Investimentos

Renner: queda nas vendas no 4T22 e horizonte pouco animador; o que fazer com LREN3?

Segundo a companhia, eleições e Copa do Mundo foram determinantes para o volume de vendas aquém do esperado

Por Larissa Quaresma, CFA

17 fev 2023, 17:23 - atualizado em 17 fev 2023, 17:23

Renner LREN3
Imagem: Divulgação/Renner

A Lojas Renner (LREN3) divulgou ontem (16) seus números referentes ao 4T22. Após uma sequência de resultados apresentando forte recuperação, os três últimos meses do ano decepcionaram, desacelerando o ritmo de crescimento

A receita líquida de varejo atingiu R$ 3,6 bilhões no trimestre, queda de 0,2% na comparação anual.

Essa aparente estabilidade mostra, na verdade, uma dinâmica negativa das vendas nas lojas existentes, dado que foram abertas 22 lojas nos últimos 12 meses, o que deveria trazer um incremento importante para o faturamento.

O crescimento das vendas nas mesmas lojas (aquelas abertas há mais de 12 meses) confirma a suspeita: a queda anual foi de 2,5% nesse indicador.

Eleições e Copa do Mundo contribuem para queda nas vendas

Dois fatores foram determinantes para o volume de vendas aquém do esperado, segundo a companhia: menor fluxo nas lojas em função das eleições e Copa do Mundo, e as temperaturas mais baixas que o usual.

Além disso, a pressão inflacionária e menor acesso a crédito pelas famílias também seguem — e assim devem se manter — prejudicando as vendas do varejo de moda. 

A margem bruta da divisão de varejo avançou 0,7 pontos percentuais em relação ao 4T21, fechando o trimestre em 55,7%. O patamar ainda está bem abaixo do pré-pandemia, quando a companhia registrou 58,0% no 4T19. 

O Ebitda ajustado do varejo totalizou R$ 953 milhões, crescimento de 31,7% na comparação anual, com margem de 26,8% (+6,5 pontos percentuais vs 4T21).

Essa evolução, contudo, não está relacionada a uma melhora operacional da companhia. Na verdade, as despesas com vendas, gerais e administrativas no período aumentaram (+5,2%), enquanto a receita decresceu.

Receitas não recorrentes relacionadas a recuperação de créditos fiscais e a reversão da provisão destinada ao programa de participação nos resultados foram os fatores responsáveis pelo crescimento do Ebitda. 

Renner é mais uma a sofrer com inadimplência no 4T22

A Realize, divisão de serviços de financeiros da companhia, também entregou um resultado aquém do esperado, com um Ebitda negativo de -R$ 35 milhões no período.

A carteira de crédito avançou 32,2% na comparação anual e as provisões para inadimplência seguiram deteriorando o resultado, implicando em um percentual de 4,5% de perdas líquidas na carteira total (+1,7 pontos percentuais vs 4T21). 

No consolidado, o Ebitda total ajustado da companhia no 4T22 foi de R$ 919 milhões, alta de 18,4% em relação ao mesmo período em 2021, com margem de 25,8% (+4,0 pontos percentuais vs 4T21).

O lucro líquido, beneficiado pelo crescimento do Ebitda do varejo, atingiu R$ 482 milhões (+15,9% vs 4T21).

LREN3: veja a recomendação da Empiricus Research

Por fim, acreditamos que os próximos trimestres continuarão desafiadores para a companhia e seus pares voltados para a média renda, em função do cenário macroeconômico e da competição das varejistas chinesas.

Além disso, com a deterioração das condições de crédito, a Realize também deve seguir enfrentando dificuldades no curto prazo. 

Apesar do momento operacional ruim e horizonte difícil, seguimos com recomendação neutra para Lojas Renner (LREN3), ponderada pela forte queda de suas ações no último ano.

Atualmente, a companhia negocia a 13 vezes lucros para 2023, 50% abaixo da sua média histórica dos últimos 5 anos.

Continuamos acompanhando a tese de perto, revisando constantemente nossas premissas dado o cenário econômico incerto. 

Sobre o autor

Larissa Quaresma, CFA

Analista de ações há 10 anos, é responsável pela série As Melhores Ações da Bolsa e pela carteira mensal Empiricus 10 Ideias, além de integrar a equipe da Carteira Empiricus, o portfólio multimercado da casa. Ao longo da carreira, teve passagens pela Núcleo Capital, tradicional fundo de ações brasileiro, e pelo Credit Suisse. Administradora formada pelo Ibmec-MG, aluna visitante da Stanford University e com certificações CFA, CNPI e CGA.