A semana tem sido intensa em notícias do setor de óleo e gás, com a série de mudanças promovidas pelo governo.
Primeiro, o governo aprovou a volta parcial do PIS/Cofins sobre os combustíveis, algo que já era esperado, como forma de equilibrar as contas nacionais.
Essa volta tem um efeito neutro para a 3R Petroleum (RRRP3), que não vende combustível, mas, sim, óleo e gás crus às refinarias nacionais.
Então, para compensar as alíquotas ainda reduzidas de PIS/Cofins, o governo anunciou a criação de um imposto sobre exportações de óleo cru, à alíquota de 9,2%.
Ações da PetroRio, Petrorecôncavo e 3R caem após medida
A possibilidade de criação dessa taxa já vinha sendo ventilada pelo governo; mas, ainda assim, o mercado penalizou as ações do setor: no dia seguinte ao anúncio, PetroRio (PRIO3), Petrorecôncavo (RECV3) e 3R Petroleum (RRRP3) caíram 9%, 6% e 7%, respectivamente.
No caso de PetroRio, a queda nos parece ter um certo sentido, já que a companhia exporta mais de 95% da sua produção de óleo e gás.
Já nos casos da Petrorecôncavo e da 3R, toda a produção é vendida no mercado interno. Portanto, a penalização nos parece excessiva para RECV3 e RRRP3.
Paralisação do processo de compra do Polo Potiguar é ameaça para a 3R?
Então, em um segundo momento, o Ministério de Minas e Energia (MME) enviou um ofício à Petrobras solicitando a paralisação, por 90 dias, dos processos de venda de ativos.
A Petrobras informou que seu Conselho de Administração avaliará todas as vendas em curso, analisando os compromissos já assumidos, suas cláusulas punitivas e riscos jurídicos da reversão do processo.
Essa mudança, sim, tem um impacto direto sobre 3R, que comprou o Polo Potiguar da Petrobrás e aguarda as transferências de licenças para assumir o ativo, o que estava previsto para o primeiro semestre deste ano.
Esse ativo, que inclui uma reserva 2P de 229 milhões de barris de óleo, uma refinaria e um terminal de exportação, dobraria a produção da companhia.
Entretanto, o cancelamento da venda de Potiguar ainda não nos parece óbvia.
A 3R assinou o contrato de compra há um ano e inclusive já fez parte do pagamento pelo ativo. Resta somente a transferência das licenças ambientais e concessões de exploração para a companhia, a última etapa da transição operacional do ativo.
A essa altura do campeonato, reverter esse processo seria “rasgar um contrato” que foi assinado há um ano – e a Petrobras não tem essa tradição, mesmo em meio às várias transições de governo pelas quais a estatal passou.
Ação foi excessivamente castigada
Ainda assim, a penalização do mercado, mais uma vez, foi severa: as ações da 3R caíram mais 11% no pregão seguinte ao ofício do MME.
Com isso, no agregado, o papel caiu 18% com o conjunto de notícias, o que nos parece exagerado.
Rodamos algumas análises de sensibilidade, e concluímos que os R$ 33 de RRRP3 precificam um cenário em que a companhia pagaria por Potiguar, mas não levaria o ativo para casa, o que nos parece bem improvável.
Mesmo no cenário em que a venda do ativo seja cancelada, no mínimo, a 3R não pagaria pelo restante do ativo, e provavelmente a Petrobras teria de ressarcir a companhia pelos pagamentos já realizados – o que não seria barato, já que Potiguar foi comprada por US$ 1 bilhão no total.
Veja o preço-alvo da 3R nos dois cenários
No nosso cenário-base, assumimos que a companhia terá sucesso na compra do Polo Potiguar, embora saibamos que a probabilidade se reduziu: se antes ela era de 90%, agora ela deve ser algo como 60%.
No cenário-base (sucesso na compra), temos um preço-alvo de R$ 55 para RRRP3, 69% acima do preço atual. No cenário de não haver sucesso na compra, estimamos o preço-alvo em R$ 45, o que ainda está 38% acima do preço atual.
Sendo assim, mantemos nossa recomendação de compra para RRRP3.