alemanha, Itália e Reino Unido emitiram uma declaração conjunta reafirmando o apoio ao direito de Israel à autodefesa, o que poderia ser interpretado como uma autorização para uma futura incursão terrestre israelense, algo que deve ocorrer em breve. No curto prazo, não há indícios de um cessar-fogo iminente, o que aumenta o risco de que o conflito se espalhe por toda a região, o que teria consequências humanitárias trágicas e um impacto significativo na economia global, particularmente com a possibilidade de um aumento nos preços do petróleo.

A questão não é trivial. Qualquer apelo a um cessar-fogo imediato por parte de Israel poderia ser interpretado como uma recompensa ao Hamas, o que poderia encorajar outros grupos terroristas em todo o mundo. Onde há um crime, como os atentados terroristas contra Israel, deve haver uma punição. Mas como é essa punição? Ninguém sabe responder. O ciclo de violência e vingança se retroalimenta rapidamente.

Israel, por sua vez, apoia esforços diplomáticos para garantir a libertação rápida e em grande número de reféns em Gaza, o que pode atrasar ou até mesmo interromper a incursão terrestre. O país também alertou sobre o risco de que o Hezbollah arraste o Líbano para um conflito regional mais amplo. Enquanto isso, o Egito abriu sua fronteira para permitir a entrada de ajuda humanitária em Gaza, mas as saídas para civis ainda permanecem fechadas. A situação é crítica e complexa, com implicações globais.

· 04:37 — A função pedagógica do segundo turno

Com 36% dos votos, Sérgio Massa saiu na liderança nas eleições presidenciais na Argentina e disputará o segundo turno em 19 de novembro com Javier Milei, que obteve 30% dos votos. O resultado foi uma verdadeira decepção para Milei, que adotou um estilo agressivo nas últimas semanas e esperava garantir o primeiro lugar no primeiro turno. O segundo turno desempenha uma função educativa para ambos os candidatos, assim como aconteceu com Bolsonaro em 2018 e Lula em 2022. A razão para isso? Um novo processo eleitoral geralmente obriga os candidatos a adotar posições mais moderadas, afastando o radicalismo de seus discursos. Claro, teria sido melhor se Bullrich tivesse chegado ao segundo turno, mas o resultado não parece o fim do mundo (para os padrões argentinos, claro).

Depois dessa lição de humildade, Milei deve buscar a maior parte dos votos de Bullrich, o que o colocaria virtualmente como o vencedor do segundo turno em novembro. Para isso, no entanto, ele terá que dialogar com o establishment político e fazer concessões. O mesmo se aplica a Massa, que deve suavizar sua agenda kirchnerista, afastando-se das ideias ultrapassadas do peronismo que contribuíram enormemente para a situação atual da Argentina. Em outras palavras, Macri e Bullrich devem desempenhar um papel crucial no segundo turno. Quem conseguir construir uma ponte com o centro provavelmente terá a vantagem. Milei já começou a fazer isso em seu último discurso. No entanto, nenhum dos dois candidatos parece ter a solução para os problemas da Argentina. O populismo e as ideias radicais raramente costumam ser a solução.

· 05:22 — Um juro real gordo

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Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.