Investimentos

S01E02 – Game Over

Por mais louco que seja, Alexandre, nosso analista com cara de mau, sabe que não dá pra sair por aí sem proteção. Entenda porque proteger seus investimentos é tão importante quanto proteger outros itens de seu patrimônio.

Por Alexandre Mastrocinque

07 nov 2016, 11:08

Férias em Chicago. Frio. Neve. Muita neve. Um passo em falso, estalo forte. Dor, muita dor. Tchau, fêmur! Você corre para o hospital mais próximo, vai ter que operar – lá se vão dezenas de milhares de dólares e o carro novo vai ter que ficar pra depois.

Seu filho pega o carro novo pra levar a namorada pra casa. Alguns minutos depois, toca o telefone. Uma BMW parou do nada e ele não viu. Dezenas de milhares de reais se vão e a viagem pra Chicago fica pro ano que vem.

Sua mãe liga no meio da noite; seu pai acordou suando, com dores no peito. Anos de sedentarismo e aqueles dois maços por dia cobraram a conta. Duas safena e uma mamária. No mínimo quatro dias na UTI e mais outros quatro no hospital. Centenas de milhares de reais se vão e, com eles, a viagem pra Chicago e o carro novo. Também se foram a faculdade dos meninos e aquela casa na praia.

Game Over!

Você acaba de perder o Jogo da Vida.

Desculpem-me estragar o fim de domingo com histórias tristes, mas o mundo é cheio de contratempos e é exatamente por ouvir histórias como essas que as pessoas contratam seguros e planos de saúde.

Mesmo que aqueles 200 reais pagos pelo seguro viagem quase sempre sejam um dinheiro “jogado fora”, representa muito pouco dentro do orçamento total da viagem. Vale a pena pagar só pra ter férias mais tranquilas.

Um bom plano de saúde impede que você perca o Jogo da Vida e tenha que começar tudo de novo. Mesmo que você seja jovem, saudável e nunca o use, é um dinheiro bem empregado. É sua garantia de um bom atendimento médico, é a tranquilidade para entrar em uma dividida naquela pelada de domingo.

E o seguro do carro? Bom, sobre esse, nem preciso falar. Acho que a grande maioria das pessoas já usou o seguro do carro em algum momento da vida…

Mas, se os seguros do dia a dia são praticamente consensuais, por que há tanta resistência quando falamos sobre seguros no mercado financeiro?

Por que as pessoas têm tanta aversão a comprar uma put fora do dinheiro, ou diversificar em ouro e câmbio?

Isso acontece porque as pessoas até conseguem avaliar riscos cotidianos, mais frequentes, de forma mais ou menos adequada. A grande dificuldade está em avaliar os eventos extremos. Estamos sempre subestimando a probabilidade de catástrofes. Somos “desenhados” para sermos otimistas.

Não se culpe. Como todo o processo evolutivo se baseia em tentativa e erro, esse otimismo é uma característica extremamente vantajosa do ponto de vista darwiniano. É preciso relevar alguns riscos para sair da caverna, caçar, acasalar, desbravar o Atlântico e chegar à Lua.

Sem um pouco de coragem, ainda seríamos animais assustados dentro de cavernas escuras e frias.

Mas, a verdade é que, com muito mais frequência do que gostamos de acreditar, o “mundo acaba”.

Sem pensar muito, posso citar alguns eventos que causariam grande estrago no mercado brasileiro: a delação de Eduardo Cunha pode atingir o centro do governo Temer; o TSE pode cassar a chapa Dilma-Temer; Trump pode ser eleito nos EUA; Putin pode arrumar alguma confusão na Síria, e por aí vai.

Se você acha que nada disso vai ocorrer, lembre-se de quais eram as previsões sobre o Brexit há alguns meses.

E esses são apenas eventos que estão no radar. O que realmente pega o mercado são aquelas notícias inesperadas. Quem poderia prever o 11 de setembro, a quebra do Lehman Brothers, o desastre de Fukushima ou mesmo a invasão do Kuwait e o início da Guerra do Golfo?

Quantas vezes, nos últimos 30 anos, tivemos eventos extremos que mudaram o mundo? É ingenuidade achar que seus investimentos estão seguros e que a bolsa vai subir só porque o Meirelles está colocando ordem na casa.

Só uma ressalva: apesar de minha cara de mau e da temática dessa newsletter, eu não estou torcendo pelo fim do mundo, pela eleição do Trump ou pela vingança do Cunha!

Veja! Preparar-se para a catástrofe não quer dizer torcer por ela.

Ninguém quer quebrar a perna e nem vai bater o carro para ferrar a companhia de seguros. Simplesmente sabemos que esse tipo de coisa acontece e, por isso, nos precavemos.

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Dito isso, meu conselho é simples: proteja seus investimentos da mesma forma que protege seus outros ativos.

O melhor de tudo é que o otimismo do mercado joga a seu favor! No mercado, seguros custam pouco e valem muito!

Como o mercado não avalia bem as probabilidades de eventos extremos, quase sempre é possível comprar diferentes tipos de proteção ( hedge) por bem menos do que realmente valem.

Quem assistiu à “Grande Aposta”, filme baseado no livro homônimo de Michael Lewis, deve se lembrar dos dois moleques amigos do Brad Pitt que ficaram milionários explorando esse “defeito” do mercado.

A frase exata que uma das personagens fala durante o filme é a seguinte: “As pessoas odeiam pensar sobre coisas ruins acontecendo; então, elas sempre subestimam sua probabilidade”.

Pois bem, os dois moleques são baseados em investidores reais que, de fato, se deram muito bem ao identificar e explorar esse tipo de estratégia.

Muitos julgam que a característica mais marcante de Luis Stuhlberger (provavelmente, o maior gestor brasileiro) é sua capacidade de identificar as melhores oportunidades para hedgear (proteger) suas posições.

Você pode ler diversas histórias sobre o “mito da criação” do Verde, fundo gerido por Stuhlberger, mas, invariavelmente, as versões costumam enfatizar como ele estava cheio de contratos futuros e opções de compra de dólar em todas as grandes crises cambiais brasileiras desde 1999, ano da maxidesvalorização do real.

Será que ele sempre compra na hora exata, um pouco antes de dar m@#$ por aqui?

Não é mais razoável pensar que o Verde passa o tempo todo carregando proteções baratas que se provam muito valiosas em momentos de estresse?

Pois bem, quem sou eu para discutir com o mestre do mercado brasileiro!?

Observe na prática como carregar seguros pode te ajudar.

Note como, entre maio de 2015 e janeiro de 2016, a Bolsa brasileira apresentou um recuo de 33 por cento, contra uma valorização de 32 por cento da moeda norte-americana. Fica claro que, se uma parte de sua carteira estivesse aplicada em um fundo cambial, por exemplo, você estaria bem menos exposto à queda da Bolsa e teria reduzido consideravelmente suas perdas.

Recentemente, Luciana, a melhor analista de fundos não imobiliários da Empiricus, soltou um relatório explicando justamente quais as melhores formas de aplicar em fundos cambiais e de ouro. É uma ótima forma de começar a entender como proteger-se de eventos extremos.

Mas, independentemente de qual fonte de informação você for utilizar, eu insisto: informe-se, pesquise, aprenda sobre o tema!

Se o grande conselho do Baz Luhrman para a humanidade foi “usem filtro solar”, vou fazer com que meu legado seja: “Usem proteção, o tempo todo!”

Não dá pra ficar em casa por medo de morrer atropelado, mas seria loucura não olhar pros dois lados antes de atravessar a rua!

 

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Formado em Economia pela FEA-USP e Contabilidade pela PUC-SP, atua no mercado financeiro há mais de dez anos. Ávido por análises e discussões, sejam sobre futebol, política, ou o mercado de capitais, segue sempre estudando e caçando o valor escondido dos ativos.